Nenhuma araucária poderá ser cortada no Paraná até janeiro de 2017. Nem mesmo com autorização. O Instituto Ambiental do Paraná (IAP) estendeu por 120 dias a proibição de derrubar a espécie ameaçada de extinção. A determinação valia desde julho, quando, pressionado pelo Ministério Público e um conjunto organizações ambientais, o IAP reconheceu que havia uma pressão sobre as áreas nativas e interrompeu as autorizações provisoriamente por 60 dias. Naquela ocasião, o órgão ambiental havia dito que poderia estender a proibição de corte, já que o MP pleiteava que a medida vigorasse por um ano, até que um plano para conter a extinção fosse colocado em prática.
Um grupo técnico foi criado para discutir a recuperação da Mata Atlântica no estado. Só serão permitidas as autorizações de supressão em casos bem específicos, por exemplo quando representam riscos para a população – situação de uma árvore que seja danificada por raio ou com queda parcial sobre a fiação elétrica.
Apesar de ser uma espécie ameaçada de extinção, com apenas 0,8% da distribuição original em condições conservadas, o corte da árvore símbolo do Paraná era liberado em algumas situações. O corte irregular de cada árvore representa multa de R$ 500. Caso o desmate seja numa Área de Preservação Permanente (APP) ou o desmatador seja reincidente, o valor sobe substancialmente.
De acordo com as ONGs ambientais, o IAP autorizou o corte de uma área de mata de araucária equivalente a 693 campos de futebol somente em 2014. Os números não levam em conta as derrubadas não autorizadas. Contudo, um levantamento da Fundação SOS Mata Atlântica mostra que o Paraná foi o recordista nacional em devastação de Floresta Atlântica, no acumulado dos últimos 30 anos.
Entre os anos de 2014 e 2015, ainda segundo o mesmo estudo, desapareceram 1.988 hectares de florestas no estado. O levantamento considera apenas derrubadas maiores do que três hectares – assim, não enxerga o chamado desmate seletivo, em que somente as espécies mais rentáveis são cortadas, resultando no empobrecimento da biodiversidade da área.
Moradores se revoltam com árvores suprimidas
A Gazeta do Povo recebe frequentemente “denúncias” de leitores indignados com o corte de árvores. Mesmo quando a supressão foi autorizada pelas autoridades, a revolta costuma ser manifestada: seja pelo vazio na paisagem, seja pelo entendimento de que pouco resta da natureza original. Foi o caso de uma mensagem que chegou da cidade de Realeza, no Sudoeste do Paraná. Um grupo chegou a fazer manifestação no local em que 1237 araucárias foram cortadas, recentemente, perto da área urbana.
De acordo com o Instituto Ambiental do Paraná (IAP), trata-se de araucária de reflorestamento (plantada em 1979), passível de corte depois de vencido o prazo de 20 anos do projeto. A autorização foi concedida, então, cinco dias antes de entrar em vigor a proibição de corte no Paraná.
Mesmo com a justificativa do órgão ambiental, uma leitora (que preferiu não se identificar) lamenta a situação. “Era uma mata boa. O Sudoeste quase não tem mais manchas de araucária. Na área tinha três nascentes, esquilos e pequenos saguis. Fizemos uma manifestação, em luto”, resume.
Da cidade que leva o nome da árvore-símbolo do Paraná, Araucária, chegou outra reclamação. Um morador, que também não quis ter o nome divulgado, denunciou o corte de muitas espécies numa região que faz divisa entre a área urbana e rural do município. “Era uma mata fechada. O desmatamento começou há uns três meses. Já cortaram bastante, mas ainda um pouco. Denunciei, mas ninguém impede isso”, disse. Informado sobre a situação pela Gazeta do Povo, o IAP declarou que se trata de uma área de invasão e que o caso foi repassado para a prefeitura, responsável pela gestão ambiental.