A PM usou bombas de efeito moral e balas de borracha para dispersar os manifestantes
- RPC TV
O secretário da Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari, determinou o afastamento do comandante do Policiamento da Capital, coronel Carlos Alexandre Scheremeta e do comandante do 13.º Batalhão da Polícia Militar (PM), major Flavio Correia. A decisão foi tomada na noite desta quinta-feira (23), após serem divulgadas as imagens da reintegração de posse ocorrida durante a manhã no bairro Fazendinha, em Curitiba, que resultou na prisão de três pessoas e deixou quatro feridas.
As imagens foram divulgadas pela Band TV e mostram o jornalista Anderson Leandro sendo ferido deliberadamente por um policial militar. O cinegrafista acompanhava a reintegração de posse registrando imagens e foi atingido por um tiro de bala de borracha. Além dos afastamentos, o secretário Delazari determinou a instauração de um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar os abusos cometidos pela polícia. A Secretária de Segurança Pública (Sesp) vai solicitar cópia das imagens para identificar o soldado responsável pelo tiro que atingiu o jornalista.
Outras três pessoas, entre elas uma criança de 8 anos, ficaram feridas durante a ação policial. "A conduta do policial que atirou contra o jornalista é repudiável, injustificável e inadmissível. Este governo sempre realizou as reintegrações dentro de um amplo processo de negociação, com o tempo necessário para que acontecesse de forma tranqüila, sem abusos e sem violência. Esta rotina padrão não foi respeitada no caso do terreno da Fazendinha. Foi uma ação, no mínimo, precipitada", afirmou Delazari, por meio de nota oficial.
O secretário também afirmou que irá apurar a participação de representantes da oposição ao governo do estado que estavam infiltrados no terreno. "Em algumas imagens que obtivemos fica clara a participação de opositores apenas para tumultuar o processo", definiu.Três pessoas foram presas durante a reintegração, duas por porte ilegal de armas e uma por desacato.
A PM vai continuar no local até que a área esteja totalmente desocupada. Algumas famílias ainda retiravam os pertences do local por volta das 16h30, mas, de acordo com a polícia, de forma pacífica. Muitos dos sem-teto retirados do terreno irão passar a noite em um abrigo da Prefeitura de Curitiba.
Clima tenso
Durante a manhã, a situação ficou tensa no início da reintegração de posse. Os ocupantes montaram uma barreira com pneus queimados e fecharam toda a entrada do terreno pelas ruas João Dembinski e Mário José Zancanaro. Mulheres e crianças ficaram paradas logo em frente ao bloqueio. Moradores da ocupação afirmam que iniciaram a montagem das barreiras porque perto das 5h duas viaturas da Ronda Ostensiva Tático Móvel (Rotam) teriam passado pelo local.
A PM usou balas de borracha e bombas de efeito moral para dispersar os manifestantes. Pelo menos quatro pessoas ficaram feridas, queimadas ou atingidas por balas de borracha, entre elas o cinegrafista Anderson Leandro e uma criança de 8 anos, que sofreu uma queimadura na perna. Ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) estiveram no local para o socorro. O menino foi levado para o Hospital Evangélico, onde recebeu atendimento. Ele teve alta por volta do meio-dia. A criança foi levada ao hospital junto com uma mulher, de 38 anos, que levou um tiro de bala de borracha no tornozelo. A mulher também já recebeu alta.
A polícia vai manter uma vigilância sobre o terreno, que é de propriedade da empresa Varuna Empreendimentos Imobiliários. A empresa já teria tomado medidas para cercar o ambiente. Aproximadamente 1.200 policiais participaram da reintegração de posse pela manhã.
Investigação
A Comissão de Direitos Humanos da OAB Paraná abriu um processo administrativo para apurar todos os fatos, desde a ocupação da área no Fazendinha, até a reintegração de posse desta quinta-feira (23). Representantes das famílias sem-teto devem ser chamados a prestar depoimentos na OAB.
"A OAB vai fazer todas as verificações possíveis e exigir das autoridades as providências necessárias para resolver esse grave problema social", disse Cléverson Marinho Teixeira, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, por meio de nota oficial.
Invasão
No dia 6 de setembro, cerca de 600 famílias ocuparam e montaram barracas no terreno. Dez dias depois, a invasão já contava com aproximadamente 1,5 mil famílias, ou cerca de 6 mil pessoas. O local também ganhou ligações irregulares de energia elétrica, pequenas casas de madeira e até um escritório de advocacia.
A Varuna conseguiu, no dia 15 de setembro, uma ordem de reintegração de posse da área de aproximadamente 170 mil metros quadrados. A juíza Julia Maria Tesseroli determinou um prazo de cinco dias para que todos os acampados se retirassem voluntariamente do terreno, mas a ordem não foi cumprida. Com isso, a Justiça deu ordem para reintegração de posse.
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