O assunto de hoje, sugerido por uma estudante do 3.º ano de jornalismo, é o uso do verbo "preferir" em construções como estas: "Eu prefiro matemática a português" e "Eu prefiro azul a roxo".
A leitora ficou em dúvida porque sua professora deu como errada a seguinte frase: "Eles preferem muito mais estudar do que curtir a praia". E corrigiu para "Eles preferem estudar a curtir a praia".
É errado usar tal estrutura em textos jornalísticos?
Primeiramente, é bom frisar que o uso de "do que", em vez de "a", é vedado de maneira geral, não apenas nas redações dos grandes jornais. Por isso, são consideradas erradas sentenças como "O técnico prefere ficar calado do que comentar o caso" e "Ele prefere ir a pé do que pegar ônibus lotado". Em vez disso: "O técnico prefere ficar calado a comentar o caso" e "Ele prefere ir a pé a pegar ônibus lotado".
Agora vamos avançar um pouco na questão.
O excelente Dicionário prático de regência verbal, de Celso Pedro Luft, repete e reforça a lição: "preferir uma coisa a outra". Porém, somos informados de que construções do tipo "preferir mais isso do que aquilo" são comuns na sintaxe oral familiar e popular e de que há abonações literárias. Mais do que isso, Luft afirma que Antenor Nascentes, um dos mais importantes filólogos brasileiros, rastreia essa sintaxe nos clássicos (p.ex., Camilo Castelo Branco) e em línguas como o grego e latim e conclui que não há erro nenhum nas construções "preferir antes" e "preferir do que".
Portanto, estamos diante de um daqueles famosos casos em que o uso real (sobretudo na língua falada) desmente sobejamente as orientações normativistas, que quase sempre desconsideram pesquisas empíricas.
A língua está, há séculos, indo de encontro a muitas lições dos nossos instrumentos normativos.
Um jornalista perspicaz consegue se posicionar melhor sobre o assunto munido dessas informações. Ele prefere ouvir a falar .
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