A delegada Bárbara Arrais vai ouvir, nesta quinta-feira (22), o depoimento de dois padres suspeitos de cometer abuso sexual contra adolescentes em Arapiraca (AL). Dois dos três religiosos investigados estão proibidos de deixar a cidade. Um deles, que tem título de monsenhor, cumpre prisão preventiva em regime domiciliar desde terça-feira (20). Ele foi preso após prestar depoimento na CPI da Pedofilia, no domingo (18), e transferido para o 3º Batalhão da Polícia Militar de Arapiraca antes de seguir para casa.
Ela informou que vai usar, no interrogatório dos dois religiosos, informações obtidas no depoimento de um dos suspeitos, que teria confessado os crimes e feito acordo de delação premiada, que beneficia o criminoso quando colabora consensualmente com a Justiça criminal. "Ele nos deu informações importantes sobre o caso, mas o inquérito segue em segredo de Justiça para não atrapalhar o curso da investigação", disse Bárbara.
A delegada é a responsável pelo inquérito e atende a um pedido feito pelo Ministério Público Estadual (MPE) para cuidar do caso ao lado da delegada Maria Angelita Souza, da Delegacia da Mulher da capital alagoana. Ambas são de fora da cidade de Arapiraca, conforme pedido da promotoria. "Tínhamos prazo incial de 30 dias para concluir a investigação, mas o prazo foi prorrogado por mais 60 dias. Agora, o que preciso saber é se o prazo será reduzido automaticamente pelo fato de termos réu preso."
Pedido de liberdade
O advogado Edson Maia, que representa o religioso, disse ao G1 que pediu a revogação da prisão preventiva com base na Lei de Execuções Penais, que prevê o benefício para réus e investigados com mais de 70 anos de idade e problemas de saúde. "O monsenhor tem 83 anos e enfrenta problemas de pressão, que foram acentuados desde que ficou preso."
Maia explicou que a prisão domiciliar terá efeito até que o juiz John Silas, da 8ª Vara Criminal de Arapiraca, analise o pedido do advogado pela revogação da prisão preventiva. "Ele [monsenhor] vai ficar em casa, preso, até a nova decisão do juiz, seja pela manutenção da prisão domiciliar ou pela revogação da prisão, o que o colocaria em liberdade."
O advogado disse que o religioso segue com o mesmo discurso que prestou à Polícia Civil e aos integrantes da CPI da Pedofilia. "Ele confirma que manteve relações sexuais com os coroinhas, mas quando estes já estavam na fase adulta. Ele afirma categoricamente que não manteve relações com eles enquanto eram menores de idade. O monsenhor nega que seja pedófilo."
Outro lado
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota, em 16 de março, em que o bispo da diocese de Penedo (AL), dom Valério Breda, informa sobre o afastamento dos religiosos de suas funções eclesiásticas e a instauração de um Processo Administrativo Penal, de acordo com o Código de Direito Canônico. O documento foi assinado pelo religioso cinco dias antes da divulgação pela CNBB.
No texto, o bispo diz "reprovar, de forma irrestrita e com o coração despedaçado pela vergonha e pela tristeza, os fatos, mesmo que ainda não provados". Breda afirma que "nenhuma das supostas vítimas citadas nos supostos atos de abuso, tampouco seus familiares, procuraram oficialmente o bispo diocesano para denunciar o caso."
No documento, o bispo diz ainda que vai ajudar a polícia e a Justiça no esclarecimento do caso.