O mês de setembro marcou a vida de Leidi Quirino Borges, moradora de São José dos Pinhais, região metropolitana. Pela primeira vez, ela viu a água da chuva empoçar no terreno, ficando na altura do joelho. E o problema não ficou apenas do lado de fora. Pelos ralos do banheiro, o esgoto voltou e infestou o ambiente. "Nunca tinha acontecido isso. Falaram que era problema na rede, que não deu conta do volume de esgoto. Mas aqui em casa não tem ligação clandestina", diz.
Leidi não foi a única neste mês que sentiu as complicações da enchente. Somente na segunda-feira, houve na Sanepar 257 reclamações de refluxo do esgoto. O volume de água que em um dia ultrapassou a média de um mês assustou a população. Afinal, as cidades estão preparadas para receber tanta água? Certamente não: basta chover para que o caos se instale. Especialistas, no entanto, dizem que seria possível conter as inundações, desde que houvesse uma cooperação mútua entre os órgãos públicos e os moradores.
As pessoas cometem diversos erros, às vezes sem saber, que resultam em uma rua alagada. No caso do refluxo do esgoto, a Sanepar explica que o grande problema são as ligações clandestinas quando alguém junta, indevidamente, a rede de água pluvial (da chuva) com a de esgoto. O resultado é um volume de água na rede de esgoto muito maior do que o projetado.
Outro vilão para os rios e para as bocas-de-lobo (bueiros) é o resto de areia da construção deixado na frente de casa. "A areia se deposita no fundo dos rios e dos bueiros e começa a entupir. Se a prefeitura não fizer o desassoreamento, formam-se ilhas de areia nos rios que facilitam o transbordamento", explica o diretor do departamento de pontes e drenagens da Secretaria Municipal de Obras, Djalma Mendes dos Santos.
Lixo jogado nas ruas e rios também causa estragos. "Tem gente ainda que é capaz de despejar o óleo de cozinha usado na boca-de-lobo. É claro que ele vai entupir o bueiro. Depois reclamam que a rua ficou alagada. É a mesma coisa que dar um tiro no pé", explica Santos.
Concretar todo o terreno também contribui com as enchentes. A prefeitura exige que 25% do terreno tenha área permeável, ou seja, com grama ou jardim. Depois que as pessoas conseguem o alvará, porém, elas concretam tudo para fazer garagem.
Para o engenheiro ambiental Carlos Mello Garcias, professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), se todas as casas e edifícios tivessem cisterna, as cidades seriam capazes de suportar qualquer volume de água. "É uma pena que a prefeitura ainda não exija as cisternas de todos, apenas das construções maiores", diz. A cisterna é um depósito de água feito no terreno da casa (tipo uma caixa d'água subterrânea) que armazena a água da chuva coletada pelas calhas. Ela ameniza o impacto nas galerias pluviais, pois solta aos poucos o volume de água armazenado.