Número de negros mais que dobrou
O porcentual de estudantes negros na UFPR mais do que dobrou depois da implantação das cotas. Segundo a advogada Dora Lúcia Bertulio, chefe da Procuradoria Jurídica da UFPR, antes os negros eram apenas 5% nos bancos acadêmicos. Hoje, são 13%. "Nosso maior ganho foi quebrar a hegemonia. Tínhamos quase uma casta de pessoas privilegiadas que chegavam à universidade. Hoje isso mudou", afirma.
Em busca de apoio para seguir estudando
O sistema de cotas aumentou o número de estudantes negros e pobres nas universidades, mas um problema ainda persiste: a falta de apoio à conclusão do curso. Muitos estudantes de famílias de baixa renda ainda têm de optar entre continuar na universidade ou largar os estudos para trabalhar. Neli Gomes da Rocha, 27 anos, um exemplo de cotista que deu certo, revela que quase abandonou o curso de Ciências Sociais. "Pensei várias vezes em largar, por causa do trabalho", conta Neli, que se forma em julho e ficou em primeiro lugar quando apresentou seu trabalho no Encontro de Iniciação Científica de 2008. "Isso é frequente entre cotistas, principalmente nos cursos integrais. Os alunos não podem trabalhar e não têm como pagar os gastos", diz.
Como funciona
O sistema de cotas foi criado em 2004 e já passou por algumas alterações.
- De todas as vagas disponíveis em cada curso no vestibular da UFPR, 20% são reservadas para negros e 20% para alunos que fizeram o ensino fundamental e o médio em escola pública.
- Na primeira fase do vestibular, as cotas não são consideradas. Só passa para a segunda fase o vestibulando que conseguir nota igual ou superior à pontuação mínima exigida em cada curso. As cotas passam a valer apenas na segunda fase e na elaboração da lista de aprovados.
- Se, em um determinado curso, um grupo de cotistas não preenche todas as vagas a que tem direito, os lugares restantes são ocupados por cotistas do outro grupo, e não pelos não-cotistas.
- Quem é aprovado como cotista, mas não consegue comprovar que é negro ou estudou em escola pública, perde a vaga.
O aluno cotista da Universidade Federal do Paraná (UFPR) desiste menos dos cursos que seus colegas não-cotistas, mas também leva mais tempo para completar seus estudos. Os dados parciais divulgados pela UFPR a pedido da Gazeta do Povo mostram que o rendimento dos cotistas raciais e sociais está muito próximo dos demais estudantes.
Segundo a UFPR, dos 1.497 alunos cotistas que ingressaram em 2005 (ano em que começou a vigorar o sistema de cotas na instituição), 112 estudantes, ou 9,7% dos que permanecem na universidade, já colaram grau. A porcentagem é parecida com a dos alunos não-cotistas. De acordo com a UFPR, dos 2.647 não-cotistas que entraram na universidade em 2005, 215 já colaram grau, ou 10,8% dos que não desistiram. Os dados ainda são preliminares, já que mais alunos deverão se formar até maio, e alguns cursos duram mais de quatro anos nesses casos, nenhum cotista terminará o curso antes do fim de 2009.
Entre os não-cotistas que entraram na UFPR em 2005, 1.979 permanecem na instituição, ou 74,7% do total. Já entre os cotistas, o índice de permancência é de 77,6% 1.162 alunos que ingressaram em 2005. Em 2005, 924 cotistas sociais entraram na universidade. Outros 573 entraram por meio do sistema de cotas raciais.
Para a pró-reitora de graduação da UFPR, Maria Amélia Sabbag Zainko, a diferença não está relacionada ao perfil ou ao desempenho dos estudantes, e sim à estrutura da própria universidade. De acordo com ela, alguns cursos têm uma grade que torna quase impossível a conclusão da graduação em quatro anos para alunos que trabalham em outros períodos. Há disciplinas obrigatórias em diferentes períodos. Quando o acadêmico não cursa uma delas, já atrasa a conclusão do curso por seis meses. Maria Amélia diz que a adequação da universidade ao novo perfil dos alunos será uma prioridade dessa gestão. "Já fui pró-reitora no início da década de 90. Naquela época, a maior parte dos estudantes podia se dedicar exclusivamente à graduação. Hoje a situação é inversa", afirma.
Um ponto positivo levantado por Maria Amélia e por outros especialistas é que os cotistas são os estudantes que menos abandonam a universidade ou optam por mudar de curso. A pró-reitora argumenta que essa é uma discussão em andamento dentro da universidade. A ideia é otimizar tanto o tempo de conclusão da graduação, para que os acadêmicos cumpram o prazo correto, quanto diminuir a evasão, para poder criar oportunidades para os demais alunos que ainda não conseguiram uma vaga. As desistências maiores são em cursos como Física e Filosofia.
Quando o assunto é o desempenho nos cursos, cotistas e não-cotistas têm atuação semelhante. A diferença é de poucos pontos porcentuais. Em 2005, os sociais estiveram na frente nos quesitos periodização após um ano (com 52% de aproveitamento), disciplinas obrigatórias cursadas com sucesso (79%) e nota média. Em seguida estão os não-cotistas e os raciais. Em 2006, a situação se repetiu.
Entre 2005 e 2008, o curso que mais recebeu cotistas raciais, segundo a UFPR, foi Ciências Contábeis: 59 estudantes. Destes, apenas quatro haviam desistido até o fim do ano passado. A seguir vêm Pedagogia (noturno), com 51 estudantes, Direito (noturno), com 48, Educação Física (licenciatura) e Medicina, com 46. O curso com o maior número de evasões foi Estatística: 19 em três anos. A seguir aparecem Filosofia, com 10 desistências; Ciência da Computação e Pedagogia, com 9; e Direito (noturno), com 8.
Já entre os cotistas sociais, o curso com o maior número de ingressos entre 2005 e o ano passado foi Engenharia Civil, com 136 estudantes, seguido de Agronomia, com 113; Medicina, com 112; Administração (noturno), com 98; e Ciências Contábeis, com 92. Os maiores índices de evasão foram registrados nos cursos de Estatística (46) e Matemática licenciatura (38).
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