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Os primeiros anos são fundamentais no desenvolvimento da linguagem. Ricardo Mayer e Debora Carvalho desenvolvem várias atividades lúdicas com a filha Gabriela | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Os primeiros anos são fundamentais no desenvolvimento da linguagem. Ricardo Mayer e Debora Carvalho desenvolvem várias atividades lúdicas com a filha Gabriela| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

O homem é o único animal que muda de linguagem com o passar do tempo. Começa com o balbucio, que ganha volume e forma conforme o bebê desenvolve a musculatura ligada à fala. Por volta dos 2 anos de vida é quando ocorre a grande virada, e a articulação de fonemas e palavras simples rapidamente desenvolve-se para uma linguagem complexa, com verbos, frases, que representa sentimentos e organiza o raciocínio da criança.

Problemas comuns de dicção têm solução

Enquanto a linguagem está mais relacionada ao desenvolvimento cognitivo da fala, a dicção é como o lado mecânico da coisa. Desvios nesta etapa, em geral, tem solução. No caso do frênulo curto (a famosa “língua presa”) o ideal é cortar a membrana que segura a língua já no bebê, para permitir que aquela musculatura se desenvolva corretamente.

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Desenvolver a fala nesses primeiros anos de vida é definidor para a vida escolar e social do indivíduo. E todos que rodeiam a criança (sejam pais, professores ou avós) têm seu quinhão de responsabilidade nessa etapa.

A conversa com os pequenos devem começar já na vida intrauterina. Criança aprende por imitação, no ouvir a fala do outro, e por isso é importante sempre nomear, dizer em voz alta a ação que será feita. A fonoaudióloga Dileta de Fátima Dias, que trabalha com o apoio à saúde da família em Curitiba, defende que a fala deve estar “no contexto normal de linguagem”, ou seja, presente no dia a dia. Significa dizer para a criança que “agora vamos lavar o pezinho, a mãozinha” na hora do banho, ou que “hoje vamos comer arroz e feijão”, antes de comer.

Etapas do desenvolvimento

A fonoaudióloga Ana Lucia Costa Nogueira explica que entre um e meio e dois anos a criança deixa a chamada “primeira linguagem” (o balbucio) e passa a juntar de duas a três palavras, no sentido de formar uma frase como “mamãe, água” ou “quero, dá”. A partir de dois anos começa ela a inserir adjetivos, provérbios e até os dois anos e meio deve formar uma frase simples, com pelo menos três elementos. Cinco anos é a data limite para que ela tenha todos os fonemas instalados. Estas etapas servem como um sinal amarelo: se a criança “atrasa” não quer dizer que ela tem um problema, mas talvez seja importante atentar se ela recebe estímulos ao desenvolvimento da linguagem como deveria.

“Sempre fale com a criança de forma correta, sem infantilizar, essa orientação eu sempre falo para os pais passarem principalmente para a avó e para o avô”, brinca a fonoaudióloga Ana Lucia Costa Nogueira, voluntária do projeto Amigos da Criança do Hospital São José, em Ponta Grossa. Na hora de corrigir evite o não. No lugar de repreender o erro, peça para a criança repetir, faça com que ela se ouça, pronuncie a palavra da maneira correta; ao ouvir as diferenças ela própria vai perceber a diferença. Com o tempo, aprende o jeito certo.

A sociabilidade resolve muito daquilo que os pais podem confundir com indícios de surdez ou um problema neurológico. Ana Lucia conta que “às vezes a criança tem quase 3 anos e não fala nada, aí você vai ver e ela não vai para a escola, assiste a muita TV e ninguém em casa conversa muito com ela”. Quando mães preocupadas a procuram no consultório de fonoaudiologia, a resposta padrão é: “Eu atendo. Mas desde que você a matricule na escola”.

Na escola, a professora deve atentar para toda esta boa conduta exigida dos pais, e ainda gerenciar os pequenos. Crianças aprendem também com outras crianças e uma “mamadeira” pode voltar a ser “mamadeila” na hora de imitar o colega de classe do Jardim II, por exemplo. Além disso, é preciso controlar o bullying. Por volta dos 3 anos, por exemplo, muitas crianças desenvolvem o que Ana Lucia chama de uma “gagueira fisiológica”, quando têm uma infinidade de palavras na cabeça e não conseguem organizá-las a tempo de formar uma frase. É um fenômeno que se dissolve naturalmente, e cabe à professora defender o gago temporário da turminha.

Estímulo à fala é rotina para Gabriela

Gabriela (foto) nasceu na primeira semana do sétimo mês de gravidez de sua mãe, Debora Carvalho. O pediatra explicou que a média de desenvolvimento de Gabi seria a de uma criança dois meses mais nova do que ela própria até os 2 anos de idade, quando atingiria a curva de normalidade. O fato não é decisivo, mas deu um incentivo extra para que Debora e Ricardo Mayer (o pai) estimulassem a filha a se desenvolver. Começaram conversando para ela reconhecer a voz dos pais; passaram para os chocalhos (desses de feijão na garrafa pet) e batucaram em tampa de panela. “Aqueles brinquedos mais antigos, pedagógicos, de sucata, tudo para ela aprender o som”, diz Debora.

A música sempre esteve presente, de preferência cantigas de roda, dessas com repetições, rima e que rendem gestos. Sem muito CD ou televisão, sempre com os pais cantando junto. Quando Gabriela fala errado, eles explicam que não deu para entender e fazem ela repetir. A mãe ouve, repete o que a filha acabou de dizer, e encerra com um “é isso que você quis dizer?” Nem sempre é. A mãe conta que “é um trabalho de paciência”.

A cirurgia de adenoide, que Gabriela fez com 2 anos e meio, permitiu a ela desenvolver novos sons. Ela já atingiu a tal “curva de normalidade” que o médico falou. Mas para os pais, o estímulo à linguagem está só começando. O próximo passo é ensinar a filha a dizer não só o que ela quer, mas também o que ela não quer, expressar seus desejos.

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