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Rodrigo Wolff Apolloni

A agenda da Sputnik News

 | Alexey Sazonov/AFP
(Foto: Alexey Sazonov/AFP)

Como bom apaixonado por histórias, sou frequentador assíduo de portais de notícias. Não tenho por hábito, porém, saciar a fome apenas nos sites nacionais, buscando novidades, também, em endereços de outros países. Quando essas agências possuem serviço em português – casos, por exemplo, da BBC ou da Agência France Presse –, vou às compras no idioma pátrio; quando só falam na língua de origem, sigo tateando, traduzindo livremente e apelando às fotos.

O que emerge dessa visitação é a percepção da existência de agendas temáticas que estabelecem uma pauta geral nacional ou regional. Descontado o fato de estarem sujeitos à mesma realidade, é certo que os veículos acabam muitas vezes fazendo as mesmas coisas, o que produz um “cantochão midiático” que, aos olhos de quem lê, soa como mais do mesmo.

Interessante, ou chocante, é testemunhar a quantidade de matérias que descrevem os armamentos russos

É nesse cenário de semelhanças que emerge meu interesse pela Sputnik News, agência de notícias estatal russa que substituiu a célebre Voz da Rússia dos tempos soviéticos e que oferece serviço em 29 idiomas, inclusive o português. Como bom órgão estatal, a Sputnik replica o pensamento de Vladimir Putin e de seu grupo político e, de quebra, celebra o pan-eslavismo – capitaneado, é claro, por Moscou – em grande estilo.

Assume um paradigma, em primeiro lugar, pró-Rússia, que se contrapõe à desconfiança com que a imprensa do lado de cá observa os movimentos e intenções do “Urso”; em segundo lugar e bizarramente em termos históricos, pró-Donald Trump, visto como uma espécie de “irmão briguento” que voltou para um lar que deseja que as coisas sejam resolvidas com os punhos.

Mais interessante ou chocante, porém, é testemunhar a quantidade de matérias que descrevem os armamentos russos. Acesse o site e você encontrará reportagens sobre o caça maravilha T-50 (seu país ainda vai comprar uma dúzia) ou sobre a nova frota russa do Ártico. Leituras que, em mim, evocam antigas memórias juvenis, do gosto por filmes como Os Canhões de Navarone à montagem de miniaturas militares da marca Revell compradas na Tabacaria Lima da Praça Tiradentes.

Cem por centro adolescente masculino e feliz dos anos 80, não fosse pela sombria percepção do estrago que toda essa panóplia é capaz de provocar. É nessa hora que eu imagino com que cara um editor da Deutsche Welle – a cuidadosa, sensata e crítica agência estatal de notícias alemã – liga o computador pela manhã para sapear outros veículos e adentra a estepe midiática russa. Verdadeiro choque de agendas.

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