Uma confissão e um exame de balística provocaram nova reviravolta na investigação do crime do Morro do Boi e colocaram em xeque a versão da polícia para o caso. Paulo Delci Unfried, preso na quarta-feira passada, depois invadir uma casa e violentar uma mulher no balneário de Betaras, em Matinhos, no Litoral do estado, confessou ontem ter matado o estudante Osíris Del Corso e balear a namorada dele, Monik Pergorari Lima, no dia 31 de janeiro. O exame de balística feito no revólver 38 encontrado com Unfried confirmou que a arma é a mesma usada no crime.
As informações foram divulgadas oficialmente em entrevista coletiva concedida ontem pelo delegado responsável pelas investigações, Luiz Alberto Cartaxo, e pelo delegado-geral da Polícia Civil, Jorge Azor Pinto. Durante uma hora, aproximadamente, Cartaxo tentou explicar porque, mesmo sem qualquer prova material, Juarez Ferreira Pinto, que era apontado como o "monstro do Morro do Boi", está preso desde o dia 17 de fevereiro e chegou a passar, inclusive, pela audiência de instrução e julgamento no último dia 16 na ocasião, Juarez só não foi julgado porque faltaram os depoimentos de seis testemunhas.
Cartaxo foi incisivo, ontem, em dizer que a polícia não errou ao indiciar Juarez, mesmo ele tendo sido acusado apenas com base no reconhecimento da vítima Monik. "O conjunto probatório contra Juarez era forte. Qualquer um no meu lugar faria o mesmo. Além disso, a polícia indiciou, o Ministério Público (MP) denunciou e o Judiciário aceitou a denúncia. O álibi dele era fraco", defendeu-se o delegado. Embora Unfried passe a figurar como suspeito do caso do Morro do Boi, Cartaxo não descartou a possibilidade de que o verdadeiro autor do crime possa ser mesmo Juarez.
"O Ministério Público pediu novas diligências. Se a Justiça acatar o pedido cumpriremos a ordem. Será o conjunto de provas que dirá quem é o autor do crime. A prova testemunhal contra Juarez não é mais fraca que a prova balística da arma encontrada com Paulo (Unfried)", disse Cartaxo. De acordo com o delegado, no fim de semana, uma foto de Unfried foi mostrada, informalmente, a Monik, mas ela não reconheceu o novo suspeito.
A reportagem falou no início da noite de ontem com o pai de Monik, o advogado Lourival Pergorari de Lima. De Brasília, onde está para acompanhar Monik no tratamento que ela fará no hospital Sarah Kubitschek, ele confirmou que a filha não reconheceu Unfried e que ela vai manter o depoimento. "Monik não tem dúvida em relação ao Juarez. Nós achamos, apenas, que a polícia vai ter mais um trabalho de investigação pela frente para descobrir quem passou a arma para essa rapaz (Unfried) e porque ele está assumindo esse crime. Digo, como pai e advogado, que essa reviravolta é parte da estratégia da defesa", opinou.
De acordo com Cartaxo, a arma que foi usada no crime do Morro do Boi e foi encontrada com Unfried foi adquirida regularmente em Cascavel, no interior do estado. Depois disso, passou pela mão de mais três pessoas antes de chegar até Unfried. Segundo o delegado, todas essas pessoas foram ouvidas e a última confirmou que vendeu a arma para Unfried, no início de janeiro deste ano.
Com base no resultado do exame de balística na arma encontrada com Unfried e na confissão dele, os advogados de defesa de Juarez entraram ontem com um pedido de revogação da prisão preventiva de seu cliente. A expectativa dos defensores é que a Justiça atenda o requirimento e que Juarez seja solto hoje. Os advogados pretendem reunir-se então com a família de Juarez para estudar um pedido de indenização contra o Estado.
Segundo os advogados, o estigma de Juarez, pelo fato de ser ex-presidiário, pode ter contribuído para que ele tenha sido acusado pela polícia neste caso. Além disso, de acordo com eles, na época do crime, a polícia estava sendo cobrada pela opinião pública para dar uma solução ao caso da menina Rachel, cujo corpo foi encontrado dentro de uma mala na Rodoferroviária de Curitiba, em novembro do ano passado.
Mário Lúcio Filho, um dos advogados de Juarez, lembrou ainda que Monik pode ter se confundido ao fazer o reconhecimento de seu cliente. De acordo com o psicólogo forense Rodrigo Soares Santos, mesmo sem querer é comum vítimas criarem falsas memórias. "A forma como o reconhecimento de Juarez foi feito pode ter sugestionado Monik a criar falsas memórias", diz.