Fotografia feita em torno de 1870, que nos mostra como era o local onde hoje existe a Praça Carlos Gomes. Em primeiro plano aparecem uma lavadeira e algumas pessoas na margem do Rio do Ivo; ao fundo, a antiga Matriz de Curitiba| Foto:
A mais antiga imagem que se tem da Rua das Flores, também feita por volta de 1870. Para localizar o ambiente temos de imaginar que estamos de costas para a atual Rua Monsenhor Celso e olhando em direção à Rua Barão do Rio Branco
Nesta imagem voltamos à Rua das Flores, no ano de 1877, onde vemos, ao lado direito, o sobrado onde estava instalado o Palácio do Governo, que ficava na esquina da atual Rua Barão do Rio Branco. A vista foi tomada em se olhando para o oeste. Devia ser data festiva, em razão das guirlandas estendidas sobre a rua
Foto tomada do que hoje é considerado como Setor Histórico, isto porque existe a maior preservação de casas antigas no conjunto. Em primeiro plano, vemos o poço de água cercado por pilares e que era de serventia, tanto para os moradores como para os animais de tração e montaria. Temos ainda um quiosque, uma espécie de banca onde se vendiam rapaduras e passarinhos, além de ser local para uma fezinha no jogo do bicho. Foto de 1908
CARREGANDO :)

O velho Lulo sapateiro, meu pai, tinha uma filosofia de vida: "As pessoas preferem ouvir histórias criadas pela imaginação, em contraponto à verdade dos fatos". E tinha plena razão, foi um grande contador de histórias e causos – era um verdadeiro Barão de Münchausen do bairro do Batel. Apeteceu ao destino que seu filho, o degas aqui, por contingências acabasse lidando com fatos históricos da sua cidade natal, Curitiba.

Muitas vezes até sinto algum remorso por não ter seguido a filosofia paterna, cuja sapataria foi batizada pelos frequentadores como sendo a Academia da Men­­tira do Batel. Para mim a realidade é mais importante que a lenda, apesar da mitologia ser mais palatável e também, na maioria das vezes, ser muito mais encantadora do que a dureza de um registro documental.

Publicidade

A fundação, o nascimento e a lenda da formação do núcleo humano que um dia chegou a esta imensa e estimada cidade, que é Curitiba, tiveram seu começo em 1654, quando Ébano Perei­­ra comunica ao reino de Portugal que havia fundado as vilas de Curitiba e Iguape. Catorze anos depois, em 18 de novembro de 1668, foi erigido o Pelourinho, na presença dos habitantes da vila, pelo capitão-mor Gabriel de Lara, que convencionou ficar como capitão povoador, uma espécie de interventor, Matheus Martins Leme. Realmente, Matheus Leme dirigiu a vila com a sua justiça pessoal por vinte e cinco anos, foi então, quando envelhecido, que o povo solicitou que se elegessem a vereança e a justiça. Isto aconteceu em 29 de março de 1693 – data, então, a ser comemorada pela Câmara Municipal como a da sua criação.

Logo no começo do século passado, ficou convencionado, por historiadores e outras autoridades, que esta seria a data da fundação da vila de Curitiba. Sendo desprezadas as declarações de Eliodoro Ébano Pereira e a própria ereção do pelourinho, este era o símbolo da presença da autoridade do rei de Portugal. Perde-se ainda no tempo a lenda da imagem da santa que, num acampamento de mineradores no Atuba, aparecia com a fronte virada para o oeste. Ali, estava o sinal!

Os homens brancos, então em grupo, são conduzidos por um índio da tribo dos tinguis, o cacique Tinguicuera. Seguiram a indicação da imagem da santa e atingiram ao local onde hoje está a Praça Tiradentes. Ali chegados ouviram do indígena, que fincava seu bordão no chão, a frase: "Taki keva!", que, segundo o historiador Romário Martins, também emérito criador de lendas, queria dizer: Eis o lugar! Ou então: Este é o lugar! Não deixa de ser uma bela história lendária, a imagem de Nossa Senhora se virando todos os dias mostrando que o Atuba não era o lugar e, en­­tão, o grupo de brancos é conduzido pelo índio que enfia o varejão na terra mostrando onde a santa desejava que se criasse o povoado. Em tempo: a lenda de Romário ainda informa que a vara do cacique criou raízes e tornou-se uma bela árvore florida.

Pois é, ainda bem que estamos vivendo numa cidade cheia de histórias e muitas lendas, muita gente procurando misteriosos túneis que ligavam localidades construídas em épocas diferentes, e mesmo as que nem chegaram a serem edificadas como é o caso das chamadas Ruínas do São Francisco, uma igreja inacabada que nada tem a ver com os jesuítas, que já haviam sido expulsos do Brasil em 1760, sendo que as tais ruínas foram iniciadas nas primeiras décadas de 1800. Temos ainda os famosos túneis do bairro das Mercês, onde funcionou um leprosário no final do século 19 e que foi posteriormente transferido para a Ilha das Co­­bras. Tais túneis serviram para criar a lenda do pirata Zulmiro, que ali morou e que possuía um fabuloso tesouro.

Para os aficionados em histórias mirabolantes, a nossa cidade era varada por túneis e caminhos subterrâneos que ligavam as localidades mais esdrúxulas, como se entre elas as uniões tinham que ser secretas, onde não deixavam de ser atribuídas às seitas religiosas, à maçonaria e outras sociedades secretas, dando a impressão de que a população de Curitiba tinha a demência de imitar os tatus, se comunicando pelo subsolo. Tal mania parece não ter desaparecido de todo. Vejam-se as tentativas alimentadas através dos anos de se instalar aqui o transporte da população via metrô.

Publicidade

Aos leitores que gostam de histórias e lendas sobre a vida de Curitiba posso afirmar que na internet existe muita coisa. Algumas são narrativas sérias, mas, infelizmente, existe muita lorota o que torna tais informações sem méritos de confiabilidade, que se frise: principalmente para consultas de escolares.

Para ilustrar a Nostalgia deste domingo, colocamos algumas fotos mais antigas da cidade e já publicadas em outras ocasiões. Entretanto, elas valem como imagens raras, algumas delas com mais de 150 anos de existência.