Astrogildo, nome de fantasia do personagem sobre o qual escrevo nesta terça-feira, é aquilo que poderíamos chamar de “estrategista inconsciente”. Técnico semiprofissional de futebol na periferia, é conhecido por ganhar quase todas as partidas com os times que dirige. O que seria simplesmente maravilhoso, não fossem as vitórias tão ranhetas, tão magistralmente desprovidas de talento. Um a zero num pau danado, com a bola espirrada para dentro do gol adversário meio de revesgueio, quase não entrando, batendo na trave antes de cruzar a linha fatal ou escorrendo assim, esquálida, do cipoal de pernas na pequena área para o fundo da rede.
É por isso que, a despeito de ser um grande campeão, Astrogildo não é tão estimado pelos torcedores, que sofrem barbaramente com a mediocridade dos times que configura. Sua matemática, aliás, é pragmatismo puro: em um campeonato de 36 rodadas, preceitua, a matemática ideal é de 36 gols feitos e nenhum sofrido. “Apenas o suficiente para ser feliz”, sentencia.
Nas mãos de Astrogildo, tenho certeza, Messi viraria um burocrata
Sua estratégia essencial contempla dois aspectos: em primeiro lugar, uma marcação depressora, pantanosa, poço de betume capaz de sugar a velocidade da bola quase a ponto de subverter a força da gravidade. Nem é tão importante, aliás, que a pelota não esteja nos pés adversários – ela pode até estar lá, desde que permaneça curta e ruminada no meio de campo. O segundo aspecto é o dos contra-ataques incertos, entrópicos e, em 99% dos casos, desprovidos de eficácia. É deles, normalmente tão indignos de crédito, que nascem os estranhos gols suficientes das vitórias de Astrogildo.
Pior, mesmo, é a dificuldade de criticar seu trabalho, posto que, a despeito da aparente ruindade de seus esquadrões, ele vai lá e ganha. E anula adversários de qualidade superior, que, encantados, acabam afundando no caldo grosso e insosso de sua implacável estratégia. Um horror que provavelmente encantaria Sun Tzu e traria lembranças frias a Napoleão Bonaparte.
Um dia, um otimista disse que, se ele tivesse jogadores mais habilidosos à disposição, montaria times mais vibrantes. Santa ingenuidade. Em suas mãos, tenho certeza, Messi viraria um burocrata padrão “Escrivão Bartleby” (personagem de Herman Melville que se recusava a fazer qualquer coisa) e um time como a seleção brasileira de 1982 jogaria na base do freio-motor. E o pior: com uma terrível chance de ganhar o campeonato.
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