
Às vésperas do Natal, o risco de um novo caos aéreo cresceu ontem depois que mais uma reunião entre as companhias de aviação e os trabalhadores do setor terminou sem acordo. Diante do impasse nas negociações de reajuste salarial, aeroviários (que fazem as operações em solo) e aeronautas (tripulação de voo) mantiveram um indicativo de greve para amanhã, a partir das 6 horas, o que pode trazer transtornos para milhares de passageiros. A situação já preocupa o governo, que considera que os sindicalistas estão fazendo "terrorismo" às vésperas do fim de ano e, por isso, ameaça acionar a Justiça e aplicar multas altíssimas.A reunião no Ministério Público do Trabalho (MPT) demorou mais de três horas. As empresas elevaram ontem a proposta de reajuste de 6,08%, que é a correção pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), para 6,58%, ou seja, meio ponto porcentual de ganho real, mas os trabalhadores recusaram. Os aeronautas exigem um reajuste de 15% e os aeroviários, de 13%.
O consultor do Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), Odilon Junqueira, disse que a proposta de aumento foi a "única possível", mas os empresários também propuseram antecipar um novo reajuste para maio de 2011.
Já o secretário-geral do Sindicato Nacional dos Aeroviários, Marcelo Schmidt, disse que a proposta apresentada pelos empresários foi uma "provocação". "A insatisfação do trabalhador aeroviário é absurda, está muito grande. Mesmo sem greve, o trabalhador da aviação vai, no mínimo, atrasar os voos nesse dia", disse.
"É para a segurança da sociedade. Se não houver respeito à greve, pode haver acidentes", completou o presidente do Sindicato dos Aeronautas, Gelson Dagmar Fochesato, que ressaltou que as tripulações estão "com os limites de voo esgotados".
O Sindicato das Empresas saiu da reunião confiante de que os trabalhadores não estão articulados o bastante para fazer a paralisação. "Não podemos deixar a sociedade refém de uma situação como essa. Temos convicção de que não vão fazer paralisação na véspera do Natal. Temos confiança no elevado espírito profissional dos aeroviários", afirmou Junqueira.
Otimismo
O procurador-geral do Trabalho, Otavio Brito Lopes, afirmou que as negociações continuam e que há tempo ainda para evitar a greve. O consenso, porém, parece distante, nas propostas de reajuste e no sentimento de que a greve vai acontecer. "Entre 6,58% e 15%, há espaço para continuar a negociação até o dia 23 [amanhã]", afirmou. Segundo o procurador, as empresas afirmaram, na reunião, que não há mobilização suficiente dos trabalhadores para o início da paralisação.
O Ministério Público do Trabalho afirma que a greve é um direito constitucional e que vai intervir somente em caso de não atendimento às necessidades básicas de segurança, saúde e vida dos passageiros. "Durante uma greve, sempre há algum tipo de prejuízo para a sociedade. Essa greve não seria uma exceção", afirmou o procurador. Segundo o procurador, aeronautas e aeroviários não têm de manter uma cota mínima em atividade.



