Foi enterrado, sob aplausos e ao som do Hino do Botafogo, cantado por amigos e parentes, o corpo do ex-diretor da Central Globo de Jornalismo e comentarista esportivo Armando Nogueira.
A cerimônia aconteceu por volta das 12h30 no cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul do Rio. Ele foi velado no estádio do Maracanã.
Durante o enterro, integrantes do Clube Esportivo de Ultraleve sobrevoaram o cemitério. Emocionado durante a despedida, o amigo do jornalista e escritor Carlos Heitor Cony passou mal, teve uma queda de pressão.
Homenagens
"As Olimpíadas do Rio mereciam que o Armando Nogueira estivesse presente. Mas é o ciclo da vida", disse o Ministro dos Esportes, Orlando Silva, durante o velório, no Maracanã
"Devemos tê-lo como exemplo e pretendemos homenageá-lo nas Olimpíadas e na Copa", completou o prefeito Eduardo Paes.
Também presente, o Ministro das Comunicações, Hélio Costa, sintetizou: "O Brasil perdeu uma referência no jornalismo e nós perdemos um amigo querido".
"Vejo Armando como um espírito superior. Foi um exemplo para todos nós. Será sempre lembrado pelas associações que fazia entre poesia e o esporte", disse o diretor geral da TV Globo, Octávio Florisbal, que conheceu o jornalista nos anos 80.
Estádio iluminado
O estádio do Maracanã ficou iluminado durante a noite em homenagem ao ex-diretor da Central Globo de Jornalismo. A secretária estadual de Esportes e Lazer do Rio, Márcia Lins, afirmou que planeja fazer uma outra homenagem ao cronista, com um outro espaço no estádio dedicado a ele.
O jornalista morreu por volta das 7h desta segunda-feira (29), em seu apartamento, na Lagoa, na Zona Sul do Rio, em consequência de um câncer no cérebro.
O jornalista Armando Augusto Magalhães Nogueira, mais conhecido como Manduca, filho único de Armando Nogueira, contou que o estádio do Botafogo, time pelo qual o pai torcia, foi oferecido, mas a escolha pelo Maracanã se deu "porque esse era o endereço do Armando Nogueira todos os domingos".
"Ele não era cronista de um time só, era o cronista do futebol", completou Manduca.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou nota de pesar pela morte do jornalista: "Armando Nogueira foi um dos nomes de maior destaque da história do jornalismo brasileiro, especialmente na televisão e na crônica esportiva. Tinha talento de sobra que lhe permitiu atuar em diferentes mídias, sempre com o mesmo brilho e a mesma preocupação com a qualidade do texto e da informação. Neste momento de perda, quero externar meu sentimento de pesar a seus familiares, amigos, colegas da imprensa e admiradores".
No Acre, onde o jornalista nasceu, o governo do estado divulgou nota de pesar pela sua morte e decretou luto oficial de três dias, período em que as bandeiras do estado terão que ficar a meio mastro nas repartições públicas.
Muitos amigos e parentes foram ao velório, que se estendou durante a noite. O vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho, afirmou que Armando Nogueira mudou a linguagem do telejornalismo brasileiro.
"Armando foi um companheiro maravilhoso no plano pessoal, uma pessoa cativante, adorável. No plano profissional, Armando mudou a linguagem do telejornalismo brasileiro. A televisão começou no Brasil a partir do rádio, então tinha uma linguagem totalmente radiofônica. Armando na TV Globo construiu toda uma linguagem voltada para a televisão com um rigor fantástico na precisão da informação e na qualidade do texto, quando trouxe um padrão de qualidade. Acho que se o Jornal Nacional hoje é o ponto de encontro da maioria dos brasileiros, ele é feito por uma equipe que na grande maioria é de discípulos do Armando, foram todos formados pelo Armando. Armando deixa para nós uma inspiração, mais do que uma lembrança, uma inspiração", disse João Roberto Marinho.
"O telejornalismo, hoje no Brasil, deve muito a ele. Essa homenagem no Maracanã é uma coisa que o Armando Nogueira faria para uma outra pessoa. Isso é uma ideia típica do Armando Nogueira. Quando acontecia alguma coisa emocionante, como a gente ia fechar o Jornal Nacional? Ele tinha ideias brilhantes, ou fazia a gente ter".
