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Rodrigo Wolff Apolloni

Os mistérios da roda fixa

 | Marcelo Elias/Arquivo
 Gazeta do Povo
(Foto: Marcelo Elias/Arquivo Gazeta do Povo)

Como bom apaixonado por pedais, em especial pelos que abandonam a mesmice da linha de montagem e assumem as preferências estéticas de seus proprietários, estou sempre de olho nas bicicletas que vejo por aí. Foi nesse processo de colecionismo visual, nesta etnografia ciclística, que, de um tempo para cá, passei a reparar na presença cada vez maior de certo tipo de bicicleta em Curitiba. Bikes misteriosas, em especial porque ainda mais magras e geométricas do que o comum magro e geométrico de todos os exemplares de sua espécie. Tremendamente elegantes, enfim, dentro de uma estética e de uma perspectiva tecnológica próprias de um olhar espartano. Bicicletas haikai.

As “fixas” reeditam os primeiros projetos ciclísticos, em especial no quesito da transmissão

Examinando de perto um exemplar encontrado acorrentado a um poste de sinalização nas imediações da Reitoria da UFPR, fiquei ainda mais interessado. As bicicletas desse tipo não possuem sistema de marchas e nem sequer a “roda livre” (aquela peça no cubo da roda traseira que recebe a corrente), mas uma única coroa solidamente presa ao eixo traseiro que, por causa do princípio da transmissão, força o ciclista a um pedalar eterno. Graças ao mesmo princípio, aliás, a bicicleta dispensa os sistemas clássicos de frenagem: para frear, “basta” acionar a musculatura das pernas, somando força e razão. Bicicletas circenses.

De tão encantado, fui conversar com o Google e descobri que as tais bikes têm o nome de “bicicletas de roda fixa” ou, simplesmente, “fixas” (“fixies”, em inglês), e que reeditam os primeiros projetos ciclísticos, em especial no quesito da transmissão. Uma das razões do retorno à realidade seria sua simplicidade franciscana, capaz de desestimular ladrões interessados em tecnologias mais caras; outra razão seria puramente fashionista: as “fixas” renasceram em Nova York, com cicloentregadores que não queriam chamar a atenção dos larápios e acabaram atraindo os olhares do mundo.

Um terceiro motivo, o que mais me interessou, seria a busca por uma nova experiência ciclística urbana, calcada na rusticidade do pedalar e no desafio de “frear sem freios”. Uma experiência romântica, que, ao fim e ao cabo, é o sonho de todo ciclista – até mesmo daqueles que, como este cronista, não abrem mão da marcha mais leve nas subidas.

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