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O que restou do ligeirinho que subiu na calçada e provocou a morte de duas pessoas na última quinta-feira, no Centro de Curitiba | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
O que restou do ligeirinho que subiu na calçada e provocou a morte de duas pessoas na última quinta-feira, no Centro de Curitiba| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Entrevista

Joice Malakoski, perita criminal.

A perita criminal Joice Malakoski, chefe da divisão técnica da capital, diz que em 98% dos casos os acidentes são causados por falha humana, incluindo a falta de manutenção dos veículos. A equipe de Joice está responsável pelo laudo do acidente com o ligeirinho que matou duas pessoas e feriu outras 32 na Praça Tiradentes. Um perito criminal e um engenheiro mecânico ficarão responsáveis pelo laudo, que deverá ficar pronto em 30 dias, no mínimo.

Como funciona a perícia?

Foi feita perícia do local e foi pedido para que o ônibus ficasse isolado para que fossem feitos exames complementares.

Leia a entrevista completa.

Mais sinalização e boa conduta no trânsito

O professor de Transportes da UFPR Eduardo Ratton defende que as melhorias no transporte coletivo devem começar pelo sistema viário. Na opinião dele, os acidentes dentro da cidade ocorrem, normalmente, em cruzamentos. Foi o caso da colisão entre um ligeirinho e um caminhão, em abril de 2009, que deixou 20 feridos no Centro Cívico. Segundo testemunhas, o motorista do caminhão furou o sinal e causou o acidente, mas houve relatos sobre falhas no semáforo. "Melhorar a sinalização nestes locais é um passo importante para evitar novas fatalidades", diz Ratton. O professor sugere um levantamento das linhas com maior índice de acidentes para tomar medidas preventivas.

O coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Positivo, Orlando Ribeiro, sugere colocar defensas nas beiradas das ruas de Curitiba, uma proteção de ferro fundido, que evitaria que os veículos chegassem às calçadas.

Apesar de sugestões diferentes, os dois especialistas concordam em um ponto: é fundamental que haja um conjunto de ações que mobilizem pedestres, motoristas e o poder público. Ribeiro propõe diminuir a velocidade dos veículos nas áreas de maior fluxo no Centro de Curi­­tiba. "Fora isso, é preciso mais treinamento dos motoristas e oferecer mais sinalização onde há mais risco", propõe.

  • De abril de 2009, a cena mostra o ligeirinho que bateu em um caminhão e deixou 20 feridos no Centro Cívico
  • Confira o número de ocorrências com o transporte coletivo

A tragédia provocada pelo ligeirinho da linha Colombo/CIC, que matou dois homens e deixou 32 pessoas feridas, na última quinta-feira, no Centro de Curitiba, acendeu um sinal de alerta sobre o transporte coletivo. De janeiro a maio, foram registrados 346 acidentes envolvendo ônibus ou micro-ônibus na capital, mais de duas ocorrências por dia (2,29, em média) – um aumento de quase 15% em relação ao mesmo período do ano passado. Em boa parte dos acidentes – 226 do total –, houve vítimas.

O excesso de velocidade dos ônibus e a imprudência de motoristas, pressionados pelo controle de horário, são normalmente citados por usuários como a principal causa dos acidentes. Mas no caso da tragédia de quinta-feira, o depoimento do condutor e o relato de testemunhas apontam para pane mecânica como a provável causa. Se foi problema técnico ou falha humana, só a perícia poderá concluir, o que deve ocorrer em um prazo de 30 dias.

Segundo a prefeitura, o ligeirinho envolvido no acidente de quinta-feira passou por uma vistoria no dia 22 de março. Assim como toda a frota do transporte coletivo de Curitiba, o carro foi fiscalizado e inspecionado de forma visual pelos técnicos da Urbanização de Curitiba (Urbs). O órgão não tem um equipamento chamado linha de inspeção, que faz testes automatizados em freios, suspensão e alinhamento do veículo. O equipamento daria, de acordo com o engenheiro mecânico da empresa MG Inspeção, Daniel Guimarães Ariede, mais confiabilidade nas avaliações mecânicas semestrais feitas no transporte público.

A linha de inspeção, incluindo o frenômetro (aparelho que testa os freios), custaria em torno de R$ 100 mil. "Por eles (técnicos da Urbs) fazerem uma inspeção visual, deixam a desejar", diz o engenheiro. Sem o equipamento, afirma Ariede, a prefeitura não tem condições de fazer avaliações precisas sobre a condição do veículo.

Como os coletivos rodam muitos quilômetros por dia (veja quadro ao lado), o desgaste das peças e componentes do veículo é alto. "Isso pode ocasionar acidentes", conta. Uma das soluções apontadas pelo engenheiro mecânico seria a Urbs diminuir o intervalo entre as vistorias, realizadas a cada seis meses. "Se fosse feita em menos tempo, diminuiria o risco também", afirma.

Segundo o engenheiro mecânico da empresa de inspeções Transtech, Paulo Cezar Gottlieb, a periodicidade dos testes é razoável. "Pelo que tenho visto, Curitiba tem uma situação privilegiada. Os ônibus têm boa conservação", opina.

Outro lado

A Urbs, por meio da assessoria de imprensa, informou que não tem o equipamento e que pretende adquiri-lo no futuro. Segundo a assessoria, apesar de não possuir o aparelho, o rigor e a eficiência da vistoria são excelentes.

O diretor executivo do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp), Ayrton Amaral Filho, confirma que a Urbs não tem a linha de inspeção. Entretanto, ele afirma que o órgão tem as melhores condições do Brasil e da América Latina para realizar as inspeções.

"Os ônibus são inspecionados pelas próprias empresas e a Urbs é muito profissional", defende. Segundo ele, as empresas não permitem que os ônibus saiam para a rua se houver qualquer suspeita de problema mecânico. "Eles colocam até um papel branco embaixo dos veículos. Se ocorrer apenas um pingo de óleo, o carro não sai. Há países em que a inspeção é feita uma vez por ano."

Passageiros

Segundo o professor de Transportes da Universidade Fe­­deral do Paraná (UFPR) Eduardo Ratton, as empresas de ônibus e a própria prefeitura de Curitiba devem assumir um papel mais ativo com relação à responsabilidade dos acidentes. "A prefeitura tem que dar atenção a isso. Ela é responsável pela segurança dos passageiros", afirma.

No acidente ocorrido na quinta-feira, ficou visível a fragilidade dos bancos nos ônibus, que ficaram totalmente danificados com o impacto. Segundo Ratton, a Urbs precisa reavaliar a segurança do passageiro. "Muitos ficam em pé. Há um risco muito grande."

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