A médica cubana Ramona Rodriguez, que abandonou o programa Mais Médicos na semana passada, e trabalhará na AMB (Associação Médica Brasileira) em Brasília, receberá um salário de R$ 3.000. O trabalho começa nesta quarta-feira (12).
Pela legislação brasileira, Ramona não pode atuar como médica fora do programa. Ela foi contratada com carteira assinada pela entidade e receberá além do salário, benefícios como vale-transporte, vale-refeição e plano de saúde, que somam quase R$ 1 mil.
De acordo com o presidente da entidade, Florentino de Araújo, Ramona cumprirá funções administrativas de assessoria da presidência. Ela trabalhará das 8h à 18h, com duas horas de intervalo para almoço.
"Não somos contra mais médicos no país, mas para trabalhar aqui, as leis vigentes precisam ser respeitadas. [...] Vínculo formal de trabalho é o que defendemos para todos os que trabalham aqui", afirmou Araújo.
A entidade se comprometeu a ajudá-la a se preparar para prestar o Revalida, exame nacional que permite a médicos estrangeiros trabalhar no Brasil caso sejam aprovados.
"Nós vamos ajudar no que ela precisar. Vamos fazer isso para que ela faça o Revalida, seja aprovada e aqui possa trabalhar no nosso país sendo tratada de maneira digna, contratada formalmente pelas leis brasileiras e não sendo submetida à escravidão que nós julgamos que ela estava sendo submetida até pouco tempo atrás", disse Araújo, que se comprometeu a ajudar qualquer outro médico cubano que queira sair do Mais Médicos.
Para Araújo, a alegação de que o programa engloba um curso de formação para os médicos não pode ser usada pelo governo para não pagar benefícios trabalhistas. "Não podemos admitir um médico trabalhando no Brasil e recebendo $400 dólares. Não podemos compactuar com a afirmação de que esses médicos estão fazendo um curso porque não é verdade. Eles estão trabalhando", disse Araújo.
O governo pode negociar com Cuba um aumento de salário para os profissionais do Mais Médicos. Para Araújo, no entanto, a medida não resolve o problema dos cubanos. "O governo brasileiro tem que explicar porque está tratando os médicos brasileiros assim e tem que informar para onde vai o dinheiro da bolsa", disse. O Brasil paga R$ 10,5 mil por cada médico cubano mas os profissionais recebem apenas $400 dólares no Brasil. Outros $600 são depositados em uma conta em Cuba mas os médicos só podem acessá-la quando voltarem para o país. Também é paga uma taxa à Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) de 5% do valor do contrato.
O anúncio da contratação foi feita em uma coletiva de imprensa realizada no início da tarde de hoje. Ramona estava presente, mas não quis dar declarações.
A médica deixou o programa no sábado da semana passada após constatar que o valor pago aos médicos cubanos do programa era muito menor do que o pago a profissionais de outros países.
Outro caso
O médico Ortelio Jaime Guerra também deixou o programa do governo federal. Assim como sua compatriota Ramona, ele buscou os Estados Unidos como forma de não voltar a Cuba. Os EUA possuem um programa de vistos específicos para profissionais cubanos em missão no exterior que não querem retornar à ilha.
Em sua página no Facebook, Guerra contou, na madrugada de ontem, ter deixado o posto em Pariquera-Açu (SP) e já estar nos Estados Unidos.
"Meus amigos de Pariquera-Açu, eu preciso que vocês saibam que tive que ir embora de lá sem falar isso pra ninguém por questões de segurança", diz o médico na rede social, em um misto de português e espanhol.
"Estou bem, agora nos Estados Unidos, e ainda que considere preciso dar este passo sempre me sentirei muito orgulhoso de minha terra e minhas raízes", postou o médico.
Segundo seu perfil, ele é especialista em nefrologia, formado no Instituto Superior de Ciências Médicas de Camaguey.
O médico cubano deixou o trabalho há 16 dias.