Promotora requisita inquérito de estupro coletivo

A promotora de Justiça Cláudia Cristina Rodrigues Martins Madaloso, que atua junto ao Juizado da Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, requisitou à Delegacia de Furtos e Roubos (DFR) o inquérito do caso da enfermeira que sofreu estupro coletivo em Curitiba. Segundo nota divulgada pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR), a promotora pretende tomar medidas penais cabíveis em relação aos quatro homens que estão presos, acusados de participação no crime.

Dois adolescentes que estão apreendidos, sob suspeitas de envolvimento no caso, foram apresentados à Promotoria de Justiça junto à 3ª Vara da Infância. Segundo o MP-PR, eles estão apreendidos no Centro de Socioeducação de Curitiba (SIOPE) e aguardam o julgamento da ação interposta contra eles pela promotora de Justiça Daniele Cavali Tuoto.

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O Ministério Público do Paraná (MP-PR) vai acompanhar de perto o atendimento recebido pelas mulheres vítimas de violência nas Delegacias da Mulher do estado. Um diagnóstico destes distritos especializados foi traçado pelo Conselho Estadual da Mulher e aponta que as unidades não estão aptas a cumprir o que determina a "Lei Maria da Penha". O órgão estabeleceu uma série de medidas a serem adotadas pelas delegacias para otimizar o acolhimento prestado às mulheres. Dentre as principais deficiências levantadas estão a falta de infraestrutura e de treinamento pessoal nas delegacias.

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O procurador de Justiça Olímpio de Sá Sotto Maior Neto informou que o MP-PR aguarda o relatório do Conselho para iniciar um procedimento preliminar, que deve desembocar em um inquérito civil público. "Vamos verificar de perto a implantação das medidas sugeridas. Precisamos nos perguntar: qual a capacitação que se está dando para que uma mulher tenha um atendimento adequado nessas delegacias?", disse.

As preocupações do Conselho da Mulher se assentam em dois pilares básicos: infraestrutura e humanização do atendimento. As deficiências relatadas foram levantadas em reuniões entre mulheres e delegadas que chefiam as especializadas. "As delegacias não estão preparadas para lidar com as vítimas. Esta é uma luta histórica que dura mais de 40 anos", disse a conselheira Elza Maria Campos.

Deficiências

De acordo com o levantamento, as delegacias especializadas do estado não contam com equipe multidisciplinar – com assistentes sociais e psicólogos – que fariam o primeiro acolhimento às vítimas. A realidade, segundo as conselheiras, é bem mais cruel: predominariam funcionários destreinados e insensíveis aos dramas vividos pelas vítimas. Além disso, há déficit de pessoal e, em alguns casos, delegados acumulam funções em outros distritos. O Conselho pede a reparação destas distorções. "É preciso ter capacitação para estes servidores, porque o atendimento não é humanizado", resume Elza.

Na esfera estrutural, as conselheiras relatam que as delegacias da mulher do Paraná funcionam em prédios adaptados e sem espaços que possibilitem o atendimento adequado às vítimas de violência. À exceção da unidade de Curitiba, os distritos funcionam apenas em horário comercial e fecham em fins de semana. "É um contrassenso, porque a violência contra a mulher não tem hora para acontecer. É muito mais frequente no fim de semana e no período da noite", ressalta a conselheira Carmem Ribeiro.

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A falta de infraestrutura entrava as investigações e, por consequência, a solução dos casos. Segundo o Conselho, só na Delegacia da Mulher de Curitiba, há oito mil inquéritos parados. No ano passado, 76 foram estupradas e relataram o crime à unidade. Outras 21 registram que foram vítimas de tentativa de estupro. As autoridades apontam que o número deve ser muito maior, já que muitos casos não chegam à polícia.Humanização

O procurador Olímpio de Sá Sotto Maior Neto ressalta que o caso da enfermeira que sofreu um estupro coletivo orquestrado pelo ex-marido, em Curitiba, tornou evidente a falta de preparo das delegacias da mulher em lidar com as vítimas. A enfermeira afirma que procurou a delegacia especializada da capital, mas foi orientada a procurar outro distrito. Ela acabou sendo atendida pela Delegacia de Furtos e Roubos (DFR), que combate crimes contra o patrimônio. Para Sotto Maior, há indícios graves de negligência.

"É evidente que a prevalência de investigação tinha que ser da Delegacia da Mulher. A violência sexual sofrida tem valor jurídico muito mais importante que o bem que lhe foi subtraído", avaliou o procurador. Na quinta-feira (24), a delegada Maritza Haisialegou que não teve conhecimento do caso da enfermeira.

Sotto Maior afirma que a violência contra a mulher tem recebido maior atenção por parte dos órgão públicos. Como exemplo, ele menciona a audiência da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Violência Contra as Mulheres, realizada no Paraná. Apesar disso, ele reconhece que há muito o que se avançar. "O Paraná está em terceiro lugar no ranking de homicídios contra a mulher. Curitiba e região metropolitana têm um índice absurdo de violência contra a mulher e isso significa que os órgãos todos precisam se preparar para cumprir o que a lei prevê", finaliza.