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Rodrigo Wolff Apolloni

Os Confúcios

 | Kevin Smith NYC/Wikimedia Commons
(Foto: Kevin Smith NYC/Wikimedia Commons)

Muita gente, imagino, carrega no espírito um personagem referencial, aquela figura que, a despeito de ter vivido em uma realidade diferente desta nossa tão estranha, é admirada e seguida naquilo que deixou como lição.

Conheço, por exemplo, um cidadão que é fanático por Napoleão Bonaparte. Com direito a peregrinação à tumba do corso nos Invalides, busto no piano e até um bicorne que, segundo o proprietário, é réplica perfeita do original vendido recentemente por milhões a um colecionador coreano. Chapéu que ele só tira da caixa para uns poucos amigos e, desconfio, também usa em segredo no império doméstico.

Pessoalmente, sou fã de Confúcio, pensador que tentou instilar humanidade e método na cabeça dos nobres chineses da Dinastia Zhou, séculos antes da Era Comum. A despeito do insucesso em vida – Confúcio foi apontado como o “chato número 1 sob o Céu” –, tornou-se um herói civilizatório. A partir da Dinastia Han, no século 2.º, virou referência e viu sua influência se espalhar por todo o leste da Ásia. Hoje, as visões chinesa, coreana e japonesa de mundo, com seu amor à ordem, coletividade, hierarquia e educação, trazem a marca confucionista.

A despeito do insucesso em vida, Confúcio se tornou um herói civilizatório

É então que, do alto de minhas próprias certezas, sou surpreendido pela leitura de Confúcio e o Mundo que ele Criou, escrito pelo jornalista Michael Schuman, correspondente da revista Time na China. Obra que traz um panorama do Confucionismo ao longo dos últimos 2,5 mil anos, mostrando a complexidade das relações das sociedades com suas lições.

Hoje, graças à sua valorização da família e da educação, Confúcio é visto como salvador de nações. E, ao mesmo tempo, é tido como responsável pelos problemas associados ao machismo e à misoginia nas sociedades asiáticas. É moderno e necessário por pregar a humanidade sobre todas as coisas e, simultaneamente, é visto com desconfiança por seu conservadorismo, que levaria as pessoas a trocarem ousadia e criatividade por cegueira e submissão.

A situação fica ainda mais interessante quando descobrimos, com Schuman, que não houve apenas um Confúcio, mas “Confúcios” e “anti-Confúcios” produzidos ao longo das eras. Releituras, reinterpretações e reescrita das ideias a ele atribuídas, produzidas para dar conta de questões pontuais associadas ao poder. Dos nobres Han aos revolucionários comunistas, dos xoguns do período Edo às feministas coreanas, Confúcio é santo e demônio, é a sublime solução e o mais pesado dos entraves. Um tremendo personagem, que, graças a essa pluralidade toda, ganha ainda mais cor em meu espírito. Super Confúcio – ainda que, agora, um pouco mais confuso.

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