As conversas entabuladas nos bares e cafés da vida, geralmente, acabam em relembranças dos tempos já vividos. De tempos já venho sendo instado a escrever alguma coisa mais volumosa sobre o bairro do Batel, onde nasci e vivo até hoje. Entre os que me cobram tal empreitada está o José Maria Garmatter, antigo frequentador da Churrascaria e Parque Cruzeiro, ambiente tradicional do Batel e que desapareceu há quase vinte e cinco anos.
Tenho de retornar aos meus 5 anos de idade, piá guloso que frequentava o bar da churrascaria em busca dos sorvetes que o velho Germano Kundy preparava na sorveteira, sempre com um charuto baiano entre os dentes. O tal sorvete era uma delícia, apesar de não chegar nem perto dos cremosos de hoje em dia.
Era o início da década de 1940, a guerra estava comendo solta na Europa. No Batel, o único barulho que se ouvia mais intenso era causado pelos bondes elétricos ao rolar pelos trilhos. No pós-guerra o bairro foi crescendo devagar, as indústrias mais importantes que por ali existiam eram os engenhos de beneficiar erva-mate e as duas fábricas de macarrão, a Todeschini e a Turin; havia também a fábrica Kosmos de cera e graxa para sapatos, as duas padarias, uma da família Bürgel e outra do Drongeck; as importantes fábricas de cervejas Cervejaria Providência e Cervejaria Cruzeiro. Ambas possuíam bosques, onde se realizavam festas particulares.
Mais antiga, inaugurada ainda no século 19, a Cervejaria Cruzeiro possuía um bar, onde eram degustados seu produtos. Esse bar preservou suas características através de décadas, até desaparecer em meados de 1980. Nos fundos, existiam dois barracões, e num deles funcionou talvez o primeiro clube de bolicheiros da cidade: o Batel Boliche Clube. No outro barracão, estava instalada a churrascaria, onde, além do filé, era servida uma das mais apreciadas iguarias: a famosa costela de ripa, sempre acompanhada de saladas; a de batatas foi a mais famosa que existiu em Curitiba.
Frequentei aquele ambiente até o seu fechamento, quando foi deflagrado um movimento pela imprensa e pelos meios culturais para que tal encerramento não ocorresse o que infelizmente aconteceu. A estrutura do velho prédio ainda está lá, apesar de o ambiente ter sido totalmente descaracterizado. Resta aos saudosistas apenas a nostalgia dos bons tempos em que funcionou ali uma das melhores churrascarias que já existiu em Curitiba, tendo apenso o seu não menos famoso bar. A frequência atual estará sempre mesclada com os fantasmas dos que tiveram, naquele ambiente, suas melhores horas de lazer.