Não é só o dinheiro que está acabando para a ciência brasileira. Uma crise de cérebros também vem sendo cozinhada em fogo baixo há vários anos, e a tampa da panela está prestes a explodir em várias instituições, que veem seus quadros mais experientes serem esvaziados ano a após ano por aposentadorias, sem perspectiva de renovação.
É o caso do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), responsável pela produção de 95% dos radiofármacos usados para diagnóstico e tratamento de doenças no país. Com um rombo de R$ 50 milhões em seu orçamento, o instituto só tem recursos suficientes para funcionar até o final de agosto. Se até lá não entrarem novos recursos do governo federal, a produção de radiofármacos será paralisada.
Não bastasse isso, o Ipen vem perdendo cerca de 50 servidores/ano por aposentadoria, dentro de um quadro de aproximadamente 800 funcionários. Nos últimos três anos foram 150 aposentadorias, segundo o superintendente Carlos Bressiani; e só neste primeiro semestre de 2016 ele já assinou mais 26. “Nossa situação é muito crítica, tanto de recursos financeiros quanto humanos”, disse-me Bressiani, durante a reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Porto Seguro.
Para piorar as coisas, os técnicos do instituto entraram em greve esta semana, por causa de um erro num projeto de lei que definia seus reajustes salariais.
Não faz muito tempo, o diretor do Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA), Bruno Castilho, contou a mesma história. Só neste ano ele já assinou 6 aposentadorias; o que representa quase 10% do quadro de funcionários da instituição, que é uma pedra fundamental da astronomia brasileira, tanto no campo da pesquisa básica quanto do desenvolvimento tecnológico de instrumentação astronômica.
“Estamos perdendo nosso pessoal mais antigo, mais experiente”, destaca Castilho. “Se não forem criados mecanismos de reposição perderemos a capacidade de atuar em vários projetos e corre-se o risco de perder a memória técnica da instituição.”
O último concurso aberto para contratação de pessoal no LNA foi em 2012. No Ipen, pior ainda: foi em 2009. “Depois que passar a crise financeira, teremos uma crise de cérebros”, alerta Castilho.
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