Desmoronamentos são o pior problema em Santa Catarina no momento: boa parte das vítimas morreu soterrada após deslizamentos de terras| Foto: Hermínio Nunes/Diário Catarinense

Amazônia pode ter tido influência

São Paulo - O desmatamento da Amazônia tem influência importante em toda a América Latina e sua relação com a catástrofe climática que aconteceu em Santa Catarina deve ser considerada, embora não possa ser culpada isoladamente. Essa é a opinião do geógrafo e professor da Universidade de São Paulo (USP), Wanderley M. da Costa, especialista no assunto e ganhador do prêmio Jabuti 2008 com o livro Dimensões Humanas da Biosfera-Atmosfera da Amazônia.

"Alguns fatos já são comprovados cientificamente. Por exemplo, uma grande parte da camada de água da Amazônia está em forma gasosa e evaporando no sentido leste para oeste. É claro que esse fato afeta todo o clima do continente. Não podemos responsabilizar, no entanto, esse fato apenas pelo que ocorreu em Santa Catarina, pois o excesso de chuva na região Sul pode ser resultado da combinação desse fator com a alteração de temperatura dos oceanos", explica.

Agência Estado

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A falta de respeito pelo meio ambiente pode ter sido a principal causa da destruição em Santa Catarina. As chuvas não poderiam ser evitadas. Mas os deslizamentos, que têm sido os causadores das maiores tragédias da região nos últimos dias, esses sim não precisavam ter acontecido. A ausência de cobertura vegetal nos morros e na beira dos rios é que teria propiciado os desmoronamentos de terra.

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De acordo com a pesquisadora Beate Frank, secretária executiva do Comitê do Itajaí, as Áreas de Preservação Permanente da região são pouco respeitadas, porque os urbanistas tendem a não aceitar os limites impostos pelo Código Florestal (CF), de 1965. "Eles defendem que, nas áreas urbanas, o que vale é o plano de gestão urbana", diz. Em Blumenau, por exemplo, pode-se construir a cinco metros dos rios em vez dos 30 metros exigidos pelo CF.

De acordo com Beate, o grande número de ocupações "irregulares" cria áreas de risco sem proteção da vegetação. "A cobertura florestal não é enfeite", diz. "Nessas chuvas, os deslizamentos aconteceram em áreas de risco inimagináveis. Eles atingiram não só as regiões pobres, mas também áreas consideradas nobres", completa.

O diretor da Defesa Civil de Santa Catarina, major Marcio Luis Alves, afirma que os problemas aconteceram pelas chuvas intensas e contínuas. "O desastre não respeitou fronteiras, características do solo, nem classe social. Deslizamentos de terra ocorreram em mais de 22 cidades do estado e soterramentos em 14 municípios. Isso não se deve a uma condição estrutural, mas a um fenômeno que assola Santa Catarina há três meses e meio", diz. Alves defende que é preciso avaliar cada caso para detectar se o solo está sendo afetado pela falta de proteção ou se a precipitação em ritmo intenso foi responsável.

Prevenção

Os moradores de Blumenau estão, de certa maneira, acostumados com as enchentes. Historicamente, a cidade viveu diversos alagamentos de proporções semelhantes ao atual, como em 1983. Após esse fato, o Centro de Operações do Sistema de Alerta da Bacia de Itajaí (Ceops) foi construído para alertar os blumenauenses sobre a possibilidade de chuvas e de alagamentos. O Ceops se tornou referência e fonte de informação para uma região que sofre com as intempéries. A Defesa Civil atua em conjunto para prevenir ocorrências.

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Professor do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Regional de Blumenau (Furb) e pesquisador do Ceops, Mario Tachini afirma que há um mapeamento informando a cota de inundação que as ruas sustentam. "As nossas previsões são divulgadas para a Defesa Civil, que informa via internet e avisa rádios e televisões para comunicar a cidade", diz.

Tachini explica que cada evento hidrológico tem comportamentos diferentes. Por esse motivo, o trabalho de monitoramento de chuvas e previsão de subida dos rios se torna desafiador. "Essas precipitações foram atípicas. Surpreenderam os meteorologistas", diz.

Conforme Tachini, as chuvas intensas começaram no sábado, com as primeiras estimativas de subida de 7,5 metros dos rios da região. A cidade começa a ser alagada a partir dos 8,5 metros. A previsão era de que o aumento de volume fosse de 9,3 metros às 9 horas, porém esse índice foi alcançado às 6 horas de domingo. Para as 21 horas, a previsão era de que os rios estariam 12 metros acima dos limites considerados normais. "A previsão foi antecipada em 10 horas para que a população se preparasse", diz.