Officina Central de Manuel Laffitte. A bicicletaria aparece com seus fregueses à frente. Assinalado temos Francisco Serrador – o pioneiro do cinema em Curitiba| Foto:
Fachada do Cine Central, no início da Rua XV, em 1919
Interior do Cine Central, também em 1919. Note as crianças tapando os ouvidos em razão da explosão do pó de magnésio para gravar a fotografia
Cine Parisiense, na Praça Generoso Marques. Foto de 1916
Cine Mignon ficava anexo ao Café Brasil na Rua XV. Foto de 1913
Cine Smart, na Rua XV de Novembro, em 1912. Pertencia a Annibal Requião
No dia 16 de janeiro a Nostalgia publicou
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No domingo passado, mostramos na Nostalgia o início do cinema em Curitiba, com a instalação da primeira sala de projeção pelo espanhol Francisco Serrador, em 1904, no Coliseu Curitibano. Como é que surgiu o Coliseu, que nada mais era do que um parque de diversões? Sua origem não deixa de ser um fato curioso. Para saber como foi temos de mergulhar no tempo para descobrir a procedência. Vamos dar uma chegadinha no ano de 1900.

Curitiba possuía um meio de locomoção rápido que cruzava a cidade em todos os quadrantes, percorria as distâncias da urbe através de ruas, vielas e estreitos caminhos de terra. Isso bem antes de surgir o primeiro automóvel a espocar pelas alamedas da ainda quase vila.

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O veículo de grande uso então foi a bicicleta. Ter uma era sinal de status social. Já em 1895 existia um clube de ciclistas, criado por elementos da coletividade alemã local no intuito de promover passeios e convescotes pela área rural da cidade. Deixando o lazer de lado, os cidadãos mais práticos usavam as magrelas nos seus direitos de ir e vir, com maior rapidez.

Não demoraram a surgir, por necessidade, oficinas para consertos e reposição de peças para as bicicletas. Não foram só os descendentes germânicos que adotaram tal condução. Outras etnias entraram na dança das duas rodas. Entre elas estavam italianos, espanhóis e poucos nacionais. Muito bem. Manuel Laffitte, espanhol, que já havia promovido espetáculos de touradas onde hoje é a Praça Santos Andrade, resolveu abrir sua oficina de bicicletas, dando o nome de Officina Central. Uma única porta que vizinhava com outra onde se prestavam serviços de muita procura na época, pelo que indicava o cartaz na parede externa: Engomadora Con Lustro.

Eram fregueses da officina do Laffitte: Francisco Serrador, Antonio Gadotti, Francisco Zanicotti e Sperandio Domingos Foggiatto, entre outros. Os personagens citados fariam parte do pioneirismo da instalação dos primeiros cinemas de Curitiba, liderados por Francisco Serrador, que, em sociedade com Laffitte e Gadotti, inaugurou o primeiro cinema da cidade dentro do Coliseu Curitibano.

Francisco Zanicotti abriria, mais tarde e com ajuda de Serrador, o Cine Parisiense. O espanhol distribuía filmes para várias cidades do interior estando na época instalado em São Paulo. Vamos encontrar, no final da década de 1910, Zanicotti associado com Domingos Foggiatto operando os cines Central, antes Éden, no início da Rua XV de Novembro. O América, instalado no barracão que foi caserna do Tiro Rio Branco, onde hoje está o Banco do Brasil no lado da Rua Dr. Murici, e o primeiro cine retirado do centro, o Floriano que ficava na Rua Marechal Floriano entre as ruas Iguaçu e Silva Jardim. Das reuniões ocorridas na officina de bicicletas do Laffitte surgiram os primeiros cinemas de Curitiba. No limiar da década de 1910, Annibal Requião, fotógrafo e pioneiro da cinegrafia no Paraná, instala o Cine Smart na Rua XV de Novembro, onde também explora a Casa Victrix, em que vende vitrolas, discos e partituras musicais. Requião filma os acontecimentos importantes ocorridos na cidade e os projeta em seu cinema durante a década de 1910. Infelizmente, a imensa quantidade de filmes foi mandada à cinemateca paulista para serem copiados, lugar em que um violento incêndio consumiu com a nossa memória cinematográfica do começo do século passado.