Um coronel reformado da Polícia Militar do Rio de Janeiro Pedro, de 62 anos, foi preso na noite de sábado (10) ao ser flagrado com uma menina de 2 anos nua dentro de seu carro. Policiais militares também dizem que o oficial ainda tentou suborná-los para escapar. O suspeito vai ser investigado por estupro de vulnerável e corrupção ativa. O coronel possui um histórico de crimes contra crianças: em 1993, ele chegou a ser preso sob suspeita de tráfico de bebês, mas não foi condenado. A mulher acusada de entregar a criança ao coronel, uma jovem de 23 anos, foi presa na manhã desta segunda (13).
Na noite de sábado, algumas pessoas que passavam pelo estacionamento de uma lanchonete notaram que havia uma criança sem roupa em um carro branco, junto com um homem, e ligaram para a polícia. Quando os PMs chegaram, o coronel se assustou e tentou fugir com o veículo, mas foi obrigado pelos policiais a parar na Rua Barreiros.
Segundo o relato dos PMs que realizaram a prisão, ao ser flagrado com a menina, o coronel se identificou como um oficial superior, disse aos policiais para não darem prosseguimento à ocorrência e sugeriu que “resolvessem” a situação ali mesmo. Percebendo que o suspeito tentava escapar do flagrante, um dos policiais passou a filmar discretamente o acusado.
“Segunda-feira, eu resolvo tudo. Vamos acabar com essa ocorrência, entendeu? Eu resolvo tudo. Segunda-feira vai fazer sol. Está ventando hoje”, diz a um dos policiais, que se faz de desentendido, enquanto o coronel explica melhor suas intenções. “Segunda-feira, eu resolvo tudo. Quero saber sua escala. Você vai me procurar e eu vou te procurar. Você e o seu parceiro. Tá certo? Fica atento para acabar com essa ocorrência, tá? Dentro das normas”, diz o coronel.
No momento da abordagem, de acordo com os policiais, chegou ao local uma mulher e disse que o coronel reformado cuidava da criança e de uma outra menina de 12 anos. Passados alguns minutos, ainda de acordo com os PMs, outra mulher chegou e informou que o acusado pagava para sair com as meninas.
Os policiais não aceitaram a proposta e levaram o coronel para a Cidade da Polícia, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Em seguida, ele foi encaminhado ao Batalhão Especial Prisional (BEP) da PM, em Niterói, onde permanece preso. Uma testemunha que trabalha nas proximidades da lanchonete informou que esta não foi a primeira vez que o militar foi visto ali, acompanhado por crianças.
A mulher acusada de entregar a criança ao policial foi presa na manhã desta segunda-feira. A polícia não informou se a jovem tem parentesco com o bebê. Num depoimento contraditório, ela afirmou que foi ao encontro do oficial para receber o dinheiro de uma faxina que ela havia feito na casa dele. Mas teria dito ao pai da criança que a levaria para fazer um cadastro e conseguir uma vaga para tirar fotos em dezembro com Papai Noel em um shopping. Ela alegou ainda que deixou a criança com o coronel porque havia esquecido o celular em casa. Quando voltou, disse ela, o crime já havia ocorrido.
A mãe da criança afirmou à polícia que estava trabalhando quando o crime aconteceu. A polícia também apreendeu no carro do suspeito três frascos de remédios que podem servir para dopar crianças.
Defesa
O coronel está há seis anos na presidência da Caixa Beneficente da PM - entidade sem fins lucrativos que fornece ao policial e a seus familiares serviços de assistência. No site da instituição, o agora suspeito é apresentado como homem influente e bem visto dentro da corporação. A Caixa Beneficente da Polícia Militar do Rio emitiu uma nota defendendo a “presunção da inocência” do coronel
Em nota assinada pelo presidente em exercício, Robson de Almeida Paulo, a entidade lamentou “o ocorrido” e chamou o coronel de “presidente licenciado”. “Que os fatos noticiados pela mídia serão apurados na instrução criminal, respeitados os princípios constitucionais da presunção da inocência, do devido processo legal e o contraditório”, afirma a mensagem. O suspeito é presidente desde abril de 2010 e, segundo o site da Caixa, “ele se empenha para recuperar a instituição”.
A PM informou que o coronel será submetido a um processo administrativo disciplinar, que julgará seu destino na corporação.
Tráfico de bebês
O secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Paulo Melo, lembra que, na década de 90, quando presidiu uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembleia, participou da prisão do coronel, que na época foi acusado de tráfico de bebês.
“Fui procurado por uma associação de moradores de Bangu, que relatou o envolvimento de um PM na venda de crianças. Montamos uma operação com a ajuda do 14 º BPM (Bangu) e ficamos esperando no local onde os bebês eram deixados de manhã, sob o efeito de tranquilizantes, e, à noite, levados pelo bando. Quem da quadrilha chegou para pegar o bebê, de apenas quatro meses, foi o então capitão, preso em flagrante”.
Para Melo, pode haver um envolvimento sistemático do PM em situações de abuso e tráfico de menores desde a década de 90. “Ele se aproximava das mães, geralmente de comunidades muito carentes, e dizia que trabalhava para a Igreja e iria arrumar uma creche. Até colocava os bebês em creches, mas, em seguida, convencia as mães de que elas não tinham condições de criá-las , e que o melhor seria doá-las. Depois, essas crianças eram vendidas pelo oficial”.
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