Machado de Assis da crônica esportiva
Já o jornalista e escritor Sérgio Cabral, pai do governador do Rio, contou que trabalhou com Armando Nogueira no Jornal do Brasil, em 1959, e o descreveu como um amigo querido e solidário. Cabral disse que herança Armando deixa ao jornalismo:
"Eu digo meus filhos, escrevam bem, caprichem no texto, leiam bastante, porque todos têm um grande exemplo que é o Armando. Aliás, é um exemplo imorredor. Nesse aspecto o Armando não morreu, ele continua aí para nos ensinar a escrever. Eu sempre tentei imitá-lo, mas nunca consegui. Não é a toa que ele era chamado de Machado de Assis da crônica esportiva."
"Ele era um grande amigo, de pelo menos uns 50 anos. É uma grande perda", disse o empresário Antônio Carlos de Almeida Braga.
O diretor de Comunicação da TV Globo, Luis Erlanger, disse que ele é uma espécie de responsável pela introdução do jornalismo na TV brasileira:
"Já tinha o jornalismo impresso, o rádio, mas quem levou o jornalismo para a televisão foi o Armando. Além de tudo, ele levou o conceito de rede. E acho que o jornalismo mais impactante hoje é o da televisão".
O diretor Daniel Filho disse que nos últimos 30 anos Armando Nogueira teve papel importante na sua vida profissional e também pessoal.
"Eu tive a honra de ter o Armando como conselheiro meu. O Armando deixa esse buraco na nossa vida, o conselheiro, da palavra certa, não só na escrita. Para mim o Armando não foi, ele deixou tudo na minha cabeça e no coração de seus amigos".
Ausente do país, o presidente das Organizações Globo, Roberto Irineu Marinho, divulgou nota sobre o falecimento do jornalista:
"Quando passei a trabalhar mais de perto com Armando Nogueira, eu estava na casa dos trinta e ele na casa dos cinquenta, mas nunca houve entre nós uma distância de gerações. Armando sempre foi jovem, e creio que foi essa força juvenil que o equipou para não somente ajudar a criar o telejornalismo brasileiro, mas para fazê-lo num dos períodos mais difíceis de nossa história, em pleno regime militar, com censores nos vigiando o tempo inteiro.
Fui testemunha de como ele, mesmo sob enorme pressão, lutava para manter o ânimo entre os jornalistas, testando cotidianamente os limites, não permitindo que a autocensura se tornasse uma prática. Na ditadura ou na democracia, porém, foi sempre rigoroso com o que ia ao ar, fosse nas coberturas históricas, fosse no dia a dia: era implacável na busca pela correção, pelo equilíbrio e, uma qualidade muito dele, pelo texto perfeito. Deixou-nos isso como norma.
Era um prazer tê-lo como colaborador, mas era um prazer ainda maior ser seu amigo e dividir com ele algumas paixões, como os voos de ultraleve, que praticou, como um jovem, até os 80. Hoje, eu, como todos os que tiveram a alegria de conviver com Armando, fico com essa lição: é possível ser sério, disciplinado, rigoroso, sem nunca deixar para trás o frescor da juventude".
Luto oficial
O governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes anunciaram luto oficial de três dias pela morte "do grande jornalista Armando Nogueira, cujo texto se confunde com os melhores momentos do futebol brasileiro. Um acreano que, na juventude, veio morar no Rio de Janeiro e se transformou em um dos ícones do jornalismo do país". Biografia
Torcedor apaixonado pelo Botafogo e, em especial, pelo futebol, participou da cobertura de diversas Copas do Mundo a partir de 1954 e dos Jogos Olímpicos, a partir de 1980.
Armando nasceu no Acre e veio para o Rio de Janeiro com 17 anos, onde se formou em direito. A carreira de jornalista começou em 1950, no jornal Diário Carioca, onde foi repórter, redator e colunista. Ao longo dos 60 anos de carreira, passou também pela Revista Manchete, O Cruzeiro, Jornal do Brasil.
O jornalista trabalhou ainda na Rede Bandeirantes, e atualmente estava no SportTV, onde apresentava o programa Papo Com Armando Nogueira, e na Rádio CBN, onde participava do CBN Brasil.
Escreveu textos para o filme "Pelé Eterno" (2004) e é autor de dez livros, todos sobre esporte: Drama e Glória dos Bicampeões (em parceria com Araújo Neto); Na Grande Área; Bola na Rede; O Homem e a Bola; Bola de Cristal; O Vôo das Gazelas; A Copa que Ninguém Viu e a que Não Queremos Lembrar (em parceria com Jô Soares e Roberto Muylaert), O Canto dos Meus Amores; A Chama que não se Apaga, e A Ginga e o Jogo.