O noticiário explodiu em toda a mídia: Lula está com câncer na laringe! Assunto comentado em todos os escalões: É curável! Cruz, credo; coitado! Viu? O efeito da cachaça e do fumo? E vão por aí adiante os comentários sobre a doença do ilustre político. Como uma coisa puxa outra, nos vem à lembrança o caso ocorrido aqui no Paraná, mais precisamente em Curitiba, há mais de cem anos, também com um político de grande prestígio.
Jovem, recém-formado na Academia de Direito de São Paulo, com 21 anos de idade, Vicente Machado da Silva Lima assume o cargo de promotor público em Curitiba, no ano de 1881. Nascido em Castro, em agosto de 1860, iria ter uma carreira brilhante e polêmica na vida pública do Paraná, apesar de breve.
Aos 22 anos já exercia o cargo de secretário de governo na presidência de Carlos de Carvalho. Aos 26 anos foi eleito deputado provincial, função exercida entre 1886-89. Com a Proclamação da República, veio a ser deputado estadual no biênio 1891-92. Em 1893 foi eleito vice-presidente do estado, na chapa de Xavier da Silva. Por motivos de saúde deste, veio a assumir a presidência do Paraná pela primeira vez. Tinha então 33 anos.
Foi nessa época que Vicente Machado participou de um dos períodos efervescentes da História do Brasil, quando eclodiu a Revolução Federalista contra o governo de Floriano Peixoto. As tropas gaúchas avançaram em direção ao Norte e, em janeiro de 1894, já estavam entrando em território paranaense. No dia 18 de janeiro, Vicente Machado e grande comitiva abandonam Curitiba em direção a São Paulo. No dia 20, a cidade caiu em poder dos maragatos.
Com a retirada dos invasores, Vicente Machado retornou ao governo no início do mês de maio, quando já comandava as tropas do Exército em Curitiba a figura estranha do general Ewerton Quadros. No dia 20, o Barão do Serro Azul foi fuzilado com mais cinco companheiros na Serra do Mar, à margem da Estrada de Ferro. A população curitibana apontava como mandante da chacina o próprio Vicente Machado, este transferia a acusação ao comando da Região Militar. Foi defendido de tal incriminação pelo seu companheiro de partido, o deputado padre Alberto Gonçalves.
Vicente Machado foi eleito deputado federal e senador nos anos seguintes a 1895. Em 1904 foi eleito presidente do estado do Paraná, tendo como vice o médico João Cândido Ferreira. Pouco tempo ficou no cargo, pois em 1905 um câncer surgiu em sua garganta, quando então fez a sua primeira viagem à Europa em busca de tratamento. Na sua volta, foi efusivamente recepcionado, tendo as ruas da cidade enfeitadas com arcos, desde a Estação da Estrada de Ferro até a sua casa, na Rua Comendador Araújo, esquina com Coronel Dulcídio. Em 1906, a doença se agravou e Vicente Machado fez a sua segunda viagem à Europa.
Em todo esse tempo, no seu impedimento, quem governou o estado foi o vice, Dr. João Cândido. No dia 3 de março de 1907, Vicente Machado sucumbiu em sua casa, sendo enterrado no dia seguinte no Cemitério Municipal, com grande acompanhamento do povo. O ilustre e polêmico político tinha então pouco mais de 46 anos.
Nos primeiros anos após seu falecimento era lembrado, inclusive com préstitos de associações e escolares ao seu túmulo. Em 1936, chegou-se a cogitar sobre a construção de um monumento em sua memória. Entretanto, somente sobrou a homenagem que leva seu nome em uma das ruas de Curitiba: a Avenida Vicente Machado, anteriormente denominada Rua Campos Gerais.