O delegado Antônio Bonfim, da 5ª DP (Lapa), afirmou neste domingo (15) que os proprietários do restaurante Filé Carioca, que explodiu na última quinta-feira (13), mentiram quando disseram, por meio do advogado Bruno Castro, que os cilindros de gás estariam num local arejado. Mais cedo, peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli retiraram seis botijões sob os escombros do estabelecimento. Eles estariam num local que seria o vestiário dos funcionários.
"A ignição que originou a centelha da explosão é o que menos importa. Não ocorreu um ato, mas uma sucessão de atos que conduziram a esta situação. Há um problema seríssimo ali. O lugar é totalmente impróprio a instalação dos cilindros de gás. Para piorar a situação, eles disseram que estavam em um local arejado, mas não é verdade. Estavam num lugar confinado e, com isso, criaram um ambiente ideal para um resultado dessa ordem", disse o delegado.
Antônio Bonfim acrescentou que aguarda pelo término do trabalho dos peritos, que ainda não alcançaram a cozinha do restaurante para saber de onde saíam as mangueiras encontradas no sábado. Ele suspeita de que a mangueira de gás remendada com fita isolante tenha causado o vazamento.
Os cilindros foram localizados no sábado, junto com as válvulas e a mangueira. Suspeita-se de que os equipamentos encontrados no sábado pertençam a uma lan house que funcionava no prédio. Os agentes, no entanto, ainda não encontraram o disco rígido do computador onde estariam armazenadas as imagens do circuito interno de vídeo do estabelecimento. Uma retroescavadeira continua retirando os escombros para encontrá-los. Os peritos procuram ainda mais cilindros, além dos canos que conduziam o gás para a cozinha, que ficava nos fundos do prédio.
Intimado a depor, o dono do restaurante, Carlos Rogério do Amaral, ainda não compareceu à delegacia alegando problemas de saúde. Ele e o irmão, Jorge do Amaral, que estava no restaurante na hora do acidente, devem ser ouvidos na segunda-feira. Segundo o advogado do empresário, Bruno Castro, técnicos da SHV Gas fizeram a manutenção dos botijões dois dias antes do acidente.
"Nenhum funcionário fazia a troca de gás. Quem fazia era a empresa responsável, regularmente inscrita em todos os órgãos competentes", disse o advogado.
Segundo a SHV Gas, a mangueira encontrada pela polícia é normalmente usada em botijões de 13 quilos ou eventualmente usada para ligar a tubulação de gás ao ponto de consumo doméstico, não em cilindros como os encontrados no Filé Carioca. A empresa sustenta que a integridade e a manutenção dos componentes são responsabilidade do consumidor. Após ouvir os donos do estabelecimento, a polícia deve intimar os responsáveis pela empresa de manutenção.
Disque Denúncia tem recorde de ligações
Desde o acidente até as 16h de sábado, o Disque-Denúncia (2253-1177) contabilizou 244 ligações no Estado do Rio com informações sobre depósitos clandestinos, instalações inadequadas em estabelecimentos comerciais e até em residências. Só na capital fluminense foram 190 registros neste período. No ano todo, já incluindo os registros após a tragédia, o órgão lista 1.750 denúncias no estado (média de seis por dia); e, destas, 1.113 na cidade do Rio (em média, três por dia). O pico de ligações ocorreu um dia após a explosão, quando foram listadas 106 denúncias no estado, sendo 92 na capital.
De acordo com a coordenadora do Disque-Denúncia, Adriana Nunes, a lista com os endereços citados é encaminhada a prefeitura, Defesa Civil e Corpo de Bombeiros, para que os órgãos tomem providências.
"Assim que as denúncias chegam, são encaminhadas às autoridades para serem averiguadas. Estes órgãos não têm como fazer a fiscalização em todo o Rio, por isso é importante que a população colabore e denuncie", afirma.
Embora o Disque-Denúncia esteja enviando as denúncias também à prefeitura, a assessoria da Secretaria Especial de Ordem Pública (Seop) afirmou neste sábado (15) que a fiscalização do armazenamento de cilindros e botijões de gás cabe unicamente ao Corpo de Bombeiros. Segundo a corporação, as denúncias são encaminhadas à Ouvidoria e, de acordo com o endereço, enviadas para o quartel da área correspondente, que fica responsável por checá-las. Mesmo com o número elevado de registros nos últimos dias, os bombeiros dizem não haver a necessidade de uma força-tarefa para realizar o serviço de fiscalização.
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