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De artesanato à batata-doce: Rua XV de Novembro vira “feirão de ambulantes”

Ângelo Giuseppe Amorim, de 43 anos, usa sprays coloridos para conseguir dinheiro extra | Antônio More/Gazeta do Povo
Ângelo Giuseppe Amorim, de 43 anos, usa sprays coloridos para conseguir dinheiro extra (Foto: Antônio More/Gazeta do Povo)

O comércio da Rua XV de Novembro vai muito além dos estabelecimentos formais. É no próprio calçadão, bem no meio dos pedestres, que são realizadas vendas rápidas de produtos variados, que vão de roupas falsificadas a brinquedos, passando por espetinhos e até quentão. Em tempos de crise, muita gente tem optado pela atividade de vendedor ambulante para ter uma renda ou se manter ocupado.

É o caso de Rafael dos Santos, de 19 anos. Morador do Alto Boqueirão, ele circula pelo centro com uma carriola levando frutas e legumes. Desde que perdeu o emprego de pintor, parou de estudar e foi para o centro oferecer os produtos. Busca as mercadorias no Ceasa e as revende por um preço melhor. “Chego cedo e vou até à noite vendendo. Volto para casa sem nada”, comenta o rapaz, que, em nove meses como vendedor ambulante, já tem freguesia própria na região.

Quem ainda é novo na XV tenta chamar a atenção como pode. Os repentistas Ezequiel Pedro da Silva, 56, e Manoel Pereira dos Santos, 52, usam o talento com as rimas para parar quem caminha por perto. De passagem por Curitiba – Ezequiel é de Pernambuco e Manoel, da Paraíba, eles tentam vender CDs e DVDs no calçadão. Os materiais, que custam entre R$ 10 e R$ 20, fazem parte da produção das duplas que cada um compõe – “Verde Luís (Ezequiel) e Pena Branca”; e “Pepino e Manu (Manoel) ”.

“Tentamos fazer o máximo para ver se agradamos as pessoas”, relata Ezequiel. A prática surtiu efeito enquanto a reportagem estava com eles. O som da voz dos dois, acompanhado de pandeiros, foi o convite para que curiosos começassem a se interessar.

Tem que ser criativo

Estar em “ação” também é a tática do grafiteiro Ângelo Giuseppe Amorim, de 43 anos, para atrair potenciais fregueses. A propaganda do trabalho é feita ao vivo, enquanto ele pinta telas com sprays coloridos. Naturalmente, uma multidão o cerca, para assistir como cada desenho irá terminar. Ao final, ele fecha as vendas. “Faço isso desde 1996, aprendi praticando. Mas é difícil viver de arte”, lamenta. As telas custam entre R$ 25 e R$ 30.

O produto do ambulante Adilson Sérgio Blitzkow, 64, também chama atenção por si só. Trata-se de um ferrorama feito com arame e latinhas de refrigerante. Os vagões, dependendo da posição do brinquedo, se mexem sozinhos. “Tenho vendido mais para adulto do que para criança”, conta o vendedor, que era pintor automotivo, mas acabou deixando o ofício para cuidar da mãe. “Depois, perdi o embalo da profissão e tive essa ideia para vender”, diz. Cada ferrorama custa R$ 20.

A secretária Neuralice Maina, 60, comprou o artesanato e fez questão de recomendar a peça aos familiares. O ferrorama já está na estante dela. “Gostei muito. Primeiro, porque usa a reciclagem. Segundo, porque é algo muito criativo e, terceiro, porque a pessoa se dispõe a vir ao centro vender o produto, mesmo sendo de idade”, analisa.

A atividade de ambulante, embora não seja regulamentada pela prefeitura, não tem atrapalhado os pedestres do calçadão, avalia a estudante Camila Canali, 22, uma das usuárias do trecho. “É uma forma que eles têm de trabalhar”, pontua. A tecnóloga em estética Meline de Oliveira Yan, 25, também não vê problema em dividir espaço com esses vendedores. “Às vezes, estamos com um pouco de pressa, por conta de algum compromisso, mas eles não interferem”, diz.

Fiscalização

Nem o setor de Fiscalização da prefeitura nem a Associação Comercial do Paraná (ACP) conseguem calcular o aumento dos vendedores ambulantes nas ruas de Curitiba. No entanto, ambas admitem que, a “olhos nus”, a atividade irregular cresceu no município desde o ano passado.

Segundo o diretor do setor na Secretaria Municipal de Urbanismo, Marcelo Bremer, Curitiba tem hoje cinco equipes de fiscalização para percorrer o centro, parques e bairros. A fiscalização é diária, inclusive na Rua XV de Novembro. “Quem está irregular, orientamos para que saia do local. O ambulante também está sujeito à apreensão e descarte do material que está vendendo”, comenta.

Neste ano, até julho, foram apreendidos 31.252 itens, em especial CDs, DVDs, perfumes e carteiras de cigarro. Em 2015, no mesmo período, foram apreendidos 39.970 itens.

Bremer assinala que existe possibilidade de regularização para artistas de rua que vendem produtos advindos de seu trabalho e ambulantes que estejam vendendo produtos como alimentos, artesanato, artigos de couro, bijuterias, armarinhos, meias, roupas íntimas e camisetas. “A licença é gratuita e importante porque ajuda no combate à pirataria e na segurança alimentar da população, no caso da venda de alimentos”, pontua o diretor.

Para se cadastrar, é preciso procurar o Núcleo de Urbanismo, situado na Rua da Cidadania da Matriz. Uma vez liberada a licença, o vendedor ambulante regularizado deverá atuar em pontos de comércio pré-estabelecidos pela secretaria. O setor tem atualmente 1.280 ambulantes cadastrados e ativos, a maioria voltados à venda de cachorro quente e caldo de cana.

Arte vendida por Ângelo Giuseppe na Rua VX de Novembro, em Curitiba | Antônio More/Gazeta do Povo

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Arte vendida por Ângelo Giuseppe na Rua VX de Novembro, em Curitiba

Adilson Sérgio Blitzkow e sua arte de recicláveis | Antônio More/Gazeta do Povo

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Adilson Sérgio Blitzkow e sua arte de recicláveis

Rafael dos Santos, de 19 anos, parou de estudar e foi para a rua oferecer os produtos | Antônio More/Gazeta do Povo

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Rafael dos Santos, de 19 anos, parou de estudar e foi para a rua oferecer os produtos

Repentistas Ezequiel Pedro da Silva, 56, e Manoel Pereira dos Santos, 52, usam o talento com as rimas para parar quem caminha por perto | Antônio More/Gazeta do Povo

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Repentistas Ezequiel Pedro da Silva, 56, e Manoel Pereira dos Santos, 52, usam o talento com as rimas para parar quem caminha por perto

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