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Os macacos bonobos conseguem utilizar sons para se comunicar de uma maneira semelhante à dos bebês humanos que ainda não aprenderam a falar, de acordo com um estudo realizado por cientistas britânicos e suíços. Assim como os bebês, os bonobos – parentes mais próximos dos humanos na evolução – conseguem usar um mesmo som para remeter a variados sentidos de acordo com o contexto.

Essa flexibilidade na comunicação até agora não havia sido encontrada em outros animais. De acordo com os autores da pesquisa, publicada nesta terça-feira (4) na revista PEERJ, a descoberta pode levar a avanços na compreensão da evolução da linguagem.

Os cientistas da Universidade de Birmingham (Reino Unido) e da Universidade de Neuchatel (Suíça) realizaram o estudo com bonobos selvagens da República Demorcática do Congo. Segundo eles, os indivíduos dessa espécie produzem um tipo de chamado – semelhante a um pio – em situações positivas, negativas ou neutras, ligadas à alimentação, locomoção, descanso, alarme e acasalamento. Os “pios” são vocalizações agudas de curta duração produzidas com a boca fechada.

Eles descobriram uma ampla semelhança na estrutura acústica dos pios produzidos em diferentes contextos, sugerindo uma flexibilidade comunicativa. Assim como acontece com os sons produzidos por bebês humanos, o receptor precisa fazer inferências com base no contexto para compreender o sentido das vocalizações.

De acordo com uma das autoras do estudo, Zanna Clay, da Universidade de Birminghan, as vocalizações feitas por animais, em geral, são ligadas a estados emocionais muito específicos: expressar agressividade ou alertar para a presença de predadores, por exemplo. Os humanos, por outro lado, mostram uma “flexibilidade funcional” em suas vocalizações: o mesmo som pode ser usado para remeter a diferentes sentidos, dependendo do contexto.

“Uma característica importante da fala humana é a capacidade de produzir signos flexíveis com funções diferentes. Assim, os mesmos signos são usados para diferentes funções, expressando estados emocionais diferentes. Normalmente, acredita-se que os sinais emitidos pelos animais são muito ligados a estados emocionais específicos. Nós descobrimos que os pios dos bonobos são produzidos de maneira muito flexível, muito parecido com o que vemos no primeiro estágio do desenvolvimento da fala humana”, disse Clay à reportagem.

De acordo com ela, os “pios” dos bonobos não têm nada de especial em si. O que é surpreendente é a maneira como eles utilizam esses sons. “Dar sentidos diferentes a sons iguais é algo que muitos pensavam ser uma característica única dos humanos”, afirmou a pesquisadora.

“Quando falamos, nós combinamos muitas informações diferentes para dar sentido ao que dizemos. Agora sabemos que os bonobos fazem algo semelhante: eles usam seus pios em combinação com o contexto. Além disso, criam sequências de pios combinados, que ajudam a definir o sentido - algo próximo de uma sintaxe”, disse Clay.

Segundo Clay, a descoberta desafia o senso comum em relação à evolução da comunicação e, a princípio, pode mudar de lugar a linha que separa os humanos de outros primatas.

“É preciso fazer mais pesquisas sobre os grandes primatas, antes de tirar conclusões sobre o caráter único do ser humano. Quanto mais estudamos, mais proximidade encontramos entre animais e humanos”, afirmou.

Evolução

A pesquisadora afirma que a flexibilidade da comunicação dos bonobos pode ser indício de uma importante transição evolutiva: das vocalizações dos animais, fixadas em uma função única, para as vocalizações humanas, mais flexíveis. Os cientistas acreditam que essa transição ocorreu em algum momento entre 6 milhões e 10 milhões de anos atrás.

“A descoberta mostra uma conexão entre o desenvolvimento dos indivíduos humanos e o desenvolvimento evolutivo da espécie. Como ocorre com frequência, a evolução acaba espelhando o desenvolvimento dos indivíduos humanos”, explicou.

Embora essa flexibilidade da comunicação tenha sido observada apenas em bonobos até agora, a pesquisadora acredita que ela pode existir em outros animais.

“Provavelmente existe e ainda não foi encontrada. Mas acho especialmente interessante estudar isso em macacos, porque eles têm vidas sociais complexas e são um bom caso para estudarmos essas capacidades”, disse.

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