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Terça-feira: acesso a internet em busca de notícias e dou de cara com mais uma dessas pequenas manchetes incríveis que fazem a alegria dos “leitores flâneurs”. Em Hackney Downs, na parte leste de Londres, eletricistas de uma empresa trabalhavam perto de um parque infantil quando encontraram um rato que teria o tamanho de um cachorro ou, como dramatizava a matéria, de “uma criança pequena”.

O bicho, para alegria geral – menos a do leitor médio de notícias do gênero, que adora ver o circo pegar fogo –, já estava morto quando foi encontrado. Morto, mas ainda suficientemente agregado em seus componentes, tanto que pôde ser fotografado com seu sorridente descobridor. Meio descabelado, mas ainda assim um ratão com um rabo pelado de fazer gosto a qualquer Nosferatu. Benza-me Deus: se fosse eu, não só não fotografava, como ainda deixava o morto em paz, só para o caso de ele estar apenas tirando a sesta.

Veracidade não é o item mais desejado quando se visita uma editoria chamada “Notícias estranhas”

Querendo saber mais, procurei a notícia em sites ingleses para descobrir que, lá, um dos buchichos jornalísticos do momento diz respeito justamente à autenticidade da história. Especialistas ouvidos pela BBC, por exemplo, garantem que ratos castanhos – espécie a que pertenceria o “Golias de East London” – jamais chegariam àquele tamanho, nem mesmo se andassem roendo a fiação de um reator nuclear. Outros especialistas, da área de fotografia, dizem que a imagem é trucada, já que o bicho é mostrado em primeiríssimo plano, na ponta de uma pinça ou braço mecânico, enquanto o operário risonho aparece mais longe. Ou seja: quando muito, tratar-se-ia de um “rato bitelão”, mas nunca um do tamanho de uma criança pequena. E, como ele foi descartado pelos operários logo após o registro imagético, a coisa caminhou para o ideal plano das lendas urbanas.

Do lado de cá do Atlântico, ninguém questionou a veracidade da notícia, até porque veracidade não é o item mais desejado quando se visita uma editoria chamada “Notícias estranhas”. O povo não só não duvidou como fez da história uma escada para detonar o governo, dizendo que o rato londrino não passa de um camundongo diante das ratazanas gigantes locais. E, é claro, ainda sobrou espaço para comentários envolvendo a torcida do Corinthians, que, de resto, apareceriam em qualquer notícia bizarra publicada no país, das múmias do imperador ao concurso do melhor acarajé do ano, porque são uma instituição da internet. Bizarro mesmo, concluo – e já não sei se rio ou se choro –, é o Brasil.

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