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| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Há dez anos, Shary Caroline Pereira Lozano, de 26 anos, voltou ao Brasil disposta a revolucionar a própria vida a partir da educação. Filha de mãe brasileira e pai boliviano, ela nasceu em Curitiba, mas dos 3 aos 16 anos morou no país andino. Por isso, além de dificuldades econômicas, ela teve que transpor as barreiras do idioma e aprender o português. Por causa de sua luta para estudar, Shary ganhou o prêmio Viva Seu Sonho, concedido pelo Soroptimist Internacional do Brasil, uma organização voltada a amparar mulheres.

Soroptimist

Entidade internacional – com atuação no Brasil – composta por mulheres que se reúnem para ajudar e liderar ações em benefício de meninas e mulheres pelo mundo. Saiba mais sobre a organização.

“Eu sempre vi nos estudos uma forma de conseguir uma vida melhor, com mais qualidade. Na Bolívia, a educação é muito fraca, então deixei minha família e vim pra cá”, disse Shary, que cursa engenharia química na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Assim que retornou a Curitiba, a jovem foi morar com uma tia. Conseguiu uma bolsa de estudos em um cursinho e mergulhou nos livros. Durante o dia trabalhava – como garçonete ou ajudante de cozinha – e estudava à noite. Como foi alfabetizada em castelhano, teve que dar duro para ser aprovada.

“Eu tinha uma noção de português por causa de livros antigos que minha mãe tinha e porque meu pai gostava de ler Paulo Coelho. Mas minha língua materna foi o espanhol. Então eu sempre tive essa desvantagem em relação aos demais. Tinha que me dedicar em dobro”, apontou.

No ano passado

Em 2015, a angolana Isabel Tchicoco Yambi, de 24 anos, foi a ganhadora do prêmio. Ela é cega e, enfrentando uma série de dificuldades, conseguiu se formar em direito. Desde 2001, Isabel mora em Curitiba, com um grupo de angolanos - também deficientes visuais.

Já aprovada, Shary teve que enfrentar um problema familiar. O tio alcoólatra se tornava agressivo quando bebia. Ameaçava quem estivesse por perto. Por causa disso, ela chegou a perder até provas na universidade. “Ele [o tio] era um doce, mas quando bebia virava outra pessoa. Muitas e muitas vezes, quando ele estava bêbado, eu faltava à aula para ficar com a minha tia, para proteger, caso ele tentasse fazer alguma coisa”, contou.

Ao mesmo tempo, Shary enfrentou dificuldades financeiras. Os pais até tentavam ajudar, mas com a desvalorização do peso boliviano frente ao real, pouco conseguiam enviar à filha. Como o dinheiro era curto, ela dividia os fins de semana entre os estudos e os “bicos”. “Eu tive que trancar o curso, em 2011. Fiquei um ano e meio parada”, relatou.

Exemplo

Shary acredita que sua história seja semelhante a de milhares e milhares de brasileiros que lutam para ter uma formação. Além disso, ela avalia que sua vivência também seja parecida à dos migrantes, que vem ao Brasil em busca de oportunidades. Se por um lado a jovem ficou surpresa por ter vencido o prêmio, ela acredita que seu caso pode servir de exemplo e incentivar outras pessoas a persistirem no caminho da educação.

“Quando a gente quer alguma coisa, tem que ir atrás e confiar. Não pode desistir. No caminho, vai ter muita gente que vai querer te puxar pra baixo, mas vai ter muita gente que gosta de você e que vai te ajudar a conseguir o que você quer”, afirmou.

Prêmio

Como prêmio, Shary ganhou US$ 5 mil, que devem ser investidos em seu desenvolvimento pessoal. Ela pretende usar parte do dinheiro para pagar a faculdade e investir em uma pós-graduação no exterior. A história de Shary foi descoberta pela soroptimista Zenaide Bortot, que faz parte do grupo há dez anos. “Eu espero que esse prêmio faça a diferença na vida dela, que ela aproveite para sua formação, porque ela é uma grande mulher”, definiu Zenaide.

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