A aprovação de projeto de lei municipal que obriga maternidades de Curitiba a permitir a entrada e atuação de doulas reacendeu a discussão sobre o papel dessas profissionais.
A Gazeta do Povo conversou com a doula Helenice Vespasiano, 32 anos, representante do grupo de doulas de Curitiba que agora se mobiliza para a criação de uma associação da categoria, sobre as competências e os limites de atuação dessa profissional ainda um tanto incompreendida, a quem cabe amparar as gestantes antes, durante e depois do parto.
O que a doula pode fazer?
A Classificação Brasileira de Ocupações reconheceu a profissão de doula recentemente, dentro da categoria “Tecnólogos e técnicos em terapias complementares e estéticas”. Na descrição consta que essas profissionais aplicam procedimentos estéticos e terapêuticos manipulativos, energéticos, vibracionais e não farmacêuticos. “No caso das doulas, visam prestar suporte contínuo à gestante durante a gravidez e puerpério, favorecendo a evolução do parto e bem-estar da gestante”, diz o texto.
Assim, o trabalho da doula consiste em oferecer informações, suporte emocional e físico de preparação para o parto e orientação para o desenvolvimento do vínculo com o bebê e do papel de mãe. “A profissão aborda a gestação, o parto e o pós-parto de forma mais subjetiva, com o objetivo de fortalecer a mulher, de ajudá-la a passar pela gravidez com segurança e tranquilidade”, destaca Helenice, que é doula há três anos.
Além de informações e apoio emocional, as doulas também podem aplicar métodos terapêuticos não farmacológicos para o alívio de dor e desconforto e fortalecimento físico da gestante, como massagens e exercícios de relaxamento e fortalecimento muscular e orientações sobre posições mais confortáveis.
Helenice explica que essas recomendações variam conforme a formação complementar da doula – algumas são massoterapeutas e fisioterapeutas, outras são profissionais da área da saúde. “A formação complementar de cada doula traz novos elementos para o trabalho como doula.”
O que a doula não pode fazer?
As doulas não possuem competência técnica para atender parto, ou seja, não atuam como parteiras. Doulas também não podem realizar exames, auscultar o bebê, administrar medicamentos ou aferir a pressão da gestante. Também não cabe à doula intervir no diagnóstico ou procedimentos realizados durante o parto.
“O papel da doula é informar a mulher durante a gestação e antes do parto. Por isso fazemos plano de parto e orientamos as gestantes a conversar abertamente com o obstetra. Se houver divergência no momento do parto, não cabe à doula, mas sim à gestante, conversar e questionar a equipe médica”, esclarece Helenice.
Doulas precisam de formação na área da saúde?
A questão gera conflitos. Médicos e hospitais pediram que a formação específica na área da sáude fosse exigência da nova lei, mas o pedido foi rejeitado. Doulas, no entanto, defendem que a formação específica não é necessária uma vez que essas profissionais não possuem competências que exijam esse tipo de especialização.
“A doula precisa ter conhecimento básico sobre a gestação e o parto, mas não precisa ter conhecimento técnico especializado porque não vai interferir nesse sentido. No decorrer da gravidez e na cena do parto, há outros profissionais com competência para tratar dos aspectos físicos e fisiológicos, para fazer exames e indicar medicamentos, para garantir a segurança do parto e do bebê logo após o nascimento. A doula cuida da saúde emocional da mulher”, argumenta Helenice.
Quanto custa para contratar uma doula?
O valor dos serviços oferecidos por uma doula não é tabelado e varia conforme a experiência e formação complementar da profissional. A gestante também pode definir a frequência do acompanhamento – durante toda a gestação e puerpério, apenas durante o parto etc. Em média, o custo de uma doula varia entre R$ 800 e R$ 1,5 mil.
O que a gestante precisa saber antes de contratar uma doula?
Recomenda-se que as gestantes verifiquem se a profissional possui formação específica de doula – requisito exigido pela nova lei para que as doulas possam fazer cadastro nas maternidades.
“A mulher deve se informar sobre o trabalho realizado com outras gestantes, buscar por referências e checar a formação complementar. É como com qualquer outro profissional”, explica Helenice.