Muita história já ouvi nessas mais de sete décadas de existência. No meu tempo de piá era comum ouvir as nomenclaturas antigas de certas ruas da cidade, assim como fatos ocorridos com gente importante da sociedade local. Uma tia-avó que foi babá dos filhos do Francisco Serrador, no começo do século passado e mais tarde exerceu funções domésticas para a família Gomm, tinha muitas narrativas interessantes.
Em serões ao pé de fogão a lenha em noites de inverno, escutei muita história e muitos causos. Soube, por exemplo, que meu avô Jerônimo, o polaco, havia por um tempo morado na chácara de Francisco Torres filho de Mariano Torres. Esta chácara ficava onde hoje está o Teatro Guaira. A família Torres possuía diversas propriedades na região ocasionando que tanto Francisco como Mariano Torres tem seus nomes batizando ruas naquele espaço.
O que me intrigava, no entanto, era o fato dos meus pais se referirem, por exemplo, aos nomes antigos ou populares para certos logradouros como a Praça Ouvidor Pardinho a qual se referiam como o Campo da Cruz. Tal denominação se dava ao fato da comemoração dos 400 anos da descoberta do Brasil, isto em 1900, ali ter sido comemorado com uma missa realizada abaixo de uma enorme cruz de madeira. A tal cruz ficou ali por largo tempo e granjeou o batismo popular para o aludido campo.
Outra denominação usada quando se referiam a Praça Senador Correia, onde hoje está instalada a Rodoviária Velha e a Igreja de Guadalupe, era como sendo o Largo do Ventura. Nome esquisito para a compreensão infantil, o que era o tal de Ventura? Quem procura acha, diz o ditado. O Ventura era mais um personagem da família Torres.
Joaquim Ventura de Almeida Torres, nascido em Paranaguá em 1831. Foi coronel da guarda nacional e apesar de ser dono de grande espaço de terrenos na região da atual Praça Senador Correia, sua moradia na maior parte da vida foi no Rio de Janeiro, onde morreu em 1905. Seu nome aparece na negociação de um lote de terra que vendeu, seguido pelo apelido de Juca Tamanqueiro. Seria ele fabricante de tamancos? Mais um mistério na história curitibana.
O Largo do Ventura foi por muito tempo um espaço abandonado entre as ruas João Negrão, André de Barros e Pedro Ivo. Durante a prefeitura de Ney Braga, em 1956 ali foi construída a primeira Estação Rodoviária de Curitiba, tendo o seu entorno sofrido os melhoramentos necessários. Da Praça Senador Correia não resta praticamente nada, além do nome. E o velho Largo do Ventura será lembrado como mais uma das histórias lendárias da velha Curitiba.