Aos 18 anos, época de servir ao Exército, o jovem Oscar Rumblesperger torceu para conseguir a vaga no 13.º Regimento de Infantaria (RI), em Ponta Grossa, nos Campos Gerais. Além do soldo, ganharia uma perspectiva na vida. Largou a oficina de carpintaria e ferraria da família e virou “homem das armas”. Nunca se arrependeu, mas também não estava em seus planos seguir carreira militar.
Aos 98 anos – completados nesta terça-feira, 25 de agosto, Dia do Soldado – exibe com orgulho o contracheque de 1.º Tenente, reformado desde 1964, e o documento da baixa com assinatura do próprio presidente Castelo Branco.
Quando a Segunda Guerra Mundial eclodiu, em 1939, Rumblesperger nem no Exército estava mais. Já tinha cumprido o tempo hábil como reservista. Tocava a vida e havia se mudado para Curitiba. Na capital paranaense, conheceu Noêmia enquanto trabalhava como motorista de ônibus. Namorava pelo espelho. Depois de muitos olhares, descobriu que a moça era aramista no Circo Teatro Garcia, de Pelotas, que estava na cidade. Paixão à primeira vista – ou vislumbre pelo espelho –, o casamento ocorreu em quatro meses, em 1941. O circo precisava seguir viagem e Noêmia deixou o picadeiro.
Um pouco cigano, Rumblesperger imaginou que São Paulo poderia ser um bom destino. Agora estava em boa companhia. Um curso na Escola Técnica de Aviação, recém transferida dos Estados Unidos, habilitou o paranaense para ser mecânico da Aeronáutica. Foi nesse período que recebeu a proposta de combater pelos Aliados, que já estavam em guerra na Europa. “O pessoal do 13.º RI está sendo convocado”, avisou o padrinho da filha, Alberto Gomes. Mas foi rejeitado por não estar na categoria de 1.º reservista.
Aceitou o convite para trabalhar em Cumbica (SP) nos bastidores do conflito. Voltou a vestir a farda. Era motorista do Estado Maior e foi cuidar dos aviões nos pátios. Não gostou de lá. “Não senti a guerra. Cuidava das viaturas do Exército e não me envolvi com essa parte da história”, conta.
Mas, mesmo sem ir até a Europa, “participou” do conflito. Rumblesperger guarda na memória os sobrevoos que fazia pelo Atlântico Sul. “Sobrevoava como observador. Dizem que houve torpedeamento de navios brasileiros, mas nunca vi nada.” Quando terminou a guerra, em 1945, continuou na Aeronáutica fiscalizando, distribuindo tarefas e reparando motores. “Eu era feliz.”
ARRIMO
Oscar descobriu cedo que a vida não era fácil. O pai tinha carpintaria e ferraria, mas morreu cedo, sem conhecer a filha nascida 15 dias depois. Aos 14 anos, o primogênito juntou carroças, reuniu as malas e quinquilharias e determinou que a família trocaria Ipiranga por Ponta Grossa. Foram 54 km que mudaram sua vida. Trabalhou em ferrarias; assumiu posto na cervejaria da cidade. Fez de tudo um pouco para sustentar a família. História que a neta vai contar em um livro.
Com três filhos, retornou a Curitiba por volta de 1950. Veio receber as chaves de uma casa da Cohab, no bairro Jardim das Américas. Transferido, foi recebido na Escola de Especialistas de Aeronáutica, local em que hoje funciona o Cindacta, no bairro Bacacheri. Não ficou muito tempo no Paraná. Trabalhou em Santos e depois foi para o Rio de Janeiro servir no Parque das Viaturas, em Manguinhos.
Em 1964, no período da ditadura militar, morava novamente em Curitiba e entrou para a reserva. Após a aposentadoria, resolveu voltar para Santos. Após quase duas décadas, em agosto de 1985, decidiu que era hora de fixar residência – definitivamente – na capital paranaense. Desde então, dedica o tempo às memórias, à família e também não dispensa um bom papo. Essa foi a receita para chegar aos 98 anos.
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