Duas testemunhas que presenciaram uma das 18 mortes em Osasco e Barueri na noite de quinta-feira (13) foram ouvidas pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Segundo o Delegado Luis Fernando Lopes Teixeira, titular da Delegacia de Latrocínios e Chacinas, ambas estavam com “muito medo” de falar, temendo novos ataques.
A partir da segunda-feira (17) a Polícia Civil, o Ministério Público Estadual (MPE) e a Corregedoria da Polícia Militar começam a ouvir policiais militares de batalhões que fazem o policiamento em Osasco e Barueri. A principal suspeita é a de que PMs encapuzados tenham executado as vítimas em retaliação à morte do cabo Avenilson Pereira de Oliveira, de 42 anos, morto no dia 7 por dois ladrões. Os criminosos usaram a arma do próprio policial no crime.
Testemunhas descrevem “mar de sangue” em noite de terror em Osasco
Agência O Globo
O pintor A. C., de 54 anos, é alcoólatra. Na quinta-feira (13) à noite ele bebia no bar de azulejos brancos ao lado de casa, como fazia quase todos os dias. Acabou dormindo na cadeira pelo efeito da embriaguez. E foi nessa posição que acabou encontrado pelo filho de 28 anos, com dois tiros na boca e um no pescoço.
“Tenho certeza que ele nem acordou. Os caras desceram do carro e descarregaram as armas. Foi mais de 60 tiros. Meu pai é trabalhador, nunca teve passagem pela polícia. Seu único defeito é a bebida”, diz F, que socorreu o pai em seu próprio carro e mais um baleado, que acabou morrendo.
No local, no bairro Munhoz Júnior, periferia de Osasco, cidade da Grande São Paulo, pelo menos 11 pessoas foram alvejadas. No cálculo dos moradores, 9 estão mortos. Mas houve assassinatos em pelo menos mais oito endereços do município, mais dois em Barueri e um em Itapevi. O pai de F. está na UTI em estado grave, com escolta policial na porta do quarto do hospital.
O bairro Munhoz Júnior, onde parte dos crimes, aconteceu transpira medo. O policiamento foi reforçado. O comércio do entorno não abriu as portas. A mulher de E., que estava no bar minutos antes do ataque, o censura ao ver que ele falava com a reportagem:
“Pelo amor de Deus, fecha a boca. Você sabe como é perigoso isso”, disse.
E. relatava que antes dos assassinatos, mais de 10 pessoas bebiam cerveja e jogavam em máquinas de caça-níquel no pequeno estabelecimento. Ele saiu por um instante para ir a outro bar do lado. Nesse momento, começou o tiroteio:
“Baixamos a porta do bar e nos escondemos atrás das caixas de cerveja. Quando saímos era só desespero, cena de guerra”, diz E., para quem os autores do crime são policiais.
F. descreve a cena que viu como de “um filme de terror”:
“Nunca vi nada igual. Um mar de sangue, um caído sobre o outro. E foi execução mesmo porque um dos meninos estava sentado com os braços cruzados e o assassino teve a ousadia de tirar o boné dele antes de dar um tiro na cabeça. Não consigo esquecer do que eu vi”.
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