A ideia de uma Curitiba europeia está mais para mito do que para realidade. É o que busca mostrar um city tour apresentado pela Trilhas, empresa júnior do curso de Turismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A iniciativa pretende levar o público para conhecer, por meio de pontos da cidade, um pouco da influência da cultura negra na formação da capital paranaense. O primeiro passeio deve ocorrer no próximo dia 22 de setembro, dentro das atividades programadas para a I SemanAfro da Universidade.
“Precisamos acabar com a ideia de que não temos negros na cidade ou apenas tratar a figura deles como a de escravos na história. Eles tiveram uma contribuição muito importante para Curitiba”, sustenta a coordenadora de projetos da Trilhas, Larisse Oliveira, ao lembrar que o último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já apontava que a cidade está longe de ser formada só por brancos. Hoje, negros e pardos são pelo menos 25% da população curitibana.
Desenvolvido por professores do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (Neab), o tour começa nas Ruínas de São Francisco, em direção à Igreja da Nossa Senhora do Rosário ou Igreja do Rosário dos Pretos, como já foi chamada. “É uma igreja que foi construída e projetada por negros. Inicialmente a construção era em madeira”, comenta Larisse.
Ela observa que boa parte dos pontos do roteiro estão próximos do Largo da Ordem. Isso inclui a arquitetura de edificações erguidas com técnicas com adobe e taipa, e, ainda, o famoso “bebedouro” da região. A fonte era parada certa de fazendeiros e tropeiros, incluindo os negros, e seus cavalos.
As praças, conforme a diretora, também têm papel importante ao longo do tour. A começar pela Praça Tiradentes, que era palco de um pelourinho, transferido posteriormente para a Rua das Flores, e que abriga gameleiras, árvores consideradas sagradas no candomblé. Na Praça Zacarias, o destaque é um chafariz construído por um dos irmãos Rebouças, o engenheiro negro alforriado Antônio Rebouças. “Também podemos ver traços negros na escultura do homem nu, na Praça 19 de Dezembro. No Paço da Liberdade, a escultura da Maria Lata d’água, que já teve o nome de Água para o Morro, retrata um pouco da beleza e o lugar da mulher negra na sociedade”, assinala Larisse.
O tour passa ainda pela Sociedade Operária Beneficente 13 de Maio, primeira construção histórica dos negros paranaenses, o Memorial de Curitiba e termina na Praça Santos Andrade. O percurso tem a duração prevista de 1h30 e conta com guia para entender os aspectos históricos de cada ponto visitado.
Parcerias, conforme Larisse, devem ser buscadas para oferecer o tour à comunidade após a I SemanAfro, como junto à Fundação Cultural de Curitiba ou a Curitiba Free Walking.