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Ecce Homo: a pintura original, desgastada e “restaurada” | Divulgação
Ecce Homo: a pintura original, desgastada e “restaurada”| Foto: Divulgação

Virou fenômeno mundial o desastroso restauro da pintura de Cristo na parede de uma igreja da cidadezinha de Borja, na Espanha. Carregada de boas intenções – daquelas das quais o inferno está cheio –, a octogenária Cecília Giménez transformou a desgastada figura de Jesus numa engraçada caricatura. Mais que uma piada, a história da senhora de 81 anos e de sua "obra" é uma comédia no sentido clássico do termo: a dramatização um tanto exagerada das fraquezas humanas. Nela há o autoengano, o voluntarismo, a soberba, a negação.

Sem ter conhecimento suficiente das técnicas de restauração, mas imaginando ser melhor artista do que de fato é, Cecília se lançou à empreitada de recuperar o afresco batizado de Ecce Homo ("Eis o Homem", em latim). Talvez ela até reconhecesse suas limitações, embora acreditasse que a simples intenção de fazer o bem fosse suficiente para preencher as lacunas de suas habilidades. Isso se chama voluntarismo: a crença na primazia da vontade sobre o conhecimento.

Há ainda uma pitada de soberba e de negação no comportamento da inábil senhora. "Não me deixaram acabar", disse ela em entrevista à imprensa espanhola, dando a entender que o resultado seria bom se finalizasse o trabalho.

Com suas pinceladas carregadas de falhas, Cecília desfigurou o Homem Perfeito, o Deus feito gente, transformando-o num ser grotesco que nem humano é. De certa forma, é o mesmo que os defeitos ameaçam fazer com todos, sem exceção. Os vícios do dia a dia afastam os homens de sua humanidade e do desejo de se aproximar da perfeição.

Cecília, portanto, não está só. Teve apenas a infelicidade de ver sua história espalhar-se num planeta hiperconectado. Mas seus equívocos se repetem cotidianamente. Muitas vezes com contornos de tragédia e não de comédia. São homens e mulheres que, cegados por suas convicções e crenças, não conseguem perceber a própria insensatez. Os piores são aqueles que têm mais poder. Pois estes são cercados por áulicos incapazes de rir para alertá-los. Eis o homem e seus defeitos.

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