Autoridades de saúde dos Estados Unidos confirmaram o primeiro caso do zika vírus no país. Ele foi diagnosticado em um paciente no condado de Harris, no estado do Texas.
De acordo com a imprensa local, o paciente voltou recentemente de uma viagem à América Latina, onde teria contraído a doença. O risco de o vírus se espalhar nos EUA é motivo de preocupação no país, principalmente depois que um primeiro caso foi registrado em Porto Rico, no fim do ano passado.
O risco de entrada do vírus no país por um estado do sul, como o Texas, havia sido alertada por especialistas, mas eles previam que provavelmente isso aconteceria somente daqui a alguns meses, quando as temperaturas subirão no hemisfério norte.
Segundo Peter Hotez, diretor do Hospital Infantil do Texas, as condições nos EUA são propícias para a proliferação do vírus, que no Brasil tem sido associado a casos de microcefalia em bebês – má-formação cerebral que pode trazer limitações graves ao desenvolvimento da criança.
“Há uma tempestade perfeita se formando para o vírus zika nos EUA”, disse Hotez ao site especializado Medscape. “Temos duas espécies de mosquitos Aedes que podem transmitir o zika em nossa área. Também temos altos níveis de pobreza, com pessoas vivendo sem telas nas janelas e perto de pneus abandonados e outros locais onde há água acumulada e os mosquitos podem procriar”.
No fim do ano passado, as autoridades norte-americanas divulgaram um alerta para quem planeja viajar para a América do Sul, com medidas de prevenção contra o zika como o uso de repelente e blusas de manga comprida. “Mulheres grávidas devem tomar precauções extras para evitar picadas de mosquitos”, diz o site do Centro para o Controle e Prevenção de Doenças do governo.
Europa
Países europeus estão recomendando “vigilância” de seus estados-membros diante da proliferação de casos do zika vírus no Brasil e em países da América Latina e pede que os médicos nos serviços públicos do continente sejam alertados sobre o surto. As autoridades europeias também estão orientando os governos do bloco a fortalecer a capacidade de seus laboratórios para poder testar eventuais casos que surjam na região.
O alerta faz parte um documento produzido pelos europeus em dezembro diante da proliferação de casos brasileiros, que foram ao menos 500 mil em 2015. Segundo a União Europeia, 19 países registraram casos nos últimos nove meses e a tendência é de que a proliferação continue. Na avaliação de risco, o bloco recomenda ainda que os governos europeus não permitam a doação de sangue por pessoas que tenham passado pelas áreas indicadas pela avaliação, incluindo o Brasil.
A Europa não apresenta nenhum tipo de sugestão para que seus cidadãos deixem de visitar o Brasil ou outras áreas afetadas. Também não existe qualquer restrição sobre o comércio, mas deixa claro que “viajantes a países onde o zika vírus está circulando estão sob o risco de desenvolver a doença pela picada do mosquito”.
A preocupação imediata dos europeus é com a contaminação em seus territórios ultramarinos, como no caso da Ilha da Madeira ou na Guiana Francesa, com casos que poderiam ser rapidamente importados para a Europa continental.
Uma das preocupações é que, sem informação, os médicos não identifiquem pessoas contaminadas e façam diagnósticos equivocados.
Atenção
O caso também chamou a atenção dos pesquisadores, que já alertam que a comunidade internacional corre o risco de repetir com o zika os mesmos erros que permitiram a proliferação do vírus do ebola, há dois anos. O alerta é de Trudie Lang, professora da Universidade de Oxford e uma das coordenadoras do Global Health Research, uma das maiores redes de pesquisadores do mundo, com mais de 50 mil membros.
Em entrevista, ela aponta que a doença que ganha força no Brasil já é “uma preocupação internacional” e apela para que recursos sejam “imediatamente” destinados para a pesquisa sobre como o zika é transmitido e como freá-lo. “O mundo está acabando de sair do pior surto de ebola e não pode cometer os mesmos erros de novo”, disse por telefone. “Precisamos acelerar as pesquisas.”
Segundo ela, a situação é tão preocupante que os cientistas não têm condições nem mesmo de dizer se o vírus tem o potencial de chegar até a Europa ou Estados Unidos. “Sabemos menos do zika vírus do que sabemos do ebola”, disse. “Não sabemos como é transmitido e como pará-lo. Existem muitas questões em aberto.”