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Paula (nome fictício) tem 30 anos. Desde os 14 usa drogas. Pela primeira vez, participa de um programa de reabilitação. A demora para começar o tratamento teve duas causas: a falta de coragem para dar um basta no vício e a escassez de vagas no sistema público. "Está tudo lotado. É difícil conseguir tratamento", diz.

Na comunidade terapêutica Copiosa Redenção – Rosa Mística, em Ponta Grossa, ela recebeu auxílio das religiosas responsáveis pela unidade e levou junto seus dois filhos menores, um com 2 anos e outro com 9 meses. Hoje, eles moram com ela no abrigo. Os outros dois filhos, com 6 e 9 anos, ficaram com parentes em Campo Mourão e em Foz do Iguaçu.

Paula iniciou o tratamento contra o crack há oito meses, com um propósito: abandonar o vício e cuidar dos quatro filhos. "Não quero voltar para Foz do Iguaçu. Quero arrumar um emprego e trazer meus filhos para Ponta Grossa para começar uma nova vida aqui", afirma. Ela já enfrentou muitas dificuldades por causa da dependência: se prostituiu, perdeu os poucos bens que tinha e quase comprometeu a gestação da filha mais nova. "A dependência estava muito profunda, usei crack na minha gravidez inteira. Até que chegou uma hora que não deu mais."

Recursos

Do lançamento do Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack, em maio de 2010, até dezembro, o governo federal investiu R$ 79,6 milhões, segundo o Ministério da Saúde. A previsão inicial era que o programa investisse R$ 410 milhões no ano passado. As razões do baixo investimento – cerca de 19% do previsto – não foram informadas pelo Ministério da Saúde.

Uma das metas não alcançada foi elevar a oferta de leitos de internamento de dependentes químicos de crack nos hospitais gerais. Esperava-se chegar ao final do ano com 5 mil leitos disponíveis, mas a oferta foi de 3,4 mil.

O Ministério da Saúde tem como parâmetro a oferta de um leito em hospital geral para 15 mil habitantes, ou seja, quase 13 mil leitos seriam necessários em todo o país. No Paraná, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), dependentes químicos e doentes mentais disputam os 2.638 leitos disponíveis para internação nos hospitais. A proporção ideal, pelo parâmetro do Ministério da Saúde, é de 696 leitos exclusivos para dependentes químicos. Como as comunidades terapêuticas não são um serviço diretamente ligado ao Ministério da Saúde, não há um padrão de leitos ideal.

Normalmente, o encaminhamento do usuário de crack é feito pelas unidades básicas de saúde. Quando o caso não é de internação, o dependente é encaminhado para os Caps – Álcool e Drogas (Caps-AD), onde tem um acompanhamento diário ou semanal. No Paraná existem 21 Caps-AD. O número é considerado baixo, já que o Ministério da Saúde prevê uma unidade para cada grupo de 250 mil habitantes – ou seja, o Paraná deveria contar hoje com no mínimo 42 unidades. A construção de mais Caps no estado ficou fora do plano nacional, pelo menos no primeiro semestre deste ano.

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