O aluno cotista da Universidade Federal do Paraná (UFPR) desiste menos dos cursos que seus colegas não-cotistas, mas também leva mais tempo para completar seus estudos. Os dados parciais divulgados pela UFPR a pedido da Gazeta do Povo mostram que o rendimento dos cotistas raciais e sociais está muito próximo dos demais estudantes.
Segundo a UFPR, dos 1.497 alunos cotistas que ingressaram em 2005 (ano em que começou a vigorar o sistema de cotas na instituição), 112 estudantes, ou 9,7% dos que permanecem na universidade, já colaram grau. A porcentagem é parecida com a dos alunos não-cotistas. De acordo com a UFPR, dos 2.647 não-cotistas que entraram na universidade em 2005, 215 já colaram grau, ou 10,8% dos que não desistiram. Os dados ainda são preliminares, já que mais alunos deverão se formar até maio, e alguns cursos duram mais de quatro anos nesses casos, nenhum cotista terminará o curso antes do fim de 2009.
Entre os não-cotistas que entraram na UFPR em 2005, 1.979 permanecem na instituição, ou 74,7% do total. Já entre os cotistas, o índice de permancência é de 77,6% 1.162 alunos que ingressaram em 2005. Em 2005, 924 cotistas sociais entraram na universidade. Outros 573 entraram por meio do sistema de cotas raciais.
Para a pró-reitora de graduação da UFPR, Maria Amélia Sabbag Zainko, a diferença não está relacionada ao perfil ou ao desempenho dos estudantes, e sim à estrutura da própria universidade. De acordo com ela, alguns cursos têm uma grade que torna quase impossível a conclusão da graduação em quatro anos para alunos que trabalham em outros períodos. Há disciplinas obrigatórias em diferentes períodos. Quando o acadêmico não cursa uma delas, já atrasa a conclusão do curso por seis meses. Maria Amélia diz que a adequação da universidade ao novo perfil dos alunos será uma prioridade dessa gestão. "Já fui pró-reitora no início da década de 90. Naquela época, a maior parte dos estudantes podia se dedicar exclusivamente à graduação. Hoje a situação é inversa", afirma.
Um ponto positivo levantado por Maria Amélia e por outros especialistas é que os cotistas são os estudantes que menos abandonam a universidade ou optam por mudar de curso. A pró-reitora argumenta que essa é uma discussão em andamento dentro da universidade. A ideia é otimizar tanto o tempo de conclusão da graduação, para que os acadêmicos cumpram o prazo correto, quanto diminuir a evasão, para poder criar oportunidades para os demais alunos que ainda não conseguiram uma vaga. As desistências maiores são em cursos como Física e Filosofia.
Quando o assunto é o desempenho nos cursos, cotistas e não-cotistas têm atuação semelhante. A diferença é de poucos pontos porcentuais. Em 2005, os sociais estiveram na frente nos quesitos periodização após um ano (com 52% de aproveitamento), disciplinas obrigatórias cursadas com sucesso (79%) e nota média. Em seguida estão os não-cotistas e os raciais. Em 2006, a situação se repetiu.
Entre 2005 e 2008, o curso que mais recebeu cotistas raciais, segundo a UFPR, foi Ciências Contábeis: 59 estudantes. Destes, apenas quatro haviam desistido até o fim do ano passado. A seguir vêm Pedagogia (noturno), com 51 estudantes, Direito (noturno), com 48, Educação Física (licenciatura) e Medicina, com 46. O curso com o maior número de evasões foi Estatística: 19 em três anos. A seguir aparecem Filosofia, com 10 desistências; Ciência da Computação e Pedagogia, com 9; e Direito (noturno), com 8.
Já entre os cotistas sociais, o curso com o maior número de ingressos entre 2005 e o ano passado foi Engenharia Civil, com 136 estudantes, seguido de Agronomia, com 113; Medicina, com 112; Administração (noturno), com 98; e Ciências Contábeis, com 92. Os maiores índices de evasão foram registrados nos cursos de Estatística (46) e Matemática licenciatura (38).