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Rodrigo Wolff Apolloni

O amante volúvel da grande teoria

 | Kasia Petlak/Free Images
(Foto: Kasia Petlak/Free Images)

A coisa toda, desconfio, passa um pouco por aquela segurança absoluta com que o profeta, ideólogo ou filósofo esboça suas ideias. Passa, também, pela estrutura perfeita de seu pensamento, que abraça e dá encaminhamento a todas as situações. E é justamente nessa solidez, nessa promessa de uma resposta para tudo, que, desde a adolescência, volta e meia flagro-me abraçado a alguma grande teoria. Daquelas perfeitamente engendradas, sólidas como um diamante e capazes de explicar o universo em todas as dimensões, do elétron ao tempo, do tempo ao gênero, do gênero à política, à moda e a qualquer coisa que venha a surgir no horizonte.

Fui marxista, liberal, psicanalítico e junguiano, e sigo namorando com possibilidades que alcançam um espectro de cabeças que vai de Johan Huizinga a Carlos Castañeda, passando por George Gurdjieff, Walter Benjamin, Henry Bergson, Jiddu Krishnamurti e Georg Simmel. Verdadeira herança, bênção e maldição, do precoce assaltante de sebos de livros.

Fui marxista, liberal, psicanalítico e junguiano

A grande contradição é que, ao contrário do que acontece com as grandes teorias – ou melhor, ao contrário do que acontece com os adeptos verdadeiros das grandes teorias –, sou um tanto volúvel. Depois de uma fase radical de análise rigorosa e permanente de tudo segundo o adorado cânone do momento, as regras perdem um pouco o élan de juventude e, mais importante, sua infalibilidade. Caem na real e, por conta disso (imagino que haja uma teoria que explique tal transformação), tornam-se, ao menos para mim, muito mais palatáveis e aplicáveis.

Ajustam-se à complexidade do universo e, com isso, escapam à violência epistemológica da tentativa de explicação de todos os fenômenos, inclusive dos que não têm absolutamente nada a ver com as calças. Transformam-se, em síntese, nas peças do extraordinário construto teórico com o qual, dia a dia, vou lendo o mundo.

Ultimamente, para não dizer que estou à deriva no mar das ideias, ando namorando firmemente a famosa teoria da dialética de Yin e Yang, que os chineses engendraram há cerca de 2,5 mil anos. Que, em certa medida, explica inclusive essa minha desavergonhada mutação de perspectivas, uma vez que preceitua que todas as coisas chegam a um limite e, depois, se transformam no seu oposto – num movimento eterno. Para o momento político e social estranho que estamos vivendo, aliás, a tal teoria funciona muito bem. Mas, por favor, não me leve muito a sério: amanhã é outro dia.

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