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O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio (Cremerj) abriu sindicância para apurar as circunstâncias da morte da modelo Raquel Santos, de 28 anos, que sofreu uma parada cardíaca após um procedimento estético na clínica Wagner Moraes Cirurgia Plástica, no bairro São Francisco, em Niterói. O médico, segundo o Cremerj não tem título de especialista registrado na órgão, informação que não é obrigatória para os profissionais inscritos no conselho.

Por meio de nota, o Cremerj cita os artigos II e V do capítulo 1 do Código de Ética Médica, segundo o qual “os médicos devem ter o bom senso de realizar apenas os procedimentos dos quais tenham conhecimento e capacidade profissional, ou seja, um médico pode realizar qualquer procedimento desde que assuma a responsabilidade e se considere apto para tal”.

O artigo II diz que “o alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional! Já o V diz que “compete ao médico aprimorar continuamente seus conhecimentos e usar o melhor do progresso científico em benefício do paciente”.

Investigação

O delegado Mário Lamblet, da 79ª DP (Jurujuba), que apura o caso, espera colher amanhã o depoimento do médico e das equipes de plantão na clínica particular e no Hospital de Icaraí, para onde a modelo foi levada e onde já teria chegado sem vida. A investigação vai tentar esclarecer uma controvérsia: o carimbo que consta no atestado de óbito da jovem é do Hospital Municipal Carlos Tortelly, em Niterói, para onde ela sequer foi levada, enquanto o documento é assinado por Wagner Moraes.

“Precisamos saber se isso é normal ou é um tipo de cessão para outro hospital. O caso todo se deu em face dessas controvérsias”, disse o delegado, acrescentando que o médico não tinha nenhum antecedente policial.

Uma série de exames complementares que podem detectar se a modelo morreu intoxicada devem ficar prontos em até 30 dias. Foram coletadas amóstras de sangue e fragmentos de órgãos da modelo.

Médico desconhecia uso de estimulante

À reportagem, Wagner Moraes disse que a paciente não revelou que utilizava diariamente a substância de uso veterinário Potenay, usada para aumentar a massa muscular de cavalos, por exemplo. A informação foi confirmada pelo marido da jovem à Polícia Civil.

“Ela mentia, negava, não relatava, como não relatou, o uso deste medicamento veterinário. Ela estava com uma bomba relógio dentro do corpo e eu não sabia disso. Além do fato de, há cerca de dez anos, segundo a própria mãe dela, fumar três maços de cigarros por dia. A autópsia provará minha inocência”, ressaltou.

O presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), Luciano Chaves, afirmou que o médico Wagner Moraes não tem especialização nesta categoria profissional, embora exerça a atividade há décadas. Wagner Moraes, no entanto, afirmou que a especialização foi conseguida na Baylor College of Medicine, em Houston, no Texas, Estados Unidos, durante dois anos de curso.

“Tenho 46 anos de experiência em cirurgia plástica. Fiz pós-graduação em cirurgia vascular na PUC e especialização em cirurgia plástica em Houston. Sou o médico que mais faz cirurgia plástica no país na atualidade. Sou bastante conhecido”, disse.

Sobre o fato de não ter encaminhado o corpo de Raquel para o Instituto Médico-Legal, Moraes disse que atendeu a um apelo da família.

“A mãe já sabia que a filha não estava bem. Usava bombinha para respirar melhor por causa do tabagismo. Eles queriam finalizar logo. Achavam que não seria necessário saber de mais nada”, afirmou.

O médico contou que foi até o Hospital Municipal Carlos Tortelly pegar uma guia de atestado de óbito e que preencheu o documento.

“A primeira pergunta respondi que a causa da morte era desconhecida por que o Hospital Icaraí, para onde a levei com parada cardiorespiratório não soube informar. Em seguida, escrevi intoxicação exógena, por causa do uso da substância veterinária”, contou.

Ele disse que o que fez não foi uma cirurgia e, sim, um procedimento dermatológico.

“Foi uma injeção subcutânea para rugas. Um dermatologista faz isso. Ou qualquer médico”, disse.

Moraes também não tem especialização em dermatologia, segundo informou a Sociedade Brasileira de Dermatologia. A médica Leandra D’Orsi Metsavaht, diretora da entidade, entretanto, afirma que não há histórico na literatura científica mundial de contraindicação do ácido aplicado na modelo.

“Ela era tabagista e fumava três maços por dia. Essa pessoa está sujeita a uma trombose, a qualquer coisa. Isso andando na rua. Fumar três maços por dia é uma carga muito grande. É comum a trombose mesmo em pessoas jovens. A gente sabe que uma combinação que não funciona é fumar e tomar pílula. O que aconteceu com esse médico é uma fatalidade. Não acredito de forma alguma que tenha sido o procedimento em si”, disse Leandra.

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