Após a morte do cinegrafista da TV Bandeirantes Gelson Domingos, o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Erir Ribeiro Costa Filho, disse na segunda-feira à Agência Brasil que quer estabelecer um critério para coberturas jornalísticas de operações policiais nas favelas. Gelson morreu durante operação policial na Favela de Antares, na Zona Oeste do Rio, no domingo.
"Vamos tentar reunir os sindicatos dos cinegrafistas e dos jornalistas para conversar sobre um critério de segurança. Quando um policial falar com os repórteres 'daqui vocês não podem passar', que eles entendam e, por segurança própria, obedeçam à orientação", disse Erir.
O diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio, Rogério Marques, defende um freio à atuação de jornalistas em confrontos policiais: "O tráfico não pode calar a imprensa, mas deve existir um limite para a exposição do jornalista. E esse limite tem que ser estabelecido com as empresas. Elas podem desestimular o jornalista diante do risco."
O cinegrafista Allex Neder, que estava trabalhando em Antares, acompanhou os últimos momentos de Gelson e conta que alguns profissionais entraram na favela depois do sinal verde da polícia. Segundo Neder, depois de serem solicitados a aguardar por causa do tiroteio, eles tiveram a entrada liberada porque o Bope já teria tomado conta do local. Mas o grupo acabou no meio do fogo cruzado.
O delegado da Divisão de Homicídios da capital, Felipe Ettore, não descarta a possibilidade de o autor do disparo que matou Gelson estar entre os mortos ou entre os presos durante a ação. Para o delegado, as imagens cedidas pela TV Bandeirantes, feitas por Gelson, podem ajudar a identificar o assassino. Os vídeos gravados foram encaminhados ao Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE). De acordo com Ettore, o tiro que atingiu o cinegrafista atravessou o corpo dele e a bala não foi encontrada.
"Todo o armamento e todo o material que foi recolhido será analisado juntamente com as imagens da TV Bandeirantes", disse o delegado, explicando que o momento agora é de analisar as informações.
O repórter da TV Bandeirantes que estava com Gelson na operação, Ernani Alves, disse, durante o velório do colega de trabalho, que tem colaborado nas investigações da polícia no sentido de identificar o assassino do cinegrafista: "Só vou descansar na hora em que o traficante que atirou no Gélson for preso. Já temos informações sobre quem efetuou o disparo. A polícia inclusive já tem o nome, e existe a possibilidade de ele ser preso ainda hoje."
Familiares, amigos e jornalistas acompanharam, na tarde de segunda-feira, o enterro de Gelson no Memorial do Carmo, no Caju. A mulher do cinegrafista, Edilene Domingos, pediu aos repórteres que não fizessem imagens do corpo do marido.
"É um pedido dele. Ele queria fazer a notícia e nunca virar uma. Ele sempre preferiu ficar atrás das câmeras", disse Edilene.
O irmão, Paulo Domingos, disse que o cinegrafista morreu fazendo o que mais gostava: "Tenho muito orgulho do trabalho de Gelson. Lamento ele ser mais uma vítima da violência no Rio", declarou.
No fim da tarde, uma faixa em homenagem ao cinegrafista foi colocada nas areias da Praia de Copacabana, na Zona Sul, pela ONG Rio de Paz, com a frase: "O tiro que acertou o seu peito, atingiu os nossos olhos". O ato foi realizado na altura da Avenida Princesa Isabel, ao lado de uma cruz preta de cinco metros de altura que foi colocada em memória à engenheira Patrícia Amieiro, que está desaparecida desde junho de 2008.
Os nove presos no domingo durante a operação foram apresentados na manhã de segunda-feira na Divisão de Homicídios. Entre eles há um menor, de 15 anos. Policiais militares do 27º BPM (Santa Cruz) informaram que a favela está ocupada por homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope), do Batalhão de Choque e do 2º Comando de Policiamento de Área (2º CPA). No início da tarde desta segunda, a polícia prendeu mais duas pessoas na comunidade. Marcos da Silva Cruz, de 22 anos, também conhecido como "Lango-Lango", e Clayton da Silva Inácio, de 20 anos, seriam traficantes e foram presos no beco onde o cinegrafista foi atingido. Os dois foram levados para a 36ª DP (Santa Cruz). Com eles foram encontrados uma pistola, maconha e uma moto.
No domingo, foram detidos pela polícia Renato José Soares, o "BBC", de 39 anos, gerente da venda de drogas na comunidade, já condenado por tráfico; Leandro Ferreira de Araújo, o "China", de 30 anos, braço direito do tráfico na região, com passagens por porte de armas e drogas; Rodrigo Feliciano Raimundo, de 24 anos, com passagens por porte de armas, roubo e falsidade ideológica; André Cassiano Carneiro dos Santos, de 22 anos, com passagem por tráfico de drogas. Também foram presos Vinicius William da Silva Lopes , de 20 anos, Victor dos Santos Pires, 19, Tiago da Silva Leite, 22, Jeferson da Silva Ferreira, 20, e o menor de idade P.F.C., de 15 anos, todos sem antecedentes criminais. Com eles foram apreendidos aparelhos de radiotransmissão, maconha, cocaína e uma pistola 9mm.
Além do cinegrafista Gelson Domingos, outras quatro pessoas foram mortas durante os confrontos: Tafarel Simões da Silva, de 20 anos, já tinha passagem pela polícia por tráfico de drogas; Maxsuam Gomes da Rocha, 20 anos, tinha passagem por porte de armas, tráfico e furto; Antonio Carlos Ferreira Neto, de 18 anos, que respondeu por tentativa de homicídio quando menor de idade, além de Jorge Ricardo dos Santos, 22 anos, sem antecedentes. Com os mortos foram encontrados, segundo a polícia, um fuzil calibre 556, uma pistola glock 9mm, uma pistola taurus 380, além de munição, carregadores, maconha, cocaína, crack, lança perfume e R$ 2 mil em dinheiro.
De acordo com o delegado da DH, Felipe Ettore, todos os presos responderão por tráfico e associação para o tráfico, cuja pena pode variar entre 5 e 15 anos. Victor, Tiago e Jeferson também responderão por porte de arma - nesse caso a pena pode chegar a 25 anos.
O clima na Favela de Antares no fim da manhã de segunda-feira estava tenso. Segundo policiais de plantão no Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO) da região, dois dos quatro suspeitos mortos no domingo foram velados na favela. Equipes do 27º BPM reforçam o patrulhamento no entorno da favela e, segundo informações do Serviço Reservado (P-2) do batalhão, não houve registro de tiroteios.
A ação de domigo começou por volta de 6h30m e terminou à noite, segundo a mensagem da PM. Oitenta policiais entraram na comunidade pela área de lazer da Comlurb, na Avenida Antares, e foram recebidos a tiros por traficantes. De acordo com a mensagem da PM, o objetivo da ação era checar informações da área de inteligência do Bope e do Choque de que líderes do tráfico fortemente armados se reuniam no local.
Em nota, a direção da Rede Bandeirantes lamentou a morte do cinegrafista e disse que sempre toma todas as precauções para este tipo de cobertura, acrescentando que Gelson Domingos usava colete à prova de balas no momento em que foi atingido. Ainda segundo a nota, a direção diz que, infelizmente, o funcionário foi mais uma vítima da violência.
A Secretaria de Saúde informou que Gelson Domingos da Silva chegou à UPA de Santa Cruz às 7h40m já morto por perfuração de bala na região do tórax. Segundo a nota, o secretário Sérgio Côrtes foi à unidade de saúde para prestar todo apoio à família.
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