Opinião
Alexandre Costa Nascimento, jornalista e ciclista
O prefeito que não sabia pedalar
O prefeito Luciano Ducci (PSB) deu sua contribuição ao Dia Mundial sem Carro despejando um pouco mais de dióxido de carbono (CO²) na já tóxica atmosfera de Curitiba. Para dar expediente ontem, o prefeito não gastou sola de sapato, não quis dar algumas pedalas e ignorou até mesmo o badalado biarticulado Azulão. Foi para o Palácio 29 de Março de carro mesmo, como sempre faz, atropelando solenemente uma data comemorada em mais de 2 mil cidades do planeta.
Se ignorou como pessoa física, Ducci também se omitiu como autoridade: não preparou nenhuma ação específica para marcar a data na cidade. Ao contrário do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB) e do senador Eduardo Suplicy (PT), que usaram a bicicleta, saíram bem na foto, viraram notícia e de quebra ganharam a imagem de políticos "moderninhos".
Na tentativa de reverter a imagem negativa, ainda durante a tarde de ontem, a assessoria do prefeito divulgou uma nota no site oficial da prefeitura reafirmando o "compromisso" com as bicicletas. A prova disso? A criação de uma "câmara técnica" para discutir o assunto e o projeto de implantação de 22 quilômetros de ciclovias que, sem um plano diretor, liga nada a lugar algum. "A prefeitura de Curitiba tem investido de forma significativa na melhoria das ciclovias já existentes e na ampliação da malha cicloviária de forma a garantir deslocamentos seguros para os ciclistas curitibanos", diz o texto.
A referida nota, entretanto, omite o fato de que o mesmo prefeito que "tem toda a simpatia à causa da bicicleta" autorizou o corte de 72% no orçamento municipal para construção e manutenção da rede cicloviária da cidade, reduzindo a previsão de R$ 2 milhões para R$ 590 mil, segundo dados do site Curitiba Aberta. Em nove meses, a prefeitura só executou R$ 126 mil, no único desembolso feito durante este ano, no mês de maio.
Curitiba ignorou ontem o Dia Mundial sem Carro, comemorado em cerca de 2 mil cidades do globo. Ao contrário de outros anos, quando fechou ruas importantes e incentivou os habitantes a buscar meios de transportes alternativos, a administração pública não se mobilizou e deixou que a única ação fosse organizada pela sociedade civil: a marcha das mil bicicletas, que teve início na Praça Santos Andrade e rodou pelo centro da cidade à noite.De acordo com a Urbs, que gerencia as ações de trânsito em Curitiba, a prefeitura decidiu não realizar nenhuma ação específica ao Dia sem Carro. A opção foi pela conscientização por meio de panfletagens hoje, psicólogos vão conversar com motoristas em dois pontos da cidade. Desde domingo, ao menos 20 mil motoristas, pedestres e motociclistas foram abordados por agentes de educação de trânsito.
Professor do mestrado e doutorado em Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, o arquiteto Clóvis Ultramari considera um desperdício de oportunidade para divulgar outros meios de transporte. "Esse dia poderia ser usado para fazer experiências de mobilidade na cidade. O objetivo seria testar ideias a serem aprimoradas, como a carona solidária ou o rodízio de veículos", afirma. Ultramari lembra que a data prevê a reflexão por parte da população.
A coordenadora de Núcleo de Psicologia do Trânsito da Universidade Federal do Paraná, Iara Thielen, afirma que as panfletagens estão cumprindo o papel educativo na Semana Nacional do Trânsito. "As pessoas devem assumir sua parcela de responsabilidade e tentar se mobilizar para que o dia aconteça. Não há necessidade de a prefeitura organizar atos no dia", opina.
"Magrelas"
Aproximadamente 500 ciclistas participaram da marcha das mil bicicletas. Um grupo eclético de pessoas que fazem da "magrela" um estilo de vida se reuniu na Praça Santos Andrade, sem distinções etárias ou sociais. O publicitário Eduardo Lubiazi, de 23 anos, distribuiu adesivos do "Ciclista Legal", apoiando a relação harmoniosa entre bikes e carros. "É uma campanha de tom neutro. Os motoristas não precisam ser agressivos e os ciclistas não devem ser radicais", diz. A campanha vai seguir na internet, via redes sociais, e os adesivos disponibilizados em locais com grande concentração de pessoas.
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Interatividade
A prefeitura de Curitiba está certa em não promover nenhuma ação alusiva ao Dia sem Carro? Por quê?
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