Vida segue
Moradores do Rio e de Niterói que a reportagem vem ouvindo desde terça-feira tentam voltar à rotina, mas resta o temor de novos temporais.
Tarcísio de Oliveira, 66 anos, copeiro
Na quarta-feira, Oliveira saiu uma hora antes de casa, em Belford Roxo, para o trabalho, no bairro Botafogo. Ontem, segundo ele, o número de veículos na rua já era normal e ninguém faltou ao trabalho na empresa de arquitetura. "Aconteceu naquela terça-feira e agora passou. Hoje (ontem) já é como outro dia qualquer", disse.
Leonardo Sales da Silva, 25 anos, funcionário público
No Ministério Público Estadual, onde o estudante trabalha, alguns servidores que moram na zona Oeste não apareceram ontem.
O ônibus que ele utiliza não atrasou. Mas o receio permanece.
A UERJ, onde estuda, fica no Maracanã, uma das áreas mais afetadas. "Se voltar a chover não vou à aula."
Alina Lopes de Araújo, 20 anos, estudante
As redondezas do prédio a estudante mora, em Niterói, continuavam cobertas de lama ontem. Operários e máquinas faziam a limpeza e desentupiam os bueiros. Segundo ela, ainda está difícil se locomover. "Os ônibus ainda atrasam. Esperei uma hora, mas fiz o trajeto ao trabalho no tempo habitual."
Júlio Resende, 25 anos, engenheiro
Com a situação crítica em outras áreas de Niterói, a Defesa Civil não pode vistoriar os deslizamentos que atingiram edifícios residenciais em Boa Viagem. O trajeto entre o bairro e São Cristóvão, na capital, onde trabalha o engenheiro, foi feito no tempo normal. "Há pouco trânsito deste lado da ponte porque ainda há áreas isoladas", disse.
Ciclone sobre o Oceano cria ondas gigantes
O vento provocado por um ciclone extratropical no oceano aumentou ontem a frequência e o tamanho das ondas em toda a orla do estado do Rio. O Serviço Meteorológico Marinho emitiu um aviso de ressaca com previsão de ondas com altura entre 2,5 metros e 4 metros até amanhã. Na baía de Guanabara, eram esperadas ondas de até 1,5 metro na noite de ontem.
Morro com 102 barracos pode desabar
Entre as 130 favelas que, segundo a prefeitura do Rio, correm risco de desabar, está o Morro do Bananal, na Tijuca, zona norte. O local tem 102 barracos, todos condenados. Apesar do risco iminente e de constar da lista de remoção, a comunidade não recebe a visita de representantes do município desde o ano passado.
Rio de Janeiro - A tristeza e o desespero se abateram ontem sobre Niterói, a cidade com o maior número de mortos em decorrência das chuvas desde segunda-feira no estado do Rio de Janeiro. Com o deslizamento no Morro do Bumba, por volta das 21 horas de quarta-feira, chegou a 104 o número de mortos no município, o que levou o prefeito Jorge Roberto Silveira a decretar estado de calamidade pública. A prefeitura estima que pelo menos 200 pessoas tenham sido soterradas no local e que 50 casas foram destruídas. Até a noite de ontem, 14 corpos foram recolhidos. Em todo o estado, o número de mortos chegou a 179.
Para piorar a situação, um boato de arrastão levou pânico à população de Niterói ontem. O comércio do centro da cidade, os bancos e o Fórum fecharam as portas e houve correria em ruas centrais. Segundo policiais, traficantes do Morro do Estado, a maior favela do município, teriam mandado fechar o comércio em protesto contra a falta de atenção com as vítimas das chuvas. No final da tarde, a Polícia Militar desmentiu a informação e afirmou que houve apenas um protesto no Morro do Estado.
Lixão
A tragédia no Morro do Bumba, uma área de ocupação irregular, foi anunciada horas antes da avalanche que varreu a comunidade. No fim da tarde de quarta-feira, um deslizamento soterrou uma casa e deixou um morador desaparecido. Bombeiros foram chamados. Eles deixaram o local por volta das 18h30. Não deu tempo: entre 20h30 e 21 horas ocorreu o deslizamento.
O local, no bairro Viçoso Jardim, abrigou um lixão entre 1970 e 1986. Com a desativação do lixão foi proibida a ocupação do local, na administração do prefeito Waldernir Bragança, mas aos poucos, por falta de fiscalização, foram construídas pequenas casas de alvenaria. Ao longo do tempo, o local ganhou uma grande caixa dágua, uma quadra poliesportiva e uma creche.
Para a secretária de Estado do Ambiente do Rio de Janeiro, Marilene Ramos, a provável causa do deslizamento foi uma explosão do gás metano, decorrente da decomposição do antigo lixão. O lixo em decomposição teria formado uma bolsa de gás, que em contato com o ar teria causado a explosão ouvida pelos moradores antes do deslizamento. "Trata-se de um terreno insalubre. Ainda que não houvesse tamanha instabilidade, nunca deveria ter sido ocupado", disse. A cor preta do solo que deslizou é resultado da decomposição do lixo.
Outra causa pode ter sido o acúmulo de água no solo, já que o terreno de rocha em decomposição forma fraturas, por onde a água penetra e se acumula. Além disso, o lixo que se acumula forma um chorume, que desliza como lama. Em 2004, o Instituto de Geociência da Universidade Federal Fluminense fez um estudo sobre o Morro do Bumba, a pedido do Ministério das Cidades, e constatou que a área tinha alto risco de acidentes e exigia monitoramento constante. A Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente de Niterói abriu um inquérito para investigar se o deslizamento foi causado por falha humana.
Na terça-feira, cinco pessoas haviam morrido soterradas no local, após um deslizamento que destruiu duas casas. "Os moradores foram alertados de que precisavam sair do local, disse o secretário municipal do Meio Ambiente de Niterói, José Antônio Fernandes. Moradores negam ter recebido o alerta. Naquele dia, a prefeitura iniciou a abertura de um canal para escoar a água. Os operários trabalharam até as 18 horas de quarta-feira, horas antes do deslizamento. Um vigia que tomava conta da retroescavadeira usada no serviço morreu soterrado.
O governador do Rio, Sérgio Cabral, estima que serão necessárias duas semanas para resgatar todos os corpos.
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