Já vai um bom tempo desde que as pessoas se reuniam em alguma esquina de seus bairros para rolarem um bom bate-papo. Tais encontros aconteciam aos domingos, geralmente depois da última missa matinal. Grupos de jovens se encontravam em pontos, geralmente na confluência das ruas principais da região em que residiam. Isso comumente ocorria ao entardecer com as conversas se estendendo noite adentro.
Na atualidade o computador virou esquina, esquina do mundo onde a juventude curte amizades sem nunca ter contato pessoal com seu interlocutor. Acabou o calor humano das conversas tête-à-tête, hoje até pode haver discordância de opiniões. Todavia as confabulações via internet são frias, com apenas um click a discórdia não vinga. Se bem que por esse meio de comunicação os jovens conseguem reunir multidões, em locais adrede combinados. Um dos exemplos aconteceu na festa do réveillon fora de época realizado na Praça da Espanha.
Curitiba tem na atualidade uma série de locais onde o povo se encontra. Entretanto casualmente, em paragens como os parques onde, nos dias de semana, frequentadores fazem suas caminhadas ou corridas. Porém o contato fica mais na cortesia de um bom dia ou boa tarde.
Muita coisa ajudou para desmanchar os velhos congraçamentos das turmas de esquina. Por exemplo, o desaparecimento dos cinemas de rua: hoje todos estão confinados em salas instaladas nos shoppings da cidade e são mais seguros. Mais seguro ainda é ficar em casa, curtindo programas na tevê. Vários acontecimentos colaboraram para tais confinamentos, além da falta de segurança que impera não só em Curitiba, mas pelo país afora.
O ponto de encontro mais tradicional que a cidade possuía era a Rua 15 de Novembro, quando ainda contava com o trânsito dos automóveis. O footing aos domingos era uma tradição que vinha desde o final do século dezenove. No início da década de 1970, ela tornou-se exclusiva à circulação de pedestres, e em pouco tempo a rua morreu. Aos domingos, quem ia ver e ser visto desapareceu. Abandonada a Rua 15, a escolha recaiu na Avenida do Batel, que aos domingos, de 1973 até o início da década de 1990, fervilhava de jovens, que ficavam desfilando em toda a extensão, tanto a pé como nos automóveis. Esses últimos causavam congestionamentos fenomenais, obrigando até o transporte coletivo a mudar de itinerário.
Os usos e costumes vão desaparecendo do meio urbano, conforme os próprios usuários vão deixando de existir e, com eles, as memórias da cidade também se apagam. As coisas tradicionais como as visitas de domingo, a boa vizinhança que existia nas conversas ao pé das cercas, a troca de gentilezas entre os moradores do quarteirão são coisas do passado, de um passado que desvanece a cada novo dia. Hoje, quando relembro os costumes do meu tempo de mocidade, jovens se admiram e exclamam: "Não me conte! Então a vida era assim?" "Deviam ser bem melhores aqueles tempos". Só posso afirmar: "E como eram!"
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