Depois de 15 anos, o carnaval de Curitiba voltou para a Rua Marechal Deodoro. O retorno animou os foliões e os integrantes dos blocos e escolas. Aproximadamente 10 mil espectadores curtiram cada minuto de samba até perto das 5 horas deste domingo. Gritos, aplausos, risos e muita descontração deram o tom do desfile das escolas de samba na capital.
Após a passagem dos blocos e das quatro escolas do grupo B, o desfile do grupo principal começou por volta da meia-noite, contagiando os foliões. Com maior número de integrantes e de carros alegóricos, as quatro escolas de samba do grupo A não desapontaram. Fotos: desfile das escolas do Grupo A do carnaval de Curitiba
Todas elas conseguiram cumprir o número mínimo de integrantes (230) e o tempo de 65 minutos estipulados pela comissão organizadora. O ápice das apresentações era a passagem da bateria pelo público, que cantava e dançava animado.
A primeira do grupo especial a entrar na Marechal foi a Leões da Mocidade apresentando o enredo "Meus tambores anunciam: sorria você está na Bahia", que destacou os encantos, as belezas naturais, a diversidade e a musicalidade da Bahia. A escola contou com 348 integrantes e com dois carros alegóricos e 12 alas. Em seguida foi a vez da Embaixadores da Alegria mostrar samba no pé com o enredo "Sobre nosso olhar e inspiração A essência dá o tom da folia", mostrando que o carnaval é uma arte que requer trabalho, talento e inspiração. Foram 314 integrantes divididos em oito alas e cinco carros alegóricos.
A Mocidade Azul levou bruxas, fantasmas, zumbis e outros personagens, como o Predador, para "aterrorizar" as arquibancadas. Com o tema "Quero brincar de ser mau!!! Mocidade faz buuu Neste Carnaval", o público se animou nos 64 minutos de apresentação. No final do desfile, os integrantes tiveram que acelerar o passo para não ultrapassar o tempo limite permitido.
Detalhe que todos os integrantes da bateria da escola estavam maquiados como caveiras. A agremiação contou ainda com dançarinos que imitavam passos do clipe da música Thriller, de Michael Jackson. A agremiação levou para a Marechal 450 pessoas, 11 alas e cinco carros alegóricos.
Quem encerrou o desfile foi a atual bicampeã do carnaval de Curitiba (2012/2013), Acadêmicos da Realeza, com o enredo "E o mundo vem dançar no compasso da Realeza", encenando os mais variados estilos de dança. A agremiação entrou na avenida com 10 alas e quatro carros alegóricos.
Um carro da escola sofreu um problema: um balão se soltou parcialmente e ficou torto bem na frente dos jurados. Todos os 495 integrantes interagiram com o público durante os aproximados 50 minutos do desfile, que encerrou o carnaval curitibano 2014.
Efeito Marechal
O presidente da escola de samba Mocidade Azul, Altamir Lemos, afirma que - com a mudança do desfile do Centro Cívico para a Marechal Deodoro - o público teve vontade de sair de casa e prestigiar o carnaval curitibano. "Sem falar que no Centro Cívico tinha muitas curvas e lombadas o que dificultava o desfile", afirma.
O mesmo tom foi adotado pela integrante da Leões da Mocidade, Ellen Alves. "O espaço aqui é melhor para desfilar, o que evita problemas com os carros alegóricos", diz.
O carnavalesco Marcio Marins, da Acadêmicos da Realeza, chegou a brincar dizendo que no Centro Cívico era o único carnaval do mundo que tinha curvas e lombadas. "É bom voltar ao coração da cidade, trazendo mais espectadores e melhorando a acessibilidade de todos, já que é muito mais fácil encontrar um ônibus de transporte coletivo aqui no centro", ressalta.
A secretária da escola Embaixadores da Alegria, Maria Martins, afirmou que com a Marechal o Carnaval de Curitiba tem mais visibilidade. "Isso pode facilitar para que tenhamos mais patrocínios para o próximo ano", comenta.
Público
Natural de Maringá, Edson Gonçalves viu pela primeira vez o carnaval em Curitiba e não se arrependeu. Mesmo com o pé quebrado, ficou firme até o final do desfile. "Vou vir sempre para cá. É muito organizado e muito animado", disse.
Alessandro Matos, que é curitibano, afirmou que o carnaval na Marechal trouxe outro significado para a festa na cidade. "Nunca deveria ter saído. O povo está presente e aproveitando a festa", comentou durante o desfile.
Grupo B
A primeira escola do grupo B a desfilar, a Imperatriz da Liberdade, entrou na avenida por volta das 21h30. Depois, passaram pelo sambódromo curitibano as agremiações Unidos de Pinhais, Bairro Alto e Internautas. Depois de cada apresentação de bloco ou de escola, garis passam varrendo a avenida, deixando tudo preparado para o próximo desfile.
Blocos
O Afoxé, que desfilou por cerca de meia hora, é formado por integrantes de terreiros de umbanda e candomblé de Curitiba. Eles abrem a festa há mais de 20 anos "purificando" a avenida. "O bloco demonstra a união entre o candomblé e a umbanda em Curitiba. Assim mostramos a nossa fé pro resto da cidade", comenta Gerson Kaviumgo, um dos integrantes do bloco.
O Derrepente teve como tema o Zé Gotinha, popular personagem criado nos anos 1980 para incentivar a vacinação infantil. O enredo puxado pelo bloco diz assim: "Zé Gotinha, veja bem, preste atenção, toda criança tem que ter vacinação".
Já o tradicional bloco Rancho das Flores, formado por senhores e senhoras de idade, animou a avenida com marchinhas. Iracema Santos de Oliveira, 68, que participa do bloco há 20 anos, diz que, quando está no bloco, revive lembranças antigas. "Lembro da minha mãe e da minha avó", conta. o aposentado Isaías Bueno, 80, há 15 desfila todo ano no Rancho das Flores. "Isso me faz continuar vivendo", disse.