Em mais um capítulo da rixa envolvendo a prefeitura de Curitiba e o governo do Paraná quando o assunto é o transporte coletivo, o presidente da Urbs, Roberto Gregório, afirmou que o transporte metropolitano foi “privatizado” pela gestão de Beto Richa (PSDB). A declaração foi dada à Gazeta do Povo quando perguntado sobre a promessa de Ney Leprevost, postulante ao cargo de prefeito da capital, de retomar a integração dos ônibus com a RMC. Na última quinta-feira (22), o candidato do PSD disse ao Paraná TV 1.ª edição, da RPC, que já tem um compromisso com o secretário estadual Ratinho Júnior - que é do mesmo partido dele e comanda a pasta do Desenvolvimento Urbano - para retomar a integração da gestão dos sistemas, caso seja eleito .
Leprevost diz ter compromisso para retomar integração; governo não confirma
A informação do candidato à prefeitura de Curitiba, Ney Leprevost (PSD), de que tem um compromisso de Ratinho Júnior para retomar a integração da gestão da Rede Integrada de Transportes (RIT) não foi confirmada pela assessoria do secretário de Desenvolvimento Urbano.
Procurada pela reportagem, a SEDU encaminhou as perguntas sobre o assunto à Comec. Em nota, o órgão estadual afirmou que não entra na discussão de propostas eleitorais.
“Já tenho um compromisso do secretário de Desenvolvimento Urbano, do Ratinho Júnior, que é do mesmo partido [que eu, o PSD], de retomar o subsídio para Curitiba. Ele já se comprometeu comigo em relação a isso.”
A nota da Comec enfatizou que “sistema de transporte coletivo metropolitano vem sendo mantido pelo Governo do Estado com subsídio de R$ 5 milhões por mês”.
“Na Urbs, sempre estivemos abertos ao diálogo. Mas existem fatos novos de lá para cá que precisariam ser rediscutidos, como a questão da dita gestão financeira privada dos recursos. Aqui o dinheiro arrecadado é utilizado exclusivamente no transporte, já no metropolitano, que foi privatizado, toda a gestão fica com as próprias empresas.”
Gregório se referia ao fato de a gestão da bilhetagem eletrônica do sistema integrado metropolitano ter sido transferida às próprias empresas de ônibus. Em reportagem anteriores sobre o assunto, a Comec sempre afirmou que mantém um rigoroso controle sobre os recursos do setor e que a gestão ter sido repassada às empresas traz economia ao sistema como um todo.
Para retomar a gestão da integração, Gregório também citou outros fatores que teriam de ser rediscutidos. Um deles é a idade máxima da frota, que, segundo ele, teria sido elevada para 12 anos nas linhas metropolitanas integradas. “Pelo que sabemos, houve uma ampliação para 12 anos da via útil lá [nas linhas metropolitanas]. Além disso, a renovação já pode ser realizada com ônibus usado no sistema deles”, afirmou.
Por contrato, Curitiba aceita apenas ônibus com vida útil máxima de 10 anos. Desde 2012, entretanto, as empresas têm uma liminar que as desobriga de comprar novos ônibus. Elas alegam que a Urbs não vem cumprindo o contrato de concessão e a Justiça concedeu a liminar até que o mérito dessa discussão esteja julgado.
Porque a gestão foi desintegrada?
A desintegração da gestão da Rede Integrada de Transportes ocorreu em fevereiro de 2015, quando prefeitura de Curitiba e governo do Paraná não chegaram a um acordo sobre o valor do subsídio que o estado pagaria, para que a Urbs mantivesse a gestão de todas as 356 linhas que compunham a RIT naquele momento. Sem o acordo, 30% da rede passou a ser gerida diretamente pelo governo do estado.
À época da desintegração, a gestão Richa afirmava ter um estudo que indicava que os subsídios pagos pelo estado eram maiores do que a necessidade. Sendo assim, a proposta do estado era manter a gestão integrada em troca de um subsídio de R$ 3 milhões mensais. Naquela época, a Urbs dizia ter estudos que indicavam a necessidade de R$ 7 milhões por mês.
No fundo, a discussão pairava em torno de enxugar ou não o sistema para economizar. Assim que a gestão desintegrou, a Comec passou a fazer uma série de ajustes na tabela de horários e linhas existentes com o argumento de que havia linhas sobrepostas e cuja demanda não as justificavam. Mesmo depois de toda a racionalização, o subsídio necessário então calculado pelo estado cresceu mais de 40% em menos de dois anos, chegando a R$ 5 milhões por mês atualmente para as linhas metropolitanas não integradas.
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