Com quase quatro meses de atraso, o Curso de Formação de Oficial (CFO) da Academia Policial Militar do Guatupê (APMG) começou na última semana. Serão 68 cadetes que almejam se tornar os próximos oficiais da corporação. A grade curricular do curso foi reformulada: equilibrará carga de treino de tiro letal, de baixa letalidade e defesa pessoal. O que permanece é o rigor tradicional, alvo de reclamações e críticas constantes de alunos veteranos e de oficiais já formados.
A reportagem conversou com seis cadetes que já estudam na APMG e falam sobre a realidade do aluno. Para eles, é preciso melhorar o curso com um quadro docente mais qualificado [mais professores mestres e doutores ], mais civis e carga horária menos exaustiva.
Atualmente, de acordo com a diretora da Academia, tenente-coronel Karin Krasinski, há dois mestres e um doutor, além de um doutorando e um mestrando.
Formação
Os cadetes reclamam de violação da dignidade, com carga horária semanal extenuante e punições por besteiras, como ‘papel não autorizado sobre a carteira da sala de aula’ e ‘etiqueta em desalinho’. “Ficamos privados do convívio familiar”, reclama um deles. Outro conta que já ficou em aula 14 horas em um só dia.
Para outro cadete, o maior problema são humilhações sofridas e punições exageradas por pequenas transgressões disciplinares. “A falta de punição para fatos graves acaba por deturpar, um pouco, o que é passado em sala de aula”, afirma um deles, se referindo às aulas de Direitos Humanos.
A reportagem teve acesso ao quadro demonstrativo de processos da seção de Justiça e Disciplina da PM e as sínteses dos fatos. Neste ano, foram abertos 21 formulários de apuração de transgressão disciplinar (FATD). Em um deles, o documento explica que uma cadete teve aberto o procedimento contra si porque abordou o subcomandante da APMG para falar sobre escalas de serviço sem anuência da escola de oficiais. Em 2014, foram 49, e no ano anterior 48.
Os três anos de CFO têm total 4 mil horas. Apenas 1% – 30 horas – é destinado para Direitos Humanos. O currículo do último curso contava com 20 horas destinadas para o policiamento comunitário, aquele que tem objetivo de aproximar o cidadão da polícia. A expectativa é de mudanças e os cadetes pedem pelo aumento da carga horária dessas disciplinas.
A mudança será bem vista pelos alunos. Todos os cadetes e policiais ouvidos pela reportagem afirmam que essas temáticas de direitos humanos são tratadas em várias disciplinas de forma transversal, não apenas na matéria que leva o mesmo nome. Ainda assim, ressaltam a crítica. “Atualmente a disciplina é muito bem ministrada pelo atual instrutor, contudo, com pouca carga horária e com pouco aprofundamento”, resume um dos cadetes.