Os bombeiros destacados para a Operação Verão no Litoral do Paraná têm sentido na pele a mudança do uniforme fornecido pelo governo do estado. Nesta edição, a roupa oficial dos guarda-vidas é composta por camisa de mangas longas e bermudão. Diferente de anos anteriores, os agentes estão proibidos de vestir sunga nos postos ou na areia. Alguns reclamam que o novo uniforme provoca assaduras na virilha e pode dificultar salvamentos no mar.
Poucos dias depois de ter começado a trabalhar na Operação Verão, em Caiobá, um guarda-vidas começou a sofrer com as primeiras assaduras. Como tem que entrar e sair do mar várias vezes ao longo do dia, o ato de caminhar com o bermudão molhado acaba provocando irritação na pele. “Por mais acostumado que a gente esteja ao mar, o atrito da roupa molhada vai assando tudo. Está bem ruim”, disse o bombeiro, que prefere não se identificar. O guarda-vida aponta que tem gastado parte da diária de alimentação para comprar pomada para amenizar as assaduras. “Eu estou só no Hipoglós. Quase R$ 20 por um tubinho. Não é fácil, não”, enfatiza.
A União dos Praças do Corpo de Bombeiros do Paraná (UPCB-PR) prepara um ofício para o comando da corporação solicitando que o uso das bermudas seja facultativo e que os guarda-vidas possam usar sunga novamente.
“O nosso entendimento é de que isso deve ser facultativo. Por um lado, a bermuda protege o corpo do sol. Mas, por outro, é mais folgada e inapropriada para o resgate em mar. O bombeiro pode ter dificuldade para se deslocar em água. Além disso, tem causado assaduras no pessoal”, disse o presidente da UPCB-PR, Henry Francis.
Segundo a entidade, nas edições anteriores da Operação Verão o uniforme era de lycra, material que ficava colado ao corpo, o que seria mais ideal à atividade de salvamento. Além disso, os bombeiros poderiam optar entre a bermuda e a sunga.
“É uma questão de bom senso. Cada um usa a peça mais adequada à sua condição, ao seu conforto, e que vai gerar um desempenho melhor”, avalia Francis. Por isso, julga o presidente do UPCB-PR, o ideal seria que o comando dos Bombeiros liberasse a sunga. A associação reivindica ainda participar do planejamento da próxima Operação Verão. “Esse uniforme custou dinheiro e não é adequado. Queremos ser consultados neste processo”, completou.
Proteção mais efetiva
O Corpo de Bombeiros informa que a bermuda é a mesma usada nos últimos anos da temporada. Segundo a corporação, a bermuda longa protege mais áreas sensíveis do corpo. “Este tipo de uniforme evita que ocorra algum tipo de câncer de pele. O uniforme também segue padrões internacionais, como o dos guarda-vidas australianos, um dos mais respeitados do mundo”, afirma a resposta da corporação.
O comando dos Bombeiros também enfatiza que a bermuda é condizente com a imagem profissional dos militares. “Se pretende passar para a população a imagem de que o profissional está lá para garantir a segurança das pessoas, e não expor sua imagem pessoal”, reforça a nota do Corpo de Bombeiros .
O comando enfatiza ainda que “não há indicativo claro de que este tipo de efeito [assaduras] possa ser produzido”. Mais adiante no texto, entretanto, o comando admite pode acontecer irritação da pele. “Claro que, dependendo da condição climática, temperatura e característica de cada pessoa, isso pode acontecer, e precisa ser cuidado”, relata
Camisas dos PMs
A reclamação em relação ao uniforme não se restringe aos guarda-vidas. Os policiais militares também têm reclamado da farda no Litoral. Apesar de a roupa oficial da Operação Verão prever camisa de mangas curtas, os agentes têm se queixado do tecido, considerado bastante quente para uma região em que as temperaturas ultrapassam os 30ºC.
A Associação dos Praças do Paraná (Apra-PR) encaminhou ofício ao comando da PM, solicitando que os policiais possam usar camisetas no Litoral. “A solicitação vem ao encontro de tornar mais confortável para o exercício das atividades, sendo apenas observado o padrão das equipes, conforme normas de estilo”, aponta o ofício, que destaca que outros estados já adotaram o uso de camisetas na Operação Verão.
Em resposta, o comando-geral da PM afirma que a camisa não traz desconforto e faz parte da identificação militar do policial. “Por certo sempre há alguns que querem priorizar o conforto, mas não alteramos o regulamento de uniformes por demandas específicas apresentadas pela imprensa”, afirma a resposta.
Mesmo assim, a nota afirma que todos os policiais têm liberdade de apresentar suas reclamações aos seus comandantes para que “se possam avaliar as propostas por meio do Estado Maior a partir da próxima Operação Verão”.