O prédio da UFPR e a neve de 1975
A grande preocupação que afeta a maioria dos seres humanos é deixar gravada a sua permanência na face da terra, principalmente depois de ter os sete palmos da mesma sobre a sua carcaça. De todas as maneiras, o homo sapiens começou a registrar a sua presença no planeta, há 40 mil anos passados com pinturas rupestres nas cavernas onde morava.
Paulatinamente, ao mesmo tempo em que adquiria cultura, a vaidade se impunha e surgiram monumentos dos quais alguns ainda existem, como as pirâmides do Egito, assim como outras obras gregas, romanas, incas e astecas. Muitos se fizeram lembrar pelos feitos militares; outros fixaram as filosofias e abstrações das religiões. Símbolos surgiram para definir conceitos e atitudes, impor pela fixação visual o que necessitavam representar. Dois exemplos mais decisivos: a cruz do catolicismo e a suástica nazista. Cristo é eterno e Hitler jamais deixará de existir na história do mundo.
Como Curitiba faz parte desse mundão cheio de vaidades, não poderia passar batido, deixando de analisar e citar as nossas presunções provincianas. A professora Maria Nicolas, mestra historiadora, publicou alguns livros que os denominou como: A Alma das Ruas. A obra consiste em contar o significado dos nomes das ruas da cidade e discorrer os feitos dos personagens homenageados. Muitas vezes ouvi de dona Maria a seguinte queixa: "Fico sem condições de arrazoar um texto sobre alguém em cuja vida foi uma pessoa muito boa, religiosa, nunca praticou qualquer ato ilícito, extremoso pai de família e que morreu na santa paz do Senhor".
Pois é, dona Maria! Pai extremoso com vasto número de descendentes, obviamente todos portadores de títulos de eleitores. Eis a razão do nome da rua.
O que está escrito acima foi um preâmbulo para o que se segue: na Coluna do Leitor da Gazeta do Povo do dia 30 de março aparece uma queixa de Carlos Roberto Antunes dos Santos, ex-reitor da UFPR, sobre uma publicação feita para o aniversário de Curitiba: "... lamento profundamente a ausência de qualquer referência ou citação em relação ao prédio histórico da UFPR na Praça Santos Andrade. Não custa lembrar aos senhores que esse prédio, com toda sua historia, simbologia e identidade e tudo mais que representa, foi eleito em 2001 pela população curitibana como Símbolo de Curitiba, vencendo o Jardim Botânico e outros símbolos".
Realmente dou razão ao ex-reitor. Não custa lembrar, no entanto, que na época, dez anos passados, foi feita uma tentativa de se eleger como símbolo da cidade uma das obras do ex-prefeito Jaime Lerner e que nas cédulas de votação sequer constava o nome da nossa Universidade seria uma eleição Mandrake, adrede preparada. Entretanto, aqui neste espaço da Nostalgia, levantamos o fato desse símbolo já existir e que era o prédio da Universidade. O então nosso diretor, jornalista Francisco Cunha Pereira Filho, de saudosa memória, moveu uma campanha pelas páginas da Gazeta do Povo, o que obrigou constar o prédio da UFPR nas cédulas de votação. O apelo e a lembrança foram atendidos e a população que votou escolheu como símbolo de Curitiba, por esmagadora maioria, o prédio histórico da Universidade.
Tal acontecimento feriu a vaidade do ex-prefeito, assim como do grupo que havia entabulado tal promoção, tendo como favas contadas que ganharia aquela gaiola do Jardim Botânico. Aliás, tal aspiração já vinha sendo executada desde que em outra consulta popular, na qual foi testa de ferro o pároco de uma igreja, foi conseguido mudar-se o nome do tradicional Bairro do Capanema para Jardim Botânico. Com a derrota, a persistência continuou, principalmente, em cima do tal horto, em todas as publicações patrocinadas que divulgam Curitiba. Acredito que queiram vencer pela teimosia, persistência que lembra um tanto o lema usado por Joseph Goebbels "... até se tornar uma verdade".
Os cidadãos se deparam todos os dias e em todas as partes com as tentativas arrogantes de gente que deseja ser lembrada eternamente. Reinauguram obras já existentes só para colocar placas de bronze, cuja eternidade termina num forno de fundição. O esquecimento de suas existências é o maior castigo que apavora tais presunçosos, mais, até, que as labaredas do inferno.
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