Corria o ano de 1912, Carlos Cavalcanti governava o Paraná tendo tomado posse como presidente do estado no princípio do mês de abril. A política fervilhava na composição dos cargos a serem ocupados. Era intenção do presidente de colocar como prefeito de Curitiba um companheiro militar de carreira do Exército, como ele. Estava em vista o capitão João Gualberto Gomes de Sá Filho, engenheiro. Entretanto, como sempre ocorre, por uma questão de acomodações o escolhido para a prefeitura foi o engenheiro Cândido de Abreu, e João Gualberto foi pinçado ao comando do Regimento de Segurança no posto de coronel.
Naquele tempo fervilhava a questão do território que pertencia ao Paraná e que era disputado por Santa Catarina, conhecido antigamente como Campos de Curitiba e que fazia divisa com o estado do Rio Grande do Sul. Era a área conhecida como região do Contestado. Estripulias de fanáticos comandados pelo indivíduo de nome Miguel Lucena, que se fazia passar por um falso monge designado como José Maria no intuito de ser confundido ao verdadeiro monge João Maria, que passou anteriormente pela região e era venerado pelos caboclos como santo milagreiro.
O presidente Cavalcanti colocou João Gualberto no comando da tropa estadual, em agosto de 1912, já antevendo problemas com aqueles caboclos fanatizados. O capitão João Gualberto estava fixado em Curitiba pelo casamento com Leonor de Moura Brito e, desde 1901, servia como tenente no 13.º Regimento de Cavalaria e daí, como engenheiro, dirigiu a instalação da linha telegráfica entre Curitiba e Foz do Iguaçu. Em 1908 fundou o Tiro Rio Branco, cujo nome foi dado em honra ao grande diplomata. Ainda, em julho de 1910, foi promovido a capitão, sendo, então, ajudante de ordens no comando do Distrito Militar, tendo inclusive instalado o estande de tiro no bairro do Ahú.
O mês de outubro de 1912 tem início com notícias vindas de Palmas de que o "monge José Maria" estava arregimentando caboclos para invadirem as fazendas da região. João Gualberto, comandando pessoalmente uma parte do Regimento de Segurança, partiu de trem para União da Vitória e de lá para Palmas seguiu com a tropa em marcha, na qual levou mais de 50 horas para cumprir o percurso. Ao amanhecer do dia 22 de outubro, entrava nos campos da localidade de Irani, quando foram atacados por mais de 400 fanáticos, que surgiam dos capões de mato dos arredores.
A força policial apesar de contar com uma metralhadora, cujo pente de balas era suportado por uma tira de lona que encharcou ao ser molhada na travessia de um córrego e acabou engasgando sem funcionar teve de suportar ao ataque da malta. No fragor da batalha foi morto o falso monge e João Gualberto foi trucidado. O campo do Irani ficou juncado de cadáveres e corpos feridos. Era dia 22 de outubro de 1912 e morria o bravo comandante do Regimento de Segurança aos 39 anos de idade; começava a sanguinolenta Campanha do Contestado, que só terminaria três anos depois, em 1915, quando o Exército tomou parte ativa e também quando foram usados os primeiros aviões em operação militar na América Latina.
Desses tempos, vamos ficar com imagens históricas de uma epopeia que, infelizmente, não teve um Euclides da Cunha para narrá-la, apesar de ter sido muito mais longa e sangrenta da que aconteceu em Canudos.
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