Futuro
Conferência vai discutir política pública
A educação profissional de jovens está entre os temas a serem discutidos na 7ª Conferência Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, que começa hoje e segue até quinta-feira no Centro de Convenções de Curitiba. A sociedade civil e poder público discutirão o futuro das políticas públicas voltadas à juventude para a próxima década. Entre os assuntos também estão a universalização dos direitos; proteção e defesa das crianças; fortalecimento e integração do sistema de garantia de direitos; e participação nos espaços de construção da cidadania. O evento é promovido pelo Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente e pela Secretaria da Criança e da Juventude.
Um em cada dois sem-trabalho no Brasil é jovem. A taxa de desemprego na faixa dos 15 aos 24 anos chega a ser 3,5 vezes a dos adultos, conforme dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apurados em 2008. Falta experiência e mais anos de estudo a essa parcela da população. Se a porta do emprego é fechada, "outras" costumam ser abertas com mais facilidade. O raciocínio é simples. Segundo o Ipea, pessoas de 18 a 24 anos são as mais facilmente identificadas como infratoras.
O pesquisador do Ipea Roberto González, por ocasião da publicação do estudo, disse que o mercado de trabalho melhorou no Brasil nos últimos anos, mas o avanço foi menor entre os mais jovens. Isso justificaria a necessidade de políticas públicas para tentar assegurar o lugar desses trabalhadores no mercado. Uma das ações nessa linha é o ProJovem Trabalhador, programa do governo federal de qualificação profissional dos jovens de baixa renda.
A ação, no entanto, não irá ocorrer neste ano em Curitiba: um balde de água fria para os 9.491 inscritos da capital e região metropolitana para 7 mil vagas disponíveis. Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, a cidade perdeu o prazo para a realização do ProJovem e terá que reiniciar todo o trâmite. O órgão alega que o orçamento para 2009 já foi fechado e o programa não irá sair neste ano.
Os jovens esperavam se qualificar para o mercado de trabalho e ao mesmo tempo ganhar uma ajuda de custo de R$ 100 por mês. O dinheiro para o programa já estava na conta da prefeitura, mas, por problemas de licitação, a capital ficou de fora. O programa virá no ano que vem, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego. A informação ainda não chegou aos mais interessados: os jovens, que começariam as aulas neste mês.
O líder comunitário Carlos Roberto Teles, conhecido como Chameguinho, conta que cerca de 400 jovens da Vila das Torres foram inscritos, já que programas como esse são raros. "Os inscritos estão cobrando bastante, de quando vai começar o curso", diz. "A gente não tem resposta nenhuma. Parece que a coisa sumiu no ar."
A informação também não chegou ao estudante Kassius Gabriel Amazonas, 18 anos. Ele mora na vila Doutor Ulisses, no Pinheirinho, e está aguardando ser chamado. Através do programa, Kassius quer se qualificar para futuramente poder ganhar a vida com seus desenhos. "Se o ProJovem for cancelado, para mim é ruim. Um ano de atraso que vou continuar fazendo bicos", diz enquanto mostra as bolhas na mão ao ajudar a construir uma calçada.
Enquanto Kassius espera pelo próximo ano, o irmão dele, Ramon, 22 anos, que participou da ação em 2007, lembra o quanto aprendeu. Os empregos posteriores dele não foram pelo ProJovem. Porém, o que mais destaca é o conhecimento adquirido. "Ensinaram o valor de um cidadão. Várias coisas que na escola normal você não aprende", diz Ramon.
Autonomia
Para a secretária de Estado da Criança e da Juventude, Thelma Alves de Oliveira, o desafio é incluir a política de formação profissional no sistema educacional. Segundo ela, em 2003 havia 11 mil alunos de educação profissional no sistema educacional público. Em 2008, eram 75 mil. "É algo importante, que tem sido resgatado. Dentro do sistema educacional, isso foi meio que esquecido com o tempo", afirma. Segundo ela, a educação profissional é uma das principais demandas dos jovens. "Eles querem estar preparados para o mercado de trabalho, para terem sua autonomia financeira, poder sair de casa, se tornarem autônomos."
A Agência Curitiba de Desenvolvimento S/A calculou que 71.076 alunos cursam o ensino médio na capital. Desses, 17 mil se formam a cada ano. Somado o número de alunos que concluem o ensino nos nove municípios próximos a Curitiba, a marca salta para 27 mil. Para o gestor de desenvolvimento tecnológico da agência, Manoel Tadeu Barcelos, a grande maioria deixa o ensino médio sem perspectiva do que fazer. "O que preocupa é o que apresentar para esse jovem." Uma ação desenvolvida é o programa Lapidando Talentos, para pessoas de 17 a 21 anos, com aulas na área de Tecnologia da Informação.
O secretário municipal do Trabalho, Jorge Bernardi, diz que haverá outros programas. Um deles será o Consórcio da Juventude, em que o governo federal faz convênios diretos com instituições para capacitá-los. "Queremos recuperar não só as sete mil vagas do ProJovem, mas também criar outras 5 mil", diz. Ele explica que os nomes dos inscritos no ProJovem serão apresentados às empresas que abrirem vagas temporárias, enviados a agências de emprego e encaixados nas oportunidades do Sistema Público de Empregos (Sine). As inscrições no ProJovem continuam valendo para a próxima turma.
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Oportunidades
Veja outros programas que dão oportunidade aos jovens de 14 a 29 anos:
ProJovem Urbano
Programa para jovens de 18 a 29 anos. Os alunos têm aulas do currículo normal para concluir o ensino fundamental, de qualificação profissional e ações de participação cidadã. Recebem bolsa de R$ 100 por mês. Cerca de 700 pessoas participam em Curitiba, onde 1.077 já concluíram o programa desde 2006.
Comunidade Escola
Estimula o desenvolvimento dos bairros com atividades nas escolas nos sábados e domingos, das 9 às 17 horas. São palestras, cursos e atividades recreativas e esportivas. Em Curitiba, 75 escolas da rede municipal participam da ação.
Brasil Profissionalizado
Criado em 2007 pelo Ministério da Educação, tem como foco juntar o conhecimento do ensino médio com o estágio. Para jovens de 18 a 29 anos. Leva em conta o desenvolvimento da educação básica na rede local de ensino e projeta os resultados para a melhoria da aprendizagem.
Contratos de aprendizagem
Jovens de 14 a 25 anos são aprendizes. Eles estudam meio período e trabalham no outro. Também fazem cursos ligados à área em que estão atuando.
Adolescente Aprendiz
Ação do governo do estado que atende adolescentes com idade entre 14 a 18 anos incompletos que estejam cumprindo medidas socioeducativas ou beneficiados com remissão. Eles recebem qualificação profissional em serviços administrativos.
Casa Familiar Rural
Local dentro do município ou dentro de uma região destinado à formação técnica, humana e gerencial dos jovens do meio rural e pesqueiro.
Cursos do Sistema S
O Sistema S, composto por Sesc, Senai, Senac e Sesi, oferece vagas gratuitas para formação básica e continuada
